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Quão fiéis são os usuários da Samsung? Eis a pergunta que o Galaxy S4 tentará responder

Tick, tock. Tick, tock. O termo não é novo no mundo da tecnologia — a Intel já usa a tática faz um bom tempo — mas adentrou o mundo dos smartphones. Tick: hora de fazer algo novo, que faça com que as pessoas babem. Tock: hora de aparar arestas, andar ao lado da evolução tecnológica […]

Tick, tock. Tick, tock. O termo não é novo no mundo da tecnologia — a Intel já usa a tática faz um bom tempo — mas adentrou o mundo dos smartphones. Tick: hora de fazer algo novo, que faça com que as pessoas babem. Tock: hora de aparar arestas, andar ao lado da evolução tecnológica e propor outros tipos de interação. Antes, apenas a Apple tinha condição de fazer isso. O Galaxy S4 chega para tentar mostrar que isso não é exclusividade do iPhone.

Acompanhar a trajetória da família Galaxy é acompanhar a evolução desenfreada dos celulares. Do primeiro modelo mais humilde, que pedia licença para passar, a Samsung conseguiu fazer muito barulho com o Galaxy S II, sua telona e seu ar de “isso é um baita smartphone”. No ano passado, o Galaxy S III mudou tudo de novo. Junto com ele, a empresa coreana também mudou de filosofia.

No dia do lançamento do Galaxy S III, escrevi um texto comentando o foco da Samsung em software, recursos mais “humanos” e aplicativos e funções exclusivos para seus aparelhos. À época, disse que tratava-se do lançamento de um Android com menos especificações possíveis. Isso se repetiu em 2013. Se tiver paciência, reveja trechos da apresentação da Samsung: comentários rápidos e cada vez menos aprofundados sobre as especificações do aparelho (nem de processador e núcleos se fala mais!) e quase um longa-metragem teatral para explicar as novas funções (e a lista é realmente grande). O bom gosto da apresentação pode ser discutido, mas uma coisa é certa: explicar como funções podem mudar a vida de uma pessoa é muito mais difícil do que falar “QUAD-CORE!”.

No momento em que a Samsung mudou de filosofia, as coisas começaram a dar mais certo do que o imaginado. Claro, os bilhões gastos em publicidade no mundo todo ajudam a emplacar uma ideia, mas o Galaxy S III (e, por que não, o Galaxy Note) conseguiram penetrar na mente das pessoas de uma forma que nenhum aparelho com Android conseguiu antes. (Aqui, vale lembrar do nosso review sobre ele.) Vejo pessoas que falam com empolgação a palavra “Galaxy”, mas não entendem muito bem quando eu falo “Android”. A Samsung conseguiu o que sempre quis: ter um séquito de seguidores como a Apple.

Mas, depois de tanto se espelhar no iPhone, é hora de lidar com o preço que isso traz (e não estamos falando dos tribunais).

Repare bem no design do Galaxy S4. Ele melhora uma série de detalhes em relação ao S III (as bordas praticamente somem), mas o pensamento por trás de seu design é basicamente o mesmo de seu antecessor. Tock. Hora de parar de cobrar o tick a todo instante. Já falamos disso um bocado no lançamento do iPhone 4S e do iPhone 5, mas é preciso entender que nenhuma indústria revoluciona seu mercado anualmente. Carros, televisores, aviões, máquinas de barbear: todo mercado precisa respeitar sua curva de evolução. Como tivemos um boom evolutivo muito grande nos smartphones entre 2007 e 2010, criamos expectativas demais. Já passou da hora de relaxarmos.

Mas há mais razões para o design do Galaxy S4 ser praticamente igual ao S III: acessórios. Depois de anos vendo enxurradas de carregadores, capinhas, docks, películas e diversos outros cacarecos sendo feitos apenas para iPhone, o Android finalmente teve um aparelho com o mesmo efeito. Hoje há uma série de acessórios e periféricos pensados exclusivamente para o Galaxy S III. E, como há concorrência, há bons produtos, e como há bons produtos, há um monte de consumidores que compraram coisas para pimpar o aparelho. E aí chega-se em um momento de reflexão: você vai mesmo fazer uma indústria e tantos usuários deixarem tudo para trás menos de um ano depois de lançar um aparelho?

Em Nova York, cases do Galaxy S III dividem espaço com os aparelhos da Apple

É o preço que se paga por vender tantos aparelhos. É o dilema que a Apple teve com o iPhone 4 e o 4S, e que a Samsung terá cada vez mais daqui para a frente. O Galaxy S4 é o grande desafio da Samsung: ela precisa provar para si mesma e para o mundo que conseguiu criar uma legião de fãs tão fiéis quanto os da Apple — pessoas que compram seus produtos e gostam tanto da experiência que estão dispostas a ficar nela, investir em seus aparelhos, comprar outros produtos da empresa. Caso isso aconteça, teremos com muito mais clareza o cenário de smartphones desenhado: uma primeira divisão com dois fabricantes, e um punhado de outras empresas se acotovelando em uma categoria inferior, sempre correndo atrás do tempo perdido.

Falando em se acotovelar, foi isso que eu fiz após o evento de ontem. O mar de gente que invadiu o Radio City Music Hall queria muito, muito mesmo, conhecer o Galaxy S4. Jornalistas e suas câmeras, pequenas e grandes, seus flashes, seus dedos engordurados. Eu brinquei cinco minutos com o Galaxy S4. E não o vi mais desde então. O que é possível tirar de conclusões de uma experiência tão curta?

Não muito se considerarmos apenas a existência do S4. É um aparelho mais classudo que seu antecessor — mesmo mantendo o policarbonato, houve uma melhoria no acabamento. Mesmo assim, tudo indica que a Samsung está mais preocupada agora com o software e suas experiências do que com o design do aparelho. A tela brilha bastante. É bela, bem mais bela do que de seu antecessor. Mas não é um derrubador de queixos: parece que já nos acostumamos com altas resoluções, e o salto de 720p para 1080p é bonito, mas não arrancará lágrimas de seus olhos de tanta emoção.

Para experimentar a câmera, saí clicando todos os jornalistas ao redor. Câmera rápida. Mas a velocidade com que a Samsung comentou sobre ela parecia deixar claro que não há grandes mudanças por aqui – é um resultado parecido com o que vimos no Galaxy S III. Não há nada de muito incrível por aqui: eles estão mantendo o jogo no mesmo nível que a concorrência.

Levar em consideração os testes com as novidades do software seria cruel. Pouco espaço, mil luzes e pessoas passando, gritando e discutindo. O Smart Pause funcionou bem. O Smart Scroll, não. O aparelho não conseguia ouvir minha voz no meio do caos para fazer o S Translator funcionar. Melhor deixar para depois. A parte curiosa: mesmo fazendo parte da família mais popular do universo Android, o Galaxy S4 tem alguns desses detalhes que cativam um público mais específico, fissurado em tecnologia (você mesmo, rapaz): slot para microSD e bateria removível são cada vez mais raras, mas a Samsung não abre mão disso. Pelo menos por enquanto.

Enquanto começava a me mover para sair da bagunça, fiquei alguns minutos pensando sobre algo mais importante do que o Galaxy S4: o mercado como um todo. Sozinho, o Galaxy S4 é um ótimo aparelho. Faz sentido seu momento “tock”. Mas o cenário atual fará o desafio da Samsung ser ainda maior: estamos muito bem servidos de aparelhos. iPhone 5. HTC One. Lumia 920. Nexus 4. Há uma série de aparelhos que também estão nesse grau de refinamento e aperfeiçoamento. E, se a Samsung não quer viver apenas de seu séquito, mas também quer ganhar novos seguidores, ela precisará se esforçar.

Esse esforço, provavelmente, acontecerá com uma campanha maciça de publicidade — “a maior de nossa história”, ouvi de alguém da Samsung — mas é preciso também um esforço de conteúdo. É preciso analisar com calma cada novidade do Galaxy S4, principalmente por causa da sua promessa de mudar vidas, e descobrir se ele é uma compra tão certa quanto foi o Galaxy S III. Mas, isso, só descobriremos nos próximos meses. Até lá, temos um bom tempo para refletir quão diferente, interessante e focado nas pessoas o mercado de smartphones é hoje.

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