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A Nokia continua sendo uma ótima fabricante de hardware. Mas é preciso mais do que isso para sobreviver

Como você já sabe, hoje a Nokia anunciou dois smartphones por aqui: o novo carro-chefe do Windows Phone, o Lumia 900, e o aparelho com a tecnologia mais chamativa deste ano, o PureView 808. Acompanhamos o lançamento e, além de brincar um pouco com cada um dos produtos, temos alguns comentários sobre o que a […]

Como você já sabe, hoje a Nokia anunciou dois smartphones por aqui: o novo carro-chefe do Windows Phone, o Lumia 900, e o aparelho com a tecnologia mais chamativa deste ano, o PureView 808. Acompanhamos o lançamento e, além de brincar um pouco com cada um dos produtos, temos alguns comentários sobre o que a Nokia tem feito nos últimos tempos e trazer novamente a discussão sobre o caminho que ela seguiu.

A apresentação da Nokia teve dois focos bem claros: design e câmeras. O primeiro tópico surge na apresentação do Lumia 900. A atenção dada ao design foi tão grande que Stefan Pannenbecker, vice-presidente global de design da Nokia, veio ao país contar suas histórias. Ele contou como se lembra de um dia nublado e horrível em Helsinque, quando um de seus funcionários disse que um dos protótipos estava pronto: tratava-se do N9, aquele filhote com Meego. Ele pode não ter feito sucesso, mas ele abriu o caminho para o surgimento de toda a família Lumia. Stefan diz que naquele dia ele sabia que algo de novo estava chegando.

E ele não está errado. O Lumia 900 é realmente um aparelho com design sensacional. Mesmo com uma telona de 4,3 polegadas, ele tem uma pegada, uma empunhadura que não passa a sensação de um trambolho. Ele é extremamente bem construído em uma peça de policarbonato e uma camada de vidro para a tela, simples assim. O aparelho realmente evoca quase todos os preceitos criados por Dieter Rams de “bom design”: bonito, prático e ao mesmo tempo durável.

O foco em câmera chega a ser óbvio: era de se esperar que tal habilidade fosse muito comentada no lançamento de um smartphone com câmera de 41 megapixels. Nós já explicamos detalhadamente como a tecnologia do PureView 808 funciona e continuamos com a mesma sensação de nosso hands-on: uma ótima câmera empacotada em um smartphone. A presença do Symbian ainda é um incômodo, mas faz algum sentido se pensarmos que o PureView vem sendo desenvolvido há cinco anos — quando a Nokia pensou “e se colocarmos a tecnologia dos satélites fotógrafos que criam imagens para o Nokia Mapas ou o Google Maps dentro de um smartphone?”.

Hoje mesmo a empresa confirmou a compra da Scalado, uma ótima empresa focada em fotografia e que, segundo os finlandeses, será usada para desenvolvimento de novas tecnologias para “os próximos segredos” — e por isso entendemos “novos aparelhos com Windows Phone e uma câmera absurdamente monstruosa”. Porque pagar dois mil reais por um aparelho que é mais uma prova de conceito do que um ótimo aparelho é quase impraticável no Brasil.

A Nokia fez questão de lembrar seu bom histórico em design e câmeras, para podermos lembrar do guerreiro N95. E aqui parece que mora a verdadeira questão da Nokia: ela continua sendo uma frabricante de hardware. E uma ótima fabricante de hardware. Veja bem, ela conseguiu criar uma linha de aparelhos (Lumia) com um design animal e que, mesmo dependendo do formato-barra-de-chocolate-com-tela-enorme, é diferente da concorrência. E também criou a tecnologia de hardware mais empolgante do ano — quem imaginou que uma câmera tão detalhada e poderosa pudesse caber dentro de um smartphone, ao custo de um calombo em suas costas?

O problema é que só pensar em hardware não irá salvar a Nokia. Não salvou de mais um trimestre com números ruins. Na verdade, só pensar em hardware foi um dos erros da década perdida da Nokia.

Nós ficamos bem empolgados quando a Nokia decidiu se mexer e fechou uma parceria gigantesca com a Microsoft para usar o Windows Phone em seus aparelhos. Parecia o casamento ideal: um sistema com grande potencial precisando de apoio das fabricantes se envolve com uma das maiores fabricantes de hardware, mas que precisava respirar novos ares. Surgiram os primeiros aparelhos mas, apesar da empolgação, eles chegaram com atraso, e o Windows Phone continua comendo poeira dos concorrentes.

Aqui a questão não é se o Lumia 900 será atualizado para Windows Phone 8. A Nokia sabe e nós sabemos que apenas uma parcela menor de usuários se preocupa com isso — e boa parte desses usuários estão aqui, lendo este texto. Você provavelmente não terá interesse no Lumia 900 por achar que daqui a seis meses novos aparelhos com Windows Phone 8 serão lançados, mas para o usuário comum, o usuário que já usa smartphones todos os dias, usa apps e internet em qualquer lugar, o que importa é a praticidade.

Praticidade o Windows Phone tem. Mas isso ainda é pouco para colocá-lo no páreo contra o Android e o iOS. Os dois também oferecem praticidade de sobra, e a Microsoft terá que fazer movimentos mais ousados para enfrentá-los. Não é só o Windows Phone como sistema operacional que precisa evoluir. Ser o único sistema que tenha um hardware com câmera de 41 Megapixels pode ser animal, mas é preciso mais. A sinergia entre Windows Phone, Windows e videogames, por exemplo, é um caminho interessante.

A Nokia confia de olhos fechados no Windows Phone não só por acreditar na plataforma, mas por ter também uma contrapartida financeira enorme da Microsoft. Mas os finlandeses precisam ficar com pelo menos um dos olhos entreabertos acompanhando o futuro do Windows Phone. Apesar de belo, ele encontra dificuldades para emplacar. E a Nokia não pode mais ficar para trás de forma tão paradoxal: fabricando alguns dos melhores aparelhos do mercado, mas que não atraem o público quando suas brilhantes telas são ligadas.

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