A queda lenta e dolorosa da Sony: uma história, três motivos

Nós amamos a Sony, mesmo que seus produtos às vezes sejam caros demais, pouco práticos ou simplesmente desnecessários. A empresa experimenta e testa ideias, e tem alguns dos melhores engenheiros para transformá-las em realidade. Mas como aponta o perfil da Businessweek sobre a Sony, isto nem sempre é bom para a saúde da empresa no […]

Nós amamos a Sony, mesmo que seus produtos às vezes sejam caros demais, pouco práticos ou simplesmente desnecessários. A empresa experimenta e testa ideias, e tem alguns dos melhores engenheiros para transformá-las em realidade. Mas como aponta o perfil da Businessweek sobre a Sony, isto nem sempre é bom para a saúde da empresa no longo prazo. Eis os três motivos que impedem a Sony de se recuperar.

Basicamente, o perfil é uma recapitulação muito bem resumida da história da Sony guiada por engenheiros, sua consequente queda, e a tentativa quase fracassada de Sir Howard Stringer em renovar a empresa. Quando Stringer assumiu como CEO em 2005, era para ele salvar o gigante de eletrônicos em apuros. Em vez disso, como mostra a Businessweek, ele encontrou apenas resistência e apatia, percebendo que ele não tinha tanto controle quanto ele gostaria sobre a divisão de eletrônicos – a parte da Sony mais voltada para consumidores.

Há três passagens que mostram com clareza os problemas organizacionais estúpidos que nada fizeram além de cancelar as conquistas em hardware. Em primeiro lugar, a Sony é grande demais, e isso é um problema:

A Sony vem tentando se adaptar à Era da Internet há pelo menos uma década, mas ainda permanece como uma fabricante gigantesca e de difícil controle, com 168.200 funcionários, 41 fábricas, e mais de 2.000 produtos – de fones de ouvido a impressoras médicas a equipamento de produção para filmes 3D com nível de Hollywood. Jeff Loff, analista sênior da Macquarie Capital Securities em Tóquio, lembra que a Sony vende nove modelos diferentes de TV 46″ nos EUA, e sua joint-venture com a Ericsson oferece mais de 40 celulares. “Dá pra imaginar como isso dilui sua pesquisa e desenvolvimento?” , diz ele. Um porta-voz da Sony diz que o número de celulares está sendo reduzido, e nota que a Samsung tem 15 tipos diferentes de TV com 46″.

O segundo problema decorre do primeiro: os funcionários e chefes da Sony não se importam muito com os produtos de fora de suas próprias divisões.

Nenhum produto persegue mais a Sony que o iPod da Apple. Antes de a Apple anunciá-lo em 2001, seguido da iTunes Music Store em 2003, a Sony estava trabalhando com outras empresas para criar dispositivos que iriam baixar músicas, diz Stringer. “Steve Jobs teve a sacada, nós tivemos a sacada, nós não executamos. Os caras de música não queriam ver o CD ir embora.” Em sua biografia de Jobs, Walter Isaacson escreve que a Sony tinha “todos os recursos”, incluindo uma gravadora, para criar seu próprio iPod. “Por que eles fracassaram?”, escreve ele. “Em parte porque eles eram uma empresa… organizada em divisões (a própria palavra traz mau agouro) com seus próprios lucros; o objetivo de criar sinergia nessas empresas, ao estimular as divisões a funcionarem juntas, era em geral difícil de alcançar.”

 

E o terceiro problema é que as legiões de engenheiros da Sony ainda não aceitaram a realidade de que software e conteúdo hoje são tão importantes quanto – ou até mais que – o próprio hardware.

Stringer também encontrou uma cultura de adoração ao hardware que desconfiou dele, já que ele não era um engenheiro. Ele era um “cara de conteúdo” que supostamente se importava menos em fazer dispositivos que em estimular filmes e música. “Sempre que eu mencionava conteúdo”, diz ele, “as pessoas reagiam com desdém porque ‘Esta é uma empresa de eletrônicos, e conteúdo é secundário’ “. Isso resultou em parte de rivalidades de longo tempo entre engenheiros no Japão e funcionários de música e filme, geralmente mais bem-pagos, na Califórnia. A unidade de eletrônicos para consumidor da Sony se recusou a enviar produtos para serem usados em filmes da Sony, mesmo quando a Samsung estava chamando a atenção por colocar celulares em filmes de sucesso como Matrix.

E a que leva toda essa incoerência? A um fato bizarro dentro da Sony: o negócio mais lucrativo dela é vender seguro de vida. Sério. Vale a pena ler o restante da reportagem (em inglês), cheia de bastidores da empresa e fatos interessantes contados por Howard Stringer: [Businessweek]

Foto por Rosa Pomar/Flickr

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