Cientista forense diz ter resolvido mistério de desaparecimento de pioneira da aviação

A pioneira da aviação Amelia Earhart desapereceu sobrevoando o Oceano Pacífico em 1937 e desde então há um mistério sobre o seu destino. Uma reexaminação de uma análise forense realizada em 1941 mostra que os ossos encontrados em uma ilha remota no sul do Pacífico pertencia a Earhart. • Voo desaparecido da Malaysia Airlines inspira […]

A pioneira da aviação Amelia Earhart desapereceu sobrevoando o Oceano Pacífico em 1937 e desde então há um mistério sobre o seu destino. Uma reexaminação de uma análise forense realizada em 1941 mostra que os ossos encontrados em uma ilha remota no sul do Pacífico pertencia a Earhart.

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A conclusão foi realizada afirmando que a ossada bate 99% com as medidas da pilota. Por outro lado, alguns céticos afirmam que a nova análise não prova muita coisa.

Para recapitular rapidamente, Earhart foi a primeira pilota a voar sozinha cruzando o Atlântico, mas desapareceu misteriosamente em 1937 ao sobrevoar o Pacífico junto com seu navegador, Fred Noonan. Surgiram especulações de que seu avião havia batido contra a água ou que a dupla teria ficado encalhada em uma ilha, mas não haviam provas.

Richard L. Jantz, um antropólogo forense da Universidade do Tennessee em Knoxville, acredita que Earhart ficou ilhada, e ele diz ter os ossos para provar isso – ou, pelo menos, uma análise forense da ossada descoberta na ilha Nikumaroro, em 1940. Veja, os “Ossos de Nikumaroro”, como são chamados, não existem mais. Eles se foram. Desapareceram.

Antes antes disso, a ossada foi analisada em 1941 foi um médico chamado D. W. Hoodless, que concluiu que os restos mortais – consistindo de um crânio, mandíbula inferior (sem dentes), meia pelve e vários ossos do braço e perna – pertencia a um homem baixo de meia idade, e não a Amelia Earhart. [Um relato detalhado sobre a descoberta e examinação dos Ossos de Nikumaroro podem ser lidos neste artigo da Forbes, de 2016]

O estudo

O novo estudo antropológico forense de Jantz, entitulado “Amelia Earhart e os Ossos de Nikumaroro: uma análise de 1941 versus Técnicas Quantitativas Modernas“, questiona, como o próprio nome sugere, as técnicas antigas utilizadas e reexamina os dados com as técnicas mais modernas que a ciência oferece.

“A antropologia forense não era bem desenvolvida no começo do século 20”, escreve Jantz em seu novo artigo. “Existem muitos exemplos de avaliação equivocadas de antropólogos do período. Podemos concordar que Hoodless pode ter realizado a maior parte das análises que ele era capaz na época, mas isso não significa que sua análise estava correta”.

Entre as diversas “técnicas quantitativas modernas” utilizadas na nova análise, Jantz usou um software chamado Fordisc, que ele mesmo codesenvolveu. Fordisc, que é utilizado por cientistas forenses ao redor do mundo, usa “métodos estatísticos para estimar sexo, ancestralidade, e estatura a partir das medidas dos esqueletos“.

A análise atualizada “revela que Earhart é mais similar aos Ossos de Nikumaroro do que 99% dos que dos indivíduos com uma ampla amostragem de referência”, escreve Jantz. “Isso corrobora fortemente a conclusão de que os Ossos de Nikumaroro pertenciam a “Amelia Earhart”.

Além disso, Jantz comparou as medidas dos ossos com o que é conhecido a respeito das proporções físicas de Earhart. Por exemplo, as medidas de seu úmero e antebraço foram estimados a partir de fotos antigas da pilota, o comprimento da perna e circunferência da cintura foram estimados a partir da medida de um par de calças de Earhart mantidas na Universidade de Perdue.

“O fato é que, se os ossos são do homem magro, ele teria medidas ósseas muito similares a de Amelia Earhart, o que é um evento de baixa probabilidade”, concluiu Jantz no estudo. “Até que a evidências definitivas sejam apresentadas de que os restos mortais não pertencem a Amelia Earhart, o argumento mais convincente é que a ossada é realmente dela”.

Não é suficiente dizer que os restos mortais pertenciam a um homem magro sem especificar quem possa ter sido esse homem, diz ele. “Nos foi apresentado uma hipótese não testada, sem mencionar a configuração não rigorosa sobre as informações anteriores sobre a presença de Earhart”, escreve. Essas “informaçÕes anteriores” incluem um pedaço de um sapato encontrado perto dos restos mortais, junto com uma caixa de sextante e uma garrafa de Bénédictine, itens que poderiam estar entre os suprimentos de Earhart.

Fotos como esta, onde o braço direito de Amelia Earhart está estendido por completo, permitiu que Jantz determinasse onde certos ossos estavam localizados (como indicado pelos pontos pretos), assim ele conseguiu estimar o tamanho. Foto: Purdue Special Collections, Amelia Earhart Papers, George Putnam Collection/Jantz 2018.

“Trabalhei com Dr. Jantz por três anos o ajudando a reunir os dados para o seu estudo, então eu não estou surpreso com os resultados – embora a certeza de 99% de que sejam os restos de Amelia seja uma surpresa agradável”, disse Ric Gillespie, diretor executivo da TIGHAR, ao Gizmodo.

Ele diz que o estudo é a “cereja do bolo” que o seu time estava preparando pelos últimos 30 anos. Gillespie e seus colegas vem explorando a ilha Nikumaroro em busca de evidências que finalmente prove que Earhart naufragou lá. “Múltiplas linhas de evidências científicas – análise de propagação de rádio, análise forense de fotos históricas, documentos de arquivos esquecidos, descobertas arqueológicas, tudo aponta para a mesma conclusão”, disse ele.

Controvérsia

Kristina Killgrove, uma antropóloga bióloga, não está tão certa sobre a nova interpretação. “Com base nos dados disponíveis, Jantz nota que ele não pode excluir Earhart como correspondente aos dados da medida dos Ossos de Nikumaroro”, disse ela ao Gizmodo. “Isso não significa, é claro, que os ossos são dela, embora ele pareça estar convicto por se basear em estatísticas”.

O novo estudo não resolve o mistério, diz Killgrove, porque ninguém sabe onde os ossos reais estão. Ela aponta essa passagem reveladora do novo estudo de Jantz:

Se o esqueleto estivesse disponível, seria presumivelmente uma tarefa direta para se realizar uma identificação positiva ou uma exclusão definitiva. Infelizmente, tudo o que temos são parcos dados do relatório de Hoodless e o registro pré-histórico obtido de fotografias e roupas. A partir das informações disponíveis, podemos pelo menos oferecer uma avaliação sobre como a ossada se encaixa naquilo que podemos reconstruir de Amelia Earhart. Como as reconstruções são agora quantitativas, as probabilidades também podem ser estimadas.

Sem um esqueleto disponível, argumenta Killgrove, o mistério nunca será completamente resolvido.

“O que eu gostaria que as pessoas soubessem sobre esse estudo é que ele não confirma que os restos mortais eram dela – e que, na verdade, não existem mais restos”, disse ela ao Gizmodo. “Jantz determinou estatisticamente que a melhor explicação para os dados de medidas é que eles se encaixam com o perfil de Earhart. Mas ele também nota que a conclusão é impossível de ser testada por quaisquer outras hipóteses. A hipótese de que os ossos são de Earhart não pode ser rejeitada – mas também não há alternativas que possam ser testadas”.

De fato, muito da análise de Jantz parece circunstancial e sem acesso os Ossos de Nikumaroro nunca poderemos ter 100% de certeza de que eles pertenciam a aviadora. Além disso, a análise do cientistas é rigorosamente dependente dos “parcos” dados de Hoodless – que Jantz utilizou para invalidar a avaliação de Hoodless e reforçar sua própria teoria. Certamente, os ossos podem pertencer a Earhart, mas o mistério está longe de ser resolvido.

[Forensic Anthropology]

Amelia Earhart em 1936. Foto: Harris & Ewing/US Library of Congress/Wikimedia

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