Traços da doença de Alzheimer são encontrados em animais selvagens pela primeira vez

Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu sinais reveladores da doença de Alzheimer em golfinhos, marcando a primeira vez que o distúrbio relacionado à idade foi detectado em um animal selvagem. • Cães fazem expressões faciais, mas só quando têm plateia • Escorpiões podem adaptar o próprio veneno dependendo da ameaça Até muito recentemente, cientistas achavam que apenas […]

Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu sinais reveladores da doença de Alzheimer em golfinhos, marcando a primeira vez que o distúrbio relacionado à idade foi detectado em um animal selvagem.

• Cães fazem expressões faciais, mas só quando têm plateia
• Escorpiões podem adaptar o próprio veneno dependendo da ameaça

Até muito recentemente, cientistas achavam que apenas humanos estavam sujeitos à doença de Alzheimer. Isso mudou em agosto deste ano, quando pesquisadores da Universidade de Kent, nos Estados Unidos, detectaram traços da doença em chimpanzés, ou pelo menos nos cérebros de chimpanzés que morreram de causas naturais em zoológicos e centros de pesquisa. Agora, um novo estudo publicado na Alzheimer’s & Dementia é o primeiro a encontrar dois marcadores chave da doença — placas e emaranhados de proteína — em um animal selvagem, especificamente golfinhos. Essa descoberta mais recente é mais uma evidência de que o Alzheimer não é uma doença específica de humanos e que outros animais podem ser usados para estudar a temida enfermidade.

Maioria dos animais morre pouco tempo depois do fim de seus anos férteis, mas golfinhos e orcas, assim como os humanos, tendem a viver depois de seus anos reprodutivos (fato curioso: orcas fêmeas têm menopausa). Isso fez com que o cientista da Universidade de Oxford Simon Lovestone imaginasse: seriam os golfinhos, como resultado de suas vidas longas, suscetíveis a doenças neurológicas ligadas à idade, como a de Alzheimer? Para descobrir, ele e seus colegas estudaram os cérebros de golfinhos que haviam morrido naturalmente na natureza e cujos corpos haviam sido levados para a praia pelas ondas no litoral da Espanha.

Os pesquisadores encontraram placas de uma proteína chamada beta-amiloide, junto com os emaranhados de uma outra proteína chamada tau. Juntas, essas proteínas são as provas irrefutáveis da doença de Alzheimer em humanos. Em cérebros saudáveis, a beta-amiloide se decompõe e desaparece, mas em pessoas com Alzheimer, ela permanece, resultando na formação de placas entre os neurônios. Essas placas subsequentemente colocam outro processo em movimento, em que a tau forma emaranhados que desestabilizam células cerebrais. Juntas, essas duas rupturas neurológicas produzem demência.

Importante apontar, esse estudo não nos conta como os golfinhos podem ter sido afetados por sua versão específica da doença ou se eles sofrem de qualquer confusão ou perda de memória associadas. Não saberemos até que façamos testes comportamentais em golfinhos mantidos em cativeiro, algo que os pesquisadores não defendem.

Dito isso, a descoberta aponta para potenciais causas para a doença, com a função de insulina alterada sendo um denominador comum. A insulina regula os níveis de açúcar no sangue, desencadeando uma cascata química complexa conhecida como sinalização de insulina. Mudanças na sinalização de insulina podem causar diabetes em humanos e outros mamíferos. Ao mesmo tempo, no entanto, a restrição calórica extrema também afeta a sinalização de insulina, estendendo a vida de certos animais em quantidades significativas. Em alguns animais, como moscas de fruta e ratos, a restrição calórica pode estender suas vidas em até três vezes.

“Pensamos que, em humanos, a sinalização de insulina evoluiu para funcionar de maneira parecida com aquela produzida artificialmente ao se dar pouquíssimas calorias a um rato”, disse Lovestone em um comunicado. “Isso tem o efeito de prolongar a duração da vida além dos anos férteis, mas também nos deixa abertos ao diabetes e à doença de Alzheimer.”

Anteriormente, cientistas haviam mostrado que a resistência à insulina prevê o desenvolvimento da doença de Alzheimer em humanos, e pessoas com diabetes são mais propensas a desenvolver a condição.

“Mas nosso estudo sugere que golfinhos e orcas (que também têm uma longa vida depois da fertilidade) são parecidos com humanos em várias coisas; eles têm um sistema de sinalização de insulina que os torna um modelo interessante de diabetes, e agora mostramos que os cérebros de golfinhos apresentam sinais de Alzheimer idênticos àqueles vistos em pessoas”, disse Lovestone.

Então, embora seja bem chato que os golfinhos estejam sujeitos ao Alzheimer, a boa notícia é que agora nós temos um “modelo” perfeito para a doença. Análises comparativas futuras de cérebros de golfinhos e humanos com Alzheimer vão revelar os vários fatores responsáveis pela doença, o que, esperamos, levará a novos tratamentos.

[Alzheimer’s & Dementia]

Imagem do tempo: University of Oxford

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