Análise genética confirma reinfecção por coronavírus pela primeira vez, dizem cientistas

Cientistas de Hong Kong dizem ter encontrado paciente que foi infectado por duas cepas diferentes do coronavírus em cinco meses.
Equipe médica usando equipamentos de proteção individual como medida de precaução contra o coronavírus do COVID-19 ao entrar no asilo Lei Muk Shue em Hong Kong em 23 de agosto de 2020. Imagem: May James/Getty Images

Cientistas em Hong Kong relatam ter encontrado um homem que foi reinfectado pelo coronavírus que causa o COVID-19. Os pesquisadores dizem ter evidências genéticas concretas. Este seria o primeiro caso documentado de alguém infectado duas vezes, mas ainda não está claro se esse paciente é um caso fora da curva ou se a vulnerabilidade à reinfecção é comum.

De acordo com o artigo, escrito por pesquisadores do Departamento de Microbiologia da Universidade de Hong Kong, o homem em questão é um técnico de computador de 33 anos que mora no país.

Ele teve uma primeira infecção pelo novo coronavírus, o SARS-CoV-2, no final de março, e desenvolveu tosse, dor de garganta e febre por cerca de três dias. O paciente logo foi hospitalizado, embora seus sintomas já tivessem se dissipado. Duas semanas depois, recebeu alta com um atestado de saúde, tendo testado negativo para o vírus duas vezes.

Em 15 de agosto, o homem testou novamente positivo para SARS-CoV-2 em um exame de aeroporto após um voo de volta para casa partindo da Espanha. Desta vez, ele não relatou sintomas, mas mesmo assim, foi hospitalizado e monitorado novamente. Embora seus médicos inicialmente tenham suspeitado que ele pudesse ter simplesmente uma infecção persistente que passou despercebida, uma análise genética posterior dos vírus encontrados durante as duas internações no hospital parece descartar isso.

A análise genética revelou que o homem foi infectado por duas cepas distintas de SARS-CoV-2, de duas linhagens completamente diferentes do vírus, documentadas em dois lugares.

Embora o homem não tenha se sentido mal na segunda vez, seu corpo mostrou sinais de uma infecção típica, como níveis elevados de inflamação, uma carga viral relativamente alta (que diminuiu gradualmente com o tempo) e a produção de novos anticorpos contra o vírus em uma fase posterior da infecção (talvez o mais importante é que nenhum anticorpo foi encontrado durante a primeira infecção nem no início de sua segunda infecção).

Os próprios pesquisadores ficaram convencidos e afirmam ter encontrado o primeiro caso bem documentado de reinfecção por SARS-CoV-2.

“A confirmação da reinfecção tem várias implicações importantes. Em primeiro lugar, é improvável que a imunidade de rebanho possa eliminar a SARS-CoV-2, embora seja possível que as infecções subsequentes possam ser mais leves do que a primeira infecção, como para este paciente ”, escreveram eles. “Em segundo lugar, as vacinas podem não ser capazes de fornecer imunidade vitalícia contra COVID-19.”

Ressalvas

Por mais importante que seja esse caso, ainda há limitações para as descobertas, supondo que sejam válidas. Por um lado, embora jornalistas tenham disponibilizado o conteúdo do relatório, ele ainda não passou por análise de outros cientistas ainda.

Em segundo lugar, este caso sozinho não pode nos dizer se a reinfecção se tornará uma ocorrência comum durante esta pandemia ou se é rara. Os especialistas geralmente não acreditam que a reinfecção generalizada possa acontecer tão cedo, citando evidências de que a imunidade a outros coronavírus pode durar pelo menos um ano ou até mais. Também não há informações sobre quais fatores podem afetar as chances de uma pessoa ter reinfecção.

Nesse caso, os pesquisadores só tinham uma amostra disponível da primeira infecção para testar os anticorpos, coletada em menos de 10 dias. Como as pessoas podem desenvolver anticorpos para o coronavírus mais tarde, ainda é possível que o corpo do homem tenha montado uma resposta imunológica ainda na primeira infecção.

Esse é um aspecto crucial que precisa ser observado com mais cuidado, porque a maioria das pessoas parece desenvolver anticorpos durante a infecção. Isso pode reduzir a possibilidade de reinfecção na maioria dos pacientes, caso se confirme que ela é mais provável para aqueles que não tiveram produção de anticorpos na primeira vez — pelo menos pelo intervalo entre os dois casos deste paciente, que parece ter sido de cinco meses entre as infecções.

Os cientistas geralmente concordam que as pessoas que não desenvolvem anticorpos contra o vírus tendem a ter um caso mais brando do que outras. E, como observam os autores, a segunda infecção pode ser ainda mais leve, já que outras partes do sistema imunológico ainda se lembram do vírus, principalmente as células T. Portanto, a reinfecção pode representar um perigo pessoal — de ter um caso grave ou falecer — ainda menor.

Ao mesmo tempo, existem muitas incógnitas sobre o que poderia influenciar o curso de uma segunda infecção ou a capacidade de uma pessoa de transmitir o vírus a outras pessoas durante esta reinfecção.

Por enquanto, a possibilidade de reinfecção é definitivamente algo para médicos e cientistas ficarem de olho e estudarem mais, especialmente depois deste relato. No entanto, nós simplesmente ainda não sabemos qual será a relevância disso para o quadro geral da pandemia.

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