
Acabou a polêmica? Pegadas de 23 mil anos são confirmadas na América
Em um estudo publicado na última semana, cientistas afirmam que as pegadas do Parque Nacional White Sands, no Novo México, têm cerca de 23 mil anos.
Como publicamos aqui no Giz em março, a confirmação da datação pode mudar a história da humanidade ao determinar que os humanos chegaram à América do Norte 10 mil anos antes do que se acreditava.
Contudo, a “confirmação” adiciona mais peso à polêmica, que rende debates desde 2021. Naquele ano, cientistas descobriram as pegadas e estimaram a idade entre 21 e 23 mil anos. Problemas com as análises por radiocarbono geraram ceticismo na comunidade científica e pesquisadores da Universidade de Utah, também nos EUA, refutaram a hipótese.
Desde então, o vai e vem sobre datação sobre a migração humana à América do Norte rendeu outros estudos. Também publicamos aqui no Giz, em fevereiro deste ano, sobre evidências do veículo mais antigo da história.
Curiosamente, quem identificou os rastros de uma espécie de carrinho de mão, com cerca de 22 mil anos, foi Matthew Bennett, da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido.
Bennett foi o principal autor do estudo de 2021 que sugere a datação de 23 mil anos das pegadas e, portanto, a presença de humanos na América do Norte durante o Último Máximo Glacial.
E o novo estudo que diz confirmar a datação de 23 mil anos das pegadas humanas, talvez, não seja tão novo assim.
“Críticos passaram os quatro últimos anos questionando as descobertas de 2021, argumentando que as sementes antigas e o pólen no solo, usados como marcadores para datação das pegadas, não eram confiáveis”, afirma o comunicado da Universidade do Arizona sobre o estudo que confirmou a datação.
Vance Holliday é o principal autor do estudo e a confirmação da teoria refutada pode ter conexões mais profundas.
Os cientistas britânicos publicaram o estudo de 2021 usando dados de pesquisa de Holliday, que desde 2012 trabalha em projetos arqueológicos no parque. Com isso, o norte-americano foi coautor do estudo, apesar de não participar das escavações.
A matéria que publicamos aqui no Giz em março menciona que, em 2023, a mesma equipe do Reino Unido publicou um estudo confirmando a datação. Contudo, a comunidade se manteve cética e as críticas foram ainda maiores.
Leia mais: Pegadas nos EUA desafiam teoria da vinda de humanos para América
Agora, os arqueólogos norte-americanos usaram datação por radiocarbono em sedimentos orgânicos extraídos de núcleos de rochas perfurados no parque.
Os métodos anteriores realizavam as análises em plantas aquáticas, levantando dúvidas sobre a contaminação da fonte de carbono.
Para evitar que o mesmo ocorresse, o novo estudo realizou a datação dos sedimentos orgânicos com base nos sistemas hidroviários paleolíticos ao redor das pegadas.
O resultado, segundo Holliday, foi previsível, correspondendo aos dados do estudo de 2021, indicando que as pegadas têm cerca de 23 mil anos. Além disso, o arqueólogo ressalta que, agora, a equipe tem uma visão mais completa do cenário antigo da América do Norte.
Mas, mesmo assim, a comunidade continua cética, como Michael Waters, diretor do Centro de Estudos dos Nativos Americanos da Universidade do Texas A&M. Waters argumenta que os novos materiais usados para datação não são livres de contaminação por carbono.
Além disso, a falta de artefatos no local das pegadas, bem como assentamentos do mesmo período, dificultam o caminho para confirmar se a humanidade chegou à América do Norte há 23 mil anos.
Holliday reconhece este questionamento, mas sugere que a ausência de artefatos é consistente ao se tratar do comportamento de caçadores-coletores. O cientista enfatiza que, mesmo confiante com os resultados do estudo de 2021, a nova pesquisa foi empolgante ao fornecer nos dados, mas o debate está longe de chegar ao fim.