Se você for comprar um aparelho de desinfecção por ultravioleta, pesquise direito

É provável que, nas últimas semanas ou meses, você tenha visto alguma coisa sobre desinfecção usando raios ultravioleta — até algumas propagandas de aparelhos desse tipo começaram a aparecer. Faz sentido, já que há um novo coronavírus causando estragos por aí. Seu celular está imundo, sua bolsa está nojenta, suas máscaras estão cheias do suor […]
Esterilizador UV da Samsung com carregamento sem fio. Imagem: Samsung

É provável que, nas últimas semanas ou meses, você tenha visto alguma coisa sobre desinfecção usando raios ultravioleta — até algumas propagandas de aparelhos desse tipo começaram a aparecer. Faz sentido, já que há um novo coronavírus causando estragos por aí. Seu celular está imundo, sua bolsa está nojenta, suas máscaras estão cheias do suor e da saliva. Por isso muita gente pensa comprar uma daquelas varinhas UV, ou um case para desinfetar celulares ou, caramba, esta estranha escova de privada ultravioleta no Kickstarter.

O mais recente desses aparelhos é o esterilizador UV com carregamento sem fio da Samsung. Em seu comunicado, a Samsung escreve: “No mundo de hoje, a higiene pessoal é mais importante do que nunca e, para ajudar a combater a disseminação de bactérias e germes, estamos lançando um novo esterilizador UV com carregamento sem fio”.

A empresa afirma que o aparelho é capaz de matar até 99% dessas bactérias e germes desagradáveis, listando E. coli, Staphylococcus aureus e Candida albicans. Ele também é certificado pela Intertek e pela SGS, dois laboratórios independentes de teste de produtos. Ele também funciona como um carregador sem fio, o que significa que você pode recarregar e esterilizar simultaneamente qualquer dispositivo ou item que caiba na caixa.

Isso parece ótimo! Tirando seu histórico de quebras e explosões, a Samsung tem uma boa reputação em eletrônicos. Além disso, testes e certificação independentes parecem legítimos. No entanto, apesar de ser um produto de uma marca que você confia, é melhor pensar duas vezes antes de gastar.

Não é que a desinfecção por ultravioleta seja uma farsa. Ela é usada em hospitais para desinfetar equipamentos de proteção individual, bem como no fornecimento de água. Só que também não é tão simples assim.

Para começar, a desinfecção por ultravioleta tem que ser com a luz UVC, que tem um comprimento de onda de 100 a 280 nanômetros. O tipo que você encontra nos raios de sol ou nas câmaras de bronzeamento artificial é a luz UVA ou UVB.

De acordo com a Associação Internacional de Ultravioleta (IUVA), a luz UVC é usada há mais de 40 anos como método de desinfecção de água, efluentes, ar, produtos farmacêuticos e superfícies.

Então, qual o problema com esse monte de aparelhos UV aparecendo nas redes sociais e no seu e-mail? Bem, mesmo que a luz UVC funcione como desinfetante, isso não significa que os produtos que você pode comprar agora foram construídos com a eficácia e a segurança humana em mente.

“Se feita corretamente, a desinfecção por UV tem sido realmente eficaz há cerca de 100 anos”, diz Jim Malley, professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de New Hampshire. Malley não é apenas o presidente fundador da IUVA, mas também tem mais de 30 anos de experiência no uso de ultravioleta, além de outros métodos químicos e físicos, como desinfetante. “A questão aqui é ‘se feito corretamente’.”

Segundo Malley, nos EUA, o mercado de dispositivos ultravioleta para consumidores é uma terra sem lei. Não apenas não há uma supervisão regulatória consistente, mas também não há um selo de aprovação universal que facilite aos consumidores entender que estão comprando um equipamento seguro.

Por exemplo, no setor de vestíveis, você tem pelo menos itens como a autorização da FDA e a marcação CE para indicar que é improvável que um produto lhe cause danos. “Por ser um mercado não regulamentado, consciente ou inconscientemente, as empresas estão lançando alguns produtos absurdos”, diz Malley.

Captura de tela: Amazon

“A segurança e a eficácia de muitos dispositivos de luz UV vendidos ao público não são revisadas ​​rotineiramente. Portanto, eles devem ser usados ​​com cautela”, diz a FAQ da Penn Medicine sobre o novo coronavírus.

Pegue uma varinha UV, por exemplo. Se você pesquisar na Amazon por “varinha desinfetante ultravioleta” nos EUA, obterá pelo menos 71 resultados. No entanto, esses dispositivos expõem desnecessariamente sua pele aos raios UVC, o que é realmente bastante perigoso para seus olhos e pele. Passar uma dessas varinhas por toda a casa por muito tempo pode deixar você — ou talvez uma criança ou um animal de estimação — com lesões cutâneas ou oculares não intencionais.

O mesmo vale para lâmpadas UV ou, se você se quer eliminar riscos, qualquer produto que não contenha completamente a luz UVC. Em seu site sobre mitos e verdades do COVID-19, a Organização Mundial da Saúde diz especificamente que as lâmpadas UV “não devem ser usadas para desinfetar as mãos ou outras áreas da pele”.

Malley também observa que a eficácia desses tipos de varinhas diminui com a distância. Portanto, a menos que você esteja usando um desses aparelhos de perto e metodicamente, provavelmente ele não terá muito efeito.

Da mesma forma, a luz ultravioleta desinfecta apenas as áreas em que pode tocar. Esses aparelhos desinfetantes de celulares, diz Malley, geralmente são mal construídos. “UV é uma tecnologia de linha de visão”, ele explica. “Se algo estiver encoberto, na sombra, não haverá desinfecção”.

Portanto, se uma caixa tiver apenas luzes UV de um lado ou não for feita de materiais refletivos, é possível que a parte superior ou inferior do telefone continua cheia de germes. Isso está nas letras pequenas no comunicado de imprensa da Samsung — uma nota de rodapé diz que “as áreas do produto que não estão expostas à luz UV não serão desinfetadas”.

A outra questão em questão é o próprio COVID-19. Você pode apostar que esses fabricantes de gadgets UV estão aproveitando — possivelmente com boas intenções — agora que o público está levando a desinfecção mais a sério. No entanto, não há pesquisas em larga escala, revisadas por pares, para determinar se os dispositivos ultravioleta vendidos a consumidores são eficazes contra o novo coronavírus.

Malley diz que, dado o que os cientistas sabem sobre outras famílias de vírus e o SARS-CoV-2, o coronavírus que causa COVID-19, não há evidências até agora de que o patógeno seja resistente à desinfecção por UVC. No entanto, se um produto afirma que pode matar definitivamente o novo coronavírus sem pesquisas ou testes para confirmar, provavelmente é bom demais para ser verdade.

Isso não quer dizer que nenhuma empresa faça as coisas da maneira certa. Mas é provável que esses produtos custem centenas ou milhares de dólares.

Mas mesmo que você encontre um dispositivo desinfetante UV bem projetado, testado e acessível, isso não significa que você pode deixar de lavar as mãos, praticar o distanciamento social ou usar máscaras. Malley diz que esse é um exemplo clássico de produto que dá a alguém uma falsa sensação de segurança.

“Na maioria das vezes, não vale a pena o seu esforço”, explica Malley, acrescentando que lenços desinfetantes de secagem rápida com álcool pelo menos 60% são uma opção melhor. “Se ultravioleta é realmente algo de que você precisa, você precisa observar os velhos ditos. Você vai receber aquilo que pagou e precisa pesquisar direito sobre os aparelhos e empresas.”

Isso significa fazer sua lição de casa. Embora a IUVA esteja trabalhando em um conjunto de protocolos para um processo de validação, isso não é algo que vai acontecer da noite para o dia. Da mesma forma, levará algum tempo até que centros de validação ou certificação estejam preparados para uma nova categoria de produto. Enquanto isso, existem algumas coisas que os consumidores podem fazer tomar decisões mais instruídas.

Para começar, é preciso ver se as empresas por trás dos produtos investiram adequadamente em pesquisa e desenvolvimento. Você também pode investigar se um gadget foi usado pelos hospitais ou se a própria empresa deseja enviar os resultados de um estudo de validação realizado por um laboratório independente e respeitável. Se o produto não passar por nenhum desses quesitos, é melhor deixar para lá.

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