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Cientistas tentam entender por que tantos animais marinhos nadam em círculos

Várias espécies de grandes animais marinhos, de tartarugas a tubarões e focas, nadam em círculos sem um motivo claro.

Um filhote de tartaruga-verde nadando em um tanque na seção de conservação de tartarugas do Aquaria KLCC em Kuala Lumpur, Malásia. Crédito: Tengku Bahar (Getty Images)

Pesquisadores marinhos no Japão e em outros lugares descobriram mais um enigma do mundo aquático. Em um novo artigo publicado na quinta-feira (18), eles detalham a descoberta de que várias espécies de grandes animais marinhos, de tartarugas a tubarões e focas, nadam em círculos sem um motivo claro. Esse movimento circular pode ter várias finalidades, como auxiliar na navegação ou na busca por comida, dizem os pesquisadores.

De acordo com os autores do estudo, avanços recentes na tecnologia permitiram obter uma imagem mais completa de como os animais se movem no oceano com uma precisão muito melhor do que antes. A autora principal, Tomoko Narazaki, da Universidade de Tóquio, e seus colegas decidiram fazer uso dessa tecnologia observando os movimentos das tartarugas-verdes (Chelonia mydas) durante a época de desova, quando as fêmeas voltam ao seu local de nascimento para botar ovos.

Eles levaram as tartarugas para outro lugar, para que pudessem observar como os animais navegam de volta ao local original. Mas, assim que o fizeram, perceberam um padrão peculiar: as tartarugas costumavam circular a uma velocidade relativamente constante pelo menos duas vezes e depois retomavam seu nado normal ao se aventurarem de volta para casa.

Curiosa, Narazaki contou a outras pessoas de sua área sobre a descoberta. Por fim, ela se juntou a alguns desses pesquisadores para examinar os dados de movimento que haviam sido coletados anteriormente sobre uma série de outros animais marinhos em diferentes ramos da árvore evolucionária. E, assim, eles descobriram que o mesmo tipo de comportamento circular surgia repetidamente. Esses animais circulantes incluíam peixes (tubarões-tigre), aves (pinguins-rei) e mamíferos (focas da Antártica e baleias cuvier).

O artigo foi publicado na iScience.

“Todos os dados usados ​​em nosso estudo foram inicialmente coletados para diferentes propósitos (por exemplo, estudar o comportamento de alimentação de tubarões). Os dados de cada espécie foram analisados ​​por diferentes coautores para diferentes aspectos”, disse Narazaki ao Gizmodo por e-mail. “Então, demorou um pouco para percebermos que circular é um comportamento comum em muitas espécies — até nos unirmos para o estudo.”

Analisando superficialmente, o movimento circular não colabora muito para a sobrevivência desses animais, uma vez que a maneira mais eficiente de viajar, em termos de energia, para qualquer lugar do oceano é geralmente em linha reta. Isso provavelmente significa que há uma ou mais funções importantes que valem o esforço extra. Agora, porém, tudo o que a equipe tem são alguns palpites sobre o que está acontecendo, e isso pode variar entre as diferentes espécies.

Uma ilustração de como diferentes animais marinhos circulam, com base nas descobertas do estudo. Ilustração: Narazaki, et al/iScience

Os tubarões, por exemplo, parecem circular com mais frequência em torno de onde obtêm comida, indicando que isso oferece alguma vantagem na caça. Enquanto isso, outra pesquisa mostrou que algumas espécies de baleias usam o movimento em grupos como uma forma de criar “redes de bolhas” para capturar pequenos peixes. Mas a alimentação provavelmente não é o único propósito.

Em pelo menos um tubarão-tigre macho, a equipe encontrou evidências de que circular fazia parte de seu ritual de cortejo na frente de uma fêmea. Focas e pinguins parecem circular com mais frequência perto da superfície da água ou fora de suas horas típicas de alimentação, o que indica que isso não faz parte de sua técnica para obter comida. A equipe também citou pesquisas anteriores que descobriram que os elefantes-marinhos do norte circulam durante seus mergulhos à deriva — mergulhos preguiçosos e passivos que os ajudam a descansar ou processar sua última refeição.

No caso das tartarugas, circular pode ajudá-las a reorientar suas habilidades de navegação, que dependem do olfato, da visão e da detecção de campos magnéticos. As tartarugas frequentemente circulam um pouco antes do fim da sua jornada, e por um tempo considerável. Uma tartaruga foi observada circulando 76 vezes antes de prosseguir.

“Dado que um comportamento semelhante de movimento circular foi observado em uma ampla variedade da megafauna marinha, pode ser possível que seja uma convergência comportamental com propósitos semelhantes”, disse Narazaki. “Mas, por enquanto, o propósito e a função desse comportamento permanecem desconhecidos.”

Claro, sabemos que muitos animais circulam por vários motivos (pergunte ao cachorro mais próximo antes que ele faça cocô). Mas a obscuridade do vasto oceano significa que provavelmente existem vários tipos de comportamentos comuns entre esses animais que simplesmente não conseguimos ver ainda. Ao estudar mais de perto o como e o porquê da navegação marinha, os pesquisadores esperam iluminar um pouco mais este universo.

“Para a próxima etapa, gostaríamos de examinar os movimentos dos animais em relação ao seu estado interno e às condições ambientais para analisar por que eles circulam”, disse Narazaki. “Alguns experimentos de teste de hipóteses seriam necessários para entender a função e o mecanismo subjacente aos movimentos circulares.”

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