Águias estão se contaminando com veneno de rato mesmo sem se alimentar desses roedores

O estudo busca identificar como estes animais de diferentes estados americanos estão consumindo os venenos.
O rosto de um pássaro irritado com o rodenticida. Foto: David Zalubowski (AP)

As águias são criaturas majestosas, lindas e cheias de toxinas que despejamos no meio ambiente. Um novo estudo descobriu que 82% das águias mortas examinadas entre 2014 e 2018 tinham níveis detectáveis ​​de veneno de rato em seus sistemas.

O estudo foi publicado nesta quarta-feira (7) na PLOS One. Ele foi possível porque as populações de águias estão realmente se recuperando nos Estados Unidos. As 303 aves examinadas no estudo, uma mistura de águias carecas e águias douradas, foram coletadas por órgãos estaduais e federais que fazem parte do Southeastern Cooperative Wildlife Disease Study, um projeto da Universidade da Geórgia que analisa carcaças de animais selvagens de todo o país em busca de doenças e outros problemas.

“Quando você tem populações aumentando, é claro que alguns vão ter problemas, e é assim que eles vêm parar no nosso local de trabalho”, disse Mark Ruder, professor assistente do College of Veterinary Medicine da Universidade da Geórgia e coautor do estudo.

Ruder e sua equipe viram uma oportunidade no aumento do número de amostras. “Tem havido muita atenção sobre esse tipo de raticida em outras espécies de aves de rapina, como corujas e falcões, mas nenhum especificamente para águias”, disse ele. “Sabíamos que rodenticidas anticoagulantes eram um problema, então pensamos que valeria a pena uma investigação.”

O estudo examinou as carcaças de águias em busca de evidências do que é conhecido como rodenticida anticoagulante de segunda geração, uma solução de alta resistência para pragas que atua como diluidora do sangue e eventualmente mata o animal. Antes da década de 1970, os rodenticidas anticoagulantes funcionavam bem menos do que os exterminadores atuais. Em muitos casos, os roedores teriam que comer muito mais do veneno durante vários dias para que surtisse algum efeito.

Assim, os fabricantes começaram a fortalecer seus produtos e introduziram uma segunda geração do veneno, que poderia matar ratos e camundongos de forma mais rápida. Esta versão do rodenticida, no entanto, é “mais pegajosa”, explicou Ruder. Isso significa que ela permanece nos corpos dos animais e por consequência pode entrar nos corpos de predadores que se alimentam destes animais envenenados.

“O problema está na capacidade do veneno de permanecer nesses tecidos por muito tempo”, disse Ruder. “Por serem predadores e necrófagos eficientes, as águias correm mais risco de acumular essa toxina em seu sistema basicamente por serem águias — pelo consumo dos animais mortos que estão com o conteúdo venenoso em seu organismo.”

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Embora 82% das criaturas no estudo tivessem quantidades mensuráveis ​​do veneno em seus corpos, é importante notar que o rodenticida anticoagulante foi determinado como a causa da morte para apenas 4% da amostra de águias examinadas. O artigo afirma que o número de mortalidade pode estar subestimado, especialmente porque cerca da metade das águias na amostragem morreram por traumas como tiros, acidentes de carro ou eletrocussão.

Mas o fato de que uma proporção tão alta de animais tinha vestígios de rodenticida foi realmente “surpreendente e preocupante”, disse Ruder. Por causa do perigo que representa para outros animais, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos EUA restringiu a venda de rodenticida anticoagulante apenas para mercados comerciais e controles profissionais de pragas. “Se você for a uma loja de ferragens, não pode comprar esta substância à toa”, disse Ruder.

Este controle teve alguns efeitos consideráveis: Ruder disse que um estudo com corujas-das-torres no Kentucky, estado da região sudeste dos EUA, descobriu que o nível de exposição das aves ao rodenticida anticoagulante diminuiu depois que a EPA restringiu o uso do pesticida. As águias, no entanto, geralmente não atacam diretamente os alvos principais do raticida da mesma maneira que outras aves de rapina fazem, o que sugere que a toxina entrou em seus corpos por outros caminhos.

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“Não é muito comum olhar pela janela e ver uma águia careca caçando um rato, ou coisa do tipo”, disse Ruder. “Essas são teias alimentares — tudo está conectado — e as águias provavelmente estão ficando expostas a esses compostos por meio da ingestão de presas muito mais naturais que, por sua vez, comeram outra coisa para serem expostas.”

E essa infecção da teia alimentar, sugere o estudo, é um problema generalizado para a vida selvagem em todo o país. As águias vieram de 18 agências de manejo da vida selvagem de diferentes regiões, sem diferença nos níveis de raticida entre os estados.

“Muitos reconhecem que esses rodenticidas anticoagulantes de segunda geração têm o potencial de se estender além de sua população de espécies de roedores de pragas, e este estudo certamente reforçará esse entendimento”, disse Ruder. “Apesar dos esforços atuais de gestão e políticas públicas para mitigar esse risco para a vida selvagem, ainda parece que estamos tendo um pouco de exposição não-alvo e intoxicação em espécies não-alvo. Precisamos continuar examinando quais caminhos de exposição são para a vida selvagem e descobrir como reduzir esse risco.”

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