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Isso é muito Black Mirror: Amazon cria videogame para tornar o trabalho em seus armazéns menos chato

Amazon cria jogos que premiam funcionários de acordo com a velocidade com que concluem suas tarefas, o que tem incentivado a competitividade nos armazéns.

Caixas da Amazon empilhadas durante protesto em Long Island City

Caixas da Amazon empilhadas durante protesto contra a empresa em Nova York em 2018. Crédito: Getty

A Amazon está atualmente testando um programa piloto que transforma o trabalho nos armazéns em um tipo de videogame. Segundo a empresa, o objetivo é quebrar a monotonia das tarefas diárias, mas parece que a brincadeira virou uma competição entre os funcionários.

O Washington Post apresentou alguns detalhes sobre esses jogos neste semana. Segundo o texto, a iniciativa foi implementada em cinco armazéns da Amazon após o programa ter sido lançado em um único local em 2017. Resumidamente, os jogos premiam os funcionários pela velocidade que eles conseguem completar suas tarefas.

Os nomes dos jogos são MissionRacer, PickInSpace, CastleCrafter e Dragon Duel. Uma imagem do jogo do dragão foi compartilhada na terça-feira pela Fast Company, que relatou que os funcionários podem optar por jogar sozinhos ou competir com seus colegas. Um porta-voz da Amazon disse ao Gizmodo que os trabalhadores podem optar por participar ou não.

O Washington Post afirmou que esses jogos – instalados em telas das estações de trabalho em que os robôs da Amazon entregam os itens a serem separados – premiam os funcionários “com pontos, medalhas virtuais, e outros prêmios durante o período de trabalho”. Em pelo menos um dos depósitos, as recompensas também incluem uma moeda interna chamada “Swag Bucks”, que pode ser trocada por produtos da marca Amazon.


Tradução: Se você ficou curioso, a Fast Company tem um screenshot de um dos jogos do armazém da Amazon, sobre o qual falei hoje

De acordo com a Fast Company, no jogo do dragão, os jogadores “recebem 16 pontos para cada produto que eles coletam” e eles podem visualizar sua posição no ranking, embora a empresa tenha afirmado ao Gizmodo que o painel de pontuação mostra os participantes de forma anônima.

“’Gamification’ é o nosso grande foco para tornar o trabalho mais interessante”, tuitou Dave Clark, SVP de Operações Globais da Amazon, na terça-feira. “Nós temos uma variedade de jogos que são de múltiplos jogadores ou individuais. O objetivo é simples – transformar algo entediante em algo mais interessante e, assim esperamos, divertido”.

A empresa negou fortemente que o objetivo dos jogos é aumentar a produtividade ou criar desavenças entre os funcionários – mesmo que o design e incentivos, como prêmios e pontos, causem isso – insistindo que a ideia é tornar o ambiente monótono dos armazéns mais “divertido”, engajador e colaborativo.

Queira a empresa reconhecer essa iniciativa estilo Black Mirror como uma forma de aumentar a produtividade ou não, parece que é esse o resultado que ela está obtendo. Uma funcionária declarou ao The Washington Post, anonimamente, que ela coletou quase 500 itens das prateleiras robotizadas da Amazon em uma hora, enquanto que o padrão em alguns centros terceirizados é de 400, uma velocidade de um item a cada sete segundos. A entrevistada também afirmou que o jogo criou um ambiente competitivo entre os funcionários do local em que trabalha, mas também reconhece que tornou o trabalho menos monótono.

Embora o programa piloto já esteja funcionando há um tempo, as informações sobre a sua utilização nas instalações da Amazon seguem a notícia de que a empresa está mudando o seu padrão de entrega para clientes Prime de dois dias para um. A companhia evitou questionamentos sobre como o jogo pode, com o tempo, influenciar o padrão de produtividade dos funcionários, algo que a Amazon já monitora rigorosamente. Um porta-voz da empresa disse em comunicado, no entanto, que a Amazon tem “expectativas de desempenho para cada colaborador e medimos o desempenho com base nessas expectativas”.

“O desempenho dos colaboradores é medida e avaliada durante um longo período, pois sabemos que uma variedade de questões pode impactar a sua capacidade de entrega em uma determinada hora ou dia”, afirmou o porta-voz. “Nós apoiamos as pessoas que não atingem os níveis de performance esperados com treinamentos para ajudá-las a melhorar”.

Se uma empresa quer sugar seus funcionários com o máximo de trabalho que puder atribuir a eles pelo mesmo mísero salário, transformar o ambiente de trabalho em um grande videogame parece ser uma forma muito criativa, senão eticamente questionável, de fazê-lo. Enquanto isso, o CEO da empresa, Jeff Bezos, que recentemente anunciou um divórcio caríssimo, mantém sua posição de homem mais rico do mundo.

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