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Cientistas afirmam ter criado um aplicativo capaz de diagnosticar infecções no ouvido

Aplicativo consegue diagnosticar, com até 90% de precisão, se há presença de fluído nos ouvidos, podendo ser utilizado por pais e médicos de forma simples e barata

App EarHealth

Crédito: University of Washington

Está na dúvida se o seu filho está com uma infecção no ouvido? Em breve, de acordo com pesquisadores da Universidade de Washington, haverá um app para ajudá-lo a descobrir. Eles alegam ter criado um teste simples usando o celular. É o aplicativo EarHealth, que utiliza um smartphone e um papel dobrado para detectar um dos sintomas mais comuns da infecção – fluído nos ouvidos – com uma precisão quase igual ou até mesmo maior que a de um médico.

Infecções no ouvido são um dos primeiros problemas de saúde que as pessoas tendem a experienciar. Até os três anos de idade, a maioria das pessoas já teve pelo menos uma infeção no ouvido. Elas costumam causar um aumento de fluído, assim como uma outra condição, a chamada “otite média com efusão (OME)”. Mas, embora a maioria das infecções ou casos de OME desapareça por conta própria, o fluído em excesso ou crônico pode causar dores ou até mesmo complicações mais graves, como perda de audição.

Atualmente, já existem testes muito precisos (cerca de 80% a 90%) que podem diagnosticar o fluído dos ouvidos analisando mudanças sutis no tímpano, como a timpanometria. No entanto, eles precisam ser realizados em um consultório médico e requerem um equipamento especializado. Por isso, os autores responsáveis pelo estudo, publicado na quarta-feira (15) no Science Translational Medicine, queriam criar um teste mais fácil e barato que pudesse competir em nível de precisão.

“Se esse aplicativo puder oferecer uma precisão a nível de especialista aos médicos, isso poderia realmente mudar a forma como infecções no ouvido são tratadas a nível global”

O teste criado pelos pesquisadores funciona da seguinte forma: o aplicativo EarHealth reproduz sons, que são transmitidos até o canal do ouvido por um papel dobrado, em formato de funil, que é encaixado no celular e a outra ponta é posicionada no ouvido.

Essas ondas de som reverberam no ouvido médio para o celular novamente, e dessa forma, elas vão interagindo com os sons que ainda estão sendo emitidos pelo celular. A cacofonia, ou som refletido, é então capturado pelo microfone do smartphone para ser analisado pelo aplicativo. Finalmente, o app, com base nas flutuações do sinal que recebe, prevê as alterações no fluído do ouvido.

“É como bater em uma taça de vinho com um talher”, afirmou Justin Chan, co-autor da pesquisa e estudante de doutorado da Paul G. Allen School of Computer Science and Engineering da Universidade de Washington, ao Gizmodo. “Se a taça estiver vazia ou com líquido pela metade, você terá sons diferentes. Então, o princípio é o mesmo aqui”.

Crédito: University of Washington

Chan e sua equipe testaram o conceito pela primeira vez em crianças entre 18 meses e 17 anos no Hospital Infantil de Seattle, e utilizaram eles para aperfeiçoar o algoritmo de previsão do aplicativo. Metade das crianças foram encaminhadas para realizar uma cirurgia que poderia tratar o aumento crônico do fluído dos ouvidos por meio do implante de pequenos tubos, enquanto a outra metade realizaria procedimentos não relacionados ao ouvido. O projeto do estudo foi desenvolvido para testar a precisão do aplicativo.

“Não é fácil detectar fluídos através das ferramentas de exames atuais. A única forma de saber, com certeza, é por meio de cirurgia em que é feita uma incisão no tímpano para drenar o líquido. Então, quando você faz essa incisão, é possível saber com certeza se há fluído ou não”, explica Chan.

Nesse estudo inicial, o aplicativo foi capaz de prever se uma pessoa tinha fluído nos ouvidos com 85% de precisão, e previu corretamente a ausência do líquido com uma precisão de 80%.

Devido ao fato de bebês serem o grupo com maior risco de contraírem infecções de ouvido (e são menos capazes de verbalizar seu desconforto), o aplicativo aprimorado foi então testado com 15 crianças entre 9 e 18 meses. Dessa vez, o app identificou corretamente todas as 5 crianças que tinham fluído no ouvido, e 9 das 10 crianças que não tinham.

Por último, em outro experimento, a equipe de Chan pediu para pais utilizarem o app em 25 pessoas, seguindo um tutorial prévio. O nível de precisão se manteve o mesmo que o anterior, e os diagnósticos obtidos pelos pais coincidiram com o que os médicos obtiveram utilizando o app. Isso sugere que pais não terão grandes problemas em utilizar o aplicativo fora de um consultório ou hospital. E, mais importante, as crianças que participaram de todos os testes não demonstraram desconforto ao ter um celular com funil de papel colocado em seus ouvidos.

“Os sons são bem suaves. E o interessante é que, quando colocamos nos ouvidos das crianças no hospital, elas reagiam com sorrisos ou risadas. Parece que os sons emitidos pelo app têm um efeito calmante”, afirmou Chan.

Idealmente, o app poderia ser utilizado como uma ferramenta de diagnóstico doméstica por pais que estão preocupados com a possibilidade de a coceira no ouvido dos filhos ser algo mais sério. Isso evitaria que as crianças fossem ao médico contra a sua vontade e permitiria que elas recebessem o cuidado posterior necessário.

Mas Chan também imagina médicos em áreas menos desenvolvidas utilizando o aplicativo como ferramenta de exame, já que o app é mais preciso que uma simples inspeção visual dos ouvidos feita pelo médico. Outro potencial da ferramenta é que ela funciona em qualquer modelo de iPhone e Android, e com diferentes tipos de papel para o funil.

“Mesmo em países em desenvolvimento, smartphones estão se tornando mais populares. Então, se o app pode fornecer uma precisão em um nível comparado ao de um especialista aos médicos, isso poderia mudar a forma como infecções de ouvido são tratadas em todo o mundo”, disse Chan.

Chan e seus co-autores fundaram uma empresa para comercializar o aplicativo, chamada Edus Health. Ele declarou ao Gizmodo que eles esperam que o app seja reconhecido como um dispositivo médico pela Food and Drug Administration até o fim do ano, quando estará amplamente disponível ao público norte-americano. A empresa também está firmando parcerias com médicos em países em desenvolvimento, com a esperança de que o aplicativo possa, em breve, ser utilizado nesses locais também.

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