_Jogos

As influências de jogos ocidentais que fazem de Final Fantasy XV um bom RPG

Após dez anos de espera, a Square Enix finalmente lançou o Final Fantasy XV, um bom RPG com influências de seus antecessores ocidentais.

por Bruno Izidro

Final Fantasy XV está entre nós. O tão esperado RPG da Square Enix finalmente chegou para PS4 e Xbox One após anos de desenvolvimento e muitas complicações. A primeira vez que ficamos sabendo do jogo foi em 2006, quando ele foi anunciado com o nome de Final Fantasy Versus XIII, um projeto paralelo ao jogo principal.

Para vocês terem uma ideia do quanto isso faz tempo, o iPhone ainda nem existia na época e, naquele mesmo ano, o Google comprou o site de vídeos que tinha acabado de virar sensação, um tal de YouTube.

De animes aos jogos mobile: entendendo o universo de Final Fantasy XV antes de jogá-lo
Dead Rising 4: as selfies de Frank West são melhores que as suas

Nessa uma década entre o anúncio até o lançamento de fato, Versus XIII ficou um bom tempo sem dar sinal de vida, só com alguns trailers aparecendo de forma esporádica. Em 2013, quando ninguém mais botava muita fé de que o jogo sairia, a Square Enix anunciou que ele agora era o próximo capítulo principal da série, mudando o nome para Final Fantasy XV.

Relembrar essa trajetória é importante porque o próprio gênero de RPG passou por muitas mudanças desde então. É só lembrar que 2006 também foi o ano do lançamento de The Elder Scrolls IV: Oblivion, que chegava pela primeira vez aos recém lançados Xbox 360 e PS3. Enquanto o desenvolvimento de Versus XIII não conseguia se acertar e Final Fantasy XIII deixava bastante a desejar, jogos como Mass Effect, Dragon Age, Fallout e, principalmente, Skyrim surgiram para tomar o tempo e a atenção dos jogadores. Final Fantasy já não tinha mais a importância de antes.

O paralelo com a popularização dos RPGs ocidentais também é essencial para entender Final Fantasy XV, porque fica claro, logo nas primeiras horas de jogo, que muito do que ele se tornou é resultado da influência e impacto dessas outras séries.

Até onde a vista alcança

Final Fantasy XV abraça a ideia de um mundo aberto e de livre exploração que é tão comum em jogos como Fallout e Skyrim. O abraço é tão apertado que essa estrutura de jogo acaba sendo o pilar de muitas das boas experiências que ele proporciona, como se estivesse agarrado a ela para dar certo.

O jogo acontece em sua maior parte em três regiões que formam o reino de Lucis, lar do protagonista Noctis, que está em viagem para se casar e selar um acordo de paz com o Império de Nilfheim. Porém, essa premissa acaba sendo só uma desculpa para o real objetivo de explorar aquelas terras e descobrir seus segredos. Até porque Final Fantasy XV acaba se sustentando mais pelas mecânicas do que pela história, que parece ter sofrido com as metamorfoses que o jogo passou durante os anos, resultando em uma trama mal desenvolvida e confusa.

Pelo menos, o mundo que foi criado para o jogo é, sim, interessante e ele é tão vasto que atravessar o mapa a pé demoraria horas. Por isso o uso de um carro, o Regalia, é tão essencial. Mesmo com ele, ir de um extremo ao outro pode durar mais que dez minutos. Pelo menos o caminho é cheio de cenários impressionantes.

Tudo bem, o mapa é grande, mas o que há de interessante para se fazer nele? Infelizmente, é aí que o jogo peca um pouco em não colocar nele personagens ou missões que se destacam. Não há nada do nível de encontrar uma seita secreta de assassinos em Skyrim ou visitar uma cidade onde só podem morar crianças, que nem acontece em Fallout 3.

Ainda assim, as áreas desérticas de Leide, os amplos campos de Duscae e as montanhas e rios de Cleigne conseguem instigar o jogador para a exploração. Quem procurar, vai achar ruínas que escondem dungeons secretas com armas poderosas, ou missões paralelas que envolvem pescaria e corrida de Chocobos.

Um dos grandes méritos de FF XV é ele conseguir aquilo que é essencial para um jogo de mundo aberto, ainda mais para RPG: ser atraente e imersivo. Não é à toa que, com mais de 60 horas de jogo, não quero sair tão cedo dele.

Animais fantásticos e onde caçá-los

No novo Final Fantasy, o importante não é o destino, mas como aproveitar melhor a jornada até lá, e isso é tão essencial para poder aproveitar melhor a experiência que muitos elementos acabam existindo só em função disso. O melhor exemplo são as missões paralelas de caçada de monstros ou, se preferir, o pouquinho de The Witcher que há em FF XV.

Assim como Geralt de Rivia, Noctis e seus amigos podem pegar contratos para derrotar criaturas em troca de Gils (a moeda no jogo). Quem jogou The Witcher 2 ou 3 deve ter cansado de fazer o mesmo. As semelhanças também estão no fato dos personagens de ambos os jogos aumentarem seus status temporariamente para se preparar para a luta, mas enquanto o “bruxeiro” faz uso de poções, em FF XV o mesmo resultado é obtido se alimentando com diferentes tipos de comida.

Caçar as criaturas no RPG da Square Enix pelo menos tem um toque mais próprio ao possibilitar ir até os locais montado em Chocobos, que são muito mais legais que cavalos (desculpa, Carpeado).

Independentemente de ser uma influência direta ou não, é interessante fazer esse paralelo porque as atividades acabam tendo propósitos bem parecidos, já que essa é a forma dos dois games incentivarem o jogador a explorar muitas regiões que não visitaria de outra forma, fazendo bom proveito da ambientação mais aberta. Ao mesmo tempo, eles conseguem entregar desafios extras e que justificam retornar ao jogo mesmo depois de finalizado, seja para derrotar aquele Behemoth level 99 ou matar um grifo que estava protegendo um tesouro.

Stand By Me

Final Fantasy XV muda alguns paradigmas da série e uma das mais evidentes é termos o controle somente sobre um personagem. No caso, o príncipe Noctis. Isso é justificado por ele ser o rei prometido que vai salvar o mundo. O escolhido. Um papel que todo jogador de RPG já desempenhou antes. Pode ser o Grey Warden que vai matar o Archdemon em Dragon Age: Origins ou sendo o Dragonborn da profecia de Skyrim.

Enquanto esse aspecto acaba caindo no clichê, o que faz a jornada de vossa majestade ganhar mais vida são os companheiros que estão ao seu redor. Gladio, Ignis, Prompto e o próprio Noctis parecem mais integrantes de boy band ou protagonistas de anime, mas acredite, eles conseguem ser peças importante para deixar a experiência de jogar Final Fantasy XV melhor. Não pelos personagens em si, mas por causa da interação entre eles.

No decorrer do jogo, a amizade entre eles vai sendo melhor construída com pequenos diálogos enquanto estão andando para algum lugar. Não é à toa que esse é o mesmo recurso que os jogos da série Dragon Age usam para expor mais os companheiros de sua equipe, que podem trocar elogios, insultos ou mesmo provocar situações engraçadas.

Já em FF XV, a maioria das interações são comentários sobre as missões ou coisas bem bobas, como piadas com o vento no cabelo de Ignis ou Prompto querendo tirar foto de uma paisagem, mas são esses detalhes que apresentam a personalidade de cada um e aumenta a própria ligação que o jogador tem por aqueles personagens.

Quanto mais vamos conhecendo cada um, mais percebemos também a importância que eles têm para o desenvolvimento de Noctis. Gladio, por exemplo, o guarda-costas real, é aquele que mais confronta o protagonista para ele deixar de ser o príncipe mimado e virar o rei que todos precisam.

Ele dá bronca como um irmão mais velho, mas sem deixar de enfatizar que vai estar ali para ajuda-lo (“Quando você não pode se focar, eu faço isso no seu lugar. É o meu dever”). Por isso que, quando acontece um discurso em que é falado para Noctis que Ignis, Prompto e Gladio não são guarda-costas dele, mas irmãos, o jogador já sabe disso há muito tempo, porque está vivenciando aquilo.

Ter essa ligação com os personagens é importante para o que acontece na parte final do game. Sem ela, muita coisa pode acabar ficando sem o impacto que o jogo queria transmitir.
Fantasia baseada na realidade

Final Fantasy XV conseguir ser lançado após todos os percalços que passou pode ser considerado uma vitória, mas deixando de lado toda a empolgação após dez anos de espera, o que o jogo representa?

Nessa análise, tentei responder essa pergunta ao mostrar como o representante máximo de RPGs japoneses se voltou para o que estava sendo feito em outros jogos do gênero para se modernizar, para deixar o nome Final Fantasy relevante de novo.

Quando ainda era Versus XIII, o jogo era vendido como uma “Fantasia baseada na realidade”, só que a realidade daquela época é diferente da de hoje. Por isso, a vitória maior de Final Fantasy XV é conseguir ser um jogo que entretem e agrada para a realidade que estamos agora.

Sair da versão mobile