Califórnia testa app de saúde mental que rastreia tudo o que as pessoas fazem em seus celulares

A maneira como interagimos com os nossos dispositivos é, com uma intensidade cada vez maior, uma extensão do nosso ser mais íntimo. E é claro que startups enxergam os dados obtidos a partir desse comportamento como uma janela para a nossa saúde mental – e a fundação para seus modelos de negócios. Autoridades de saúde […]
Mão de uma pessoa mexendo em um iPhone 5S
Getty

A maneira como interagimos com os nossos dispositivos é, com uma intensidade cada vez maior, uma extensão do nosso ser mais íntimo. E é claro que startups enxergam os dados obtidos a partir desse comportamento como uma janela para a nossa saúde mental – e a fundação para seus modelos de negócios.

Autoridades de saúde mental da Califórnia têm discutido com duas startups o desenvolvimento de um sistema digital que identifica quando um usuário de smartphone está prestes a ter uma crise emocional, caracterizando-a como um “alerta de fogo”, de acordo com uma reportagem publicada nesta segunda-feira (17) no New York Times.

Aparentemente autoridades de 13 condados e duas cidades estão envolvidas com o desenvolvimento desse sistema, que já está sendo testado em indivíduos que procuraram a rede de saúde pública do Condado de Los Angeles.

Mindstrong, um aplicativo que prevê o humor, e 7 Cups, um serviço de terapia online, vêm trabalhando com os agentes governamentais nesse sistema desde o ano passado, de acordo com a reportagem.

As pessoas que participam do teste permitem que o Mindstrong instale um teclado em seus celulares que rastreia constantemente a atividade da tela. O algoritmo da companhia pode determinar a atividade normal do usuário com apenas uma semana de dados, conforme explicou o Dr. Thomas R. Insel, um dos fundadores do Mindstrong, ao New York Times.

Quando há múltiplas instâncias de comportamento divergente a partir dessa atividade estabelecida, o aplicativo envia uma mensagem para o usuário. É preciso aproximadamente um dia para que a companhia identifique tal disfunção.

Segundo o site do Mindstrong, a empresa utiliza “métodos poderosos de aprendizado de máquina para mostrar que características digitais específicas se correlacionam com a função cognitiva, sintomas clínicos e medições da atividade cerebral em uma gama de estudos clínicos”.

As características digitais incluem maneiras com as quais alguém interage com a tela – ao tocar ou rolar, por exemplo. Existem outros diversos tipos de comportamentos e atividades que o Mindstrong pode achar útil de se monitorar, de acordo com diversas patentes da empresa que lista coisas como as inserções de caracteres e voz, abrimento e fechamento de apps, gestos no touchscreen, coordenadas de GPS, acelerômetro e giroscópio, chamadas recebidas e realizadas, e-mails, mensagens, livros lidos em um app e games jogados.

“Algumas dezenas de pessoas” aparentemente tinham os teclados alternativos do Mindstrong instalados em seus smartphones no começo deste ano, mas cerca de metade delas não estão mais utilizando a funcionalidade, citando perda do interesse ou dificuldades técnicas.

“Tem sido um pouco difícil no começo, devo dizer, mas pode ser que leve alguns anos”, disse o Dr. Insel ao NYT. “O programa talvez precise falhar no começo”.

Embora tenha havido iniciativas cada vez mais intensas entre as empresas de tecnologia e os profissionais da medicina para descobrir maneiras nas quais a tecnologia – especificamente a inteligência artificial – possa servir como uma ferramenta para identificar e intervir em situações da saúde mental, ainda não há um sistema que se provou bem-sucedido no longo prazo.

Assim como os recentes esforços da Califórnia com alguns de seus residentes, temos visto sistemas serem empregados em fase de testes junto àqueles que, sem dúvida, apresentam os maiores riscos, caso algo dê errado.

E sem contar com o potencial de o programa falhar inicialmente, como o próprio responsável apontou, mesmo que ele funcione como o planejado, ainda existem algumas preocupações de privacidade a se considerar.

Um paciente está efetivamente permitindo que uma empresa de tecnologia vigie cada movimento em seu smartphone. A moeda de troca, é claro, é admirável – a companhia quer oferecer as ferramentas necessárias especialmente durante os momentos vulneráveis.

Porém, ainda não está claro o quão efetivo um algoritmo pode ser para uma pessoa que está em seu momento de mais angústia – sem contar que, ao mesmo tempo, essa pessoa está oferecendo para uma empresa de tecnologia o ativo mais desejado de todos: dados de saúde extremamente íntimos.

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