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A Apple e seu cercadinho são totalmente incompatíveis com o futuro dos games

Mundo gamer é conhecido pela interoperabilidade. No entanto, a Apple insiste em ter um cercadinho apenas com games que passam pelo seu crivo.

Apple Arcade

Imagem: Apple

Quando a maioria das pessoas pensa na Apple, videogames não são a primeira coisa que vem à mente. Edição de fotos ou vídeos, é claro, ou algum outro tipo de trabalho criativo, mas não jogos. Isso se deve à maneira como a Apple projeta e comercializa seus produtos.

Há muito tempo é possível jogar no macOS e no iOS, mas até o lançamento do Apple Arcade no ano passado, eles eram simplesmente sistemas para os quais os desenvolvedores projetavam seus jogos.

No ano passado, começamos a ver como as práticas de exclusão da Apple funcionam quando se trata de quais jogos e plataformas ela dará ou não acesso a seus usuários. (Isso se aplica a aplicativos também!)

A indústria de jogos em geral está começando a deixar de lado os títulos exclusivos de uma só plataforma, e ainda assim a Apple insiste em manter seu cercadinho fechado até mesmo para algumas das maiores empresas de tecnologia. Eis o caminho para um desastre antitruste.

A Apple e a Microsoft começaram como empresas de informática, mas as duas gigantes da tecnologia seguiram caminhos muito diferentes à medida que se expandiram e evoluíram ao longo das décadas.

Na virada do milênio, a Microsoft entrou na disputa pelo mercado de videogames com seu Xbox, competindo com consoles da Nintendo, Playstation da Sony e até mesmo o Sega Dreamcast. Nesse momento, a empresa já tinha um bom controle no mercado de jogos para PC.

A Apple seguiu um caminho diferente, principalmente com o iPhone em 2007. Ele não foi o primeiro telefone com tela de toque (essa honra vai para o LG Prada), mas ele abriu caminho para o boom dos jogos de celular.

Os celulares iPhone e Android continuam a ser uma parte integrante do cenário de games hoje, e empresas como a Microsoft e o Google estão enfrentando novos territórios com jogos em nuvem. Mas a Apple se recusa a estender seu próprio legado neste momento em que entramos em uma nova era de jogos mobile.

Independentemente do que você acha dos jogos na nuvem e suas limitações inerentes, ser capaz de jogar um game graficamente exigente como o Metro Exodus em seu celular é impressionante.

Por meio de uma conexão de dados 4G (ou 5G, no futuro) ou Wi-Fi, você se conecta a um data center remoto onde o jogo está armazenado. O jogo é transmitido para o seu telefone, os toques na tela ou em botões são enviados de volta para o data center e, em seguida, tudo o que você mandou para fazer parece na tela. Com uma boa conexão, o atraso é mínimo, o que significa que você não precisa mais ficar limitado a jogos simples como Candy Crush.

Os jogadores não vão precisar de um PC, laptop ou mesmo um console para jogar Cyberpunk 2077 quando ele for lançado, graças ao serviço de jogos em nuvem Project xCloud, da Microsoft.

Mas as próprias regras da App Store da Apple impedem que os usuários de iOS possam jogar jogos como esse em seus iPhones ou iPads. A Apple só aprovará um serviço de jogos em nuvem para a App Store se o aplicativo se conectar a um “dispositivo host de propriedade do usuário que seja um computador pessoal ou console de jogo dedicado de propriedade do usuário, e tanto o dispositivo host quanto o cliente devem estar conectados em um rede local baseada em LAN”.

O Google Stadia, o GeForce Now da Nvidia e o xCloud da Microsoft exigem que seus usuários se conectem remotamente a seus servidores, que não são de propriedade do usuário, e todas as três plataformas permitem que seus usuários joguem em redes móveis.

O Google teve que desativar o recurso que permitia aos os usuários se conectarem aos servidores do Stadia para que o aplicativo pudesse ser oferecido na App Store. A Nvidia e a Microsoft acabaram de dizer “dane-se” — de que adianta oferecer um aplicativo iOS se as pessoas não podem usá-lo para jogar no iOS?

Curiosamente, Stadia e GeForce Now são compatíveis com macOS. Os usuários precisam apenas do navegador Chrome instalado para jogar via Stadia, e o GeForce Now tem sua própria versão macOS de seu launcher.

Qual a questão da Apple com games?

Então, por que toda essa hostilidade em relação aos jogos no iOS? Algumas respostas podem estar no Apple Arcade.

Parece que a Apple está mantendo todos os principais concorrentes longe do iOS porque quer direcionar os usuários para seu próprio serviço de jogos. É tão lógico quanto se meus pais se recusassem a me deixar ver Os Simpsons quando criança, mas liberassem Ren e Stimpy. Esse é o tipo de coisa que você faz com crianças, não com clientes que estão pagando.

O Apple Arcade é tecnicamente uma loja digital, mas em vez de comprar jogos individualmente como você faria no Steam, na Epic ou no site do Xbox da Microsoft, os usuários pagam US$ 5 por mês para acessar mais de 100 jogos. Os jogos não são dos usuários, mas, desde que mantenham uma assinatura ativa, eles podem continuar a jogá-los. (É meio como alugar jogos da Gamefly.)

O problema com este modelo é que a maioria dos jogadores quer ter os jogos, não alugá-los, especialmente quando se trata de títulos maiores como Skyrim, Fallout 4 e Red Dead Redemption 2. Eles têm muito da chamada rejogabilidade ou replay value, quando um game vale a pena ser jogado novamente várias vezes, por causa da quantidade de conteúdo que contêm. Até o momento eu fiquei quase 200 horas no Skyrim, e isso é pouco perto dos outros.

Muitos jogos do Apple Arcade estão disponíveis individualmente no Steam e no Epic, mas a menos que você tenha um dispositivo da Apple, você não saberá quais são — a menos que queira ficar olhando as miniaturas rolando no site e anotando o que parece interessante com base na capa.

Se você tiver um dispositivo Apple, dê uma olhada em todos os jogos que são oferecidos. Muitos deles parecem voltados para crianças ou são jogos de quebra-cabeça casuais. Existem alguns jogos de aventura, como Beyond a Steel Sky, que parecem mais voltados para adultos, mas a ideia é totalmente diferente do que o Stadia ou a Microsoft oferecem.

Parece que a Apple quer fazer uma curadoria cuidadosa da imagem da sua marca em todos os aspectos, mesmo quando se trata de jogos ou serviços que oferece na App Store.

A Apple foi criticada recentemente pelos 30% de participação nas receitas que exige dos desenvolvedores que oferecem versões premium ou compras dentro dos apps na App Store. Isso inclui jogos. Mas com o xCloud e a GeForce agora, a Apple não pode tirar sua comissão dos jogos disponíveis nesses serviços porque os usuários compram seus jogos no Steam, na Epic ou em outro lugar.

A Microsoft, o Google e a Nvidia disponibilizam seus aplicativos xCloud, Stadia e GeForce Now gratuitamente, e os dois últimos contam até com planos gratuitos para jogar. Nunca que os usuários do iOS pagariam por um jogo que os usuários do Android e de outros dispositivos podem baixar gratuitamente.

É provável que a Apple esteja pegando uma parte do dinheiro do Google, porque os usuários iOS podem fazer compras no aplicativo pelo aplicativo Stadia.

As diretrizes da Apple permitem compras no aplicativo, mas se o serviço de jogos puder ser usado em vários dispositivos, da mesma forma que o Apple Arcade pode, o desenvolvedor não deve “direcionar direta ou indiretamente os usuários iOS para usar um método de compra que não seja dentro do próprio aplicativo”.

O Stadia não faz isso, mas por causa das regras da Apple sobre clientes de desktop remoto, isso impediu que os usuários pudessem jogar no iPhone ou no iPad. Mesmo assim, o aplicativo precisa estar na App Store porque não há outra forma de os usuários sincronizarem o controle sem fio com o computador ou o Chromecast.

Deixando de lado os complicados modelos de receita, a Apple não entende o cenário dos jogos, ou a flexibilidade e acessibilidade que os jogadores desejam ter para jogar os melhores e mais recentes títulos. A Apple vendeu 41 milhões de iPhones em todo o mundo no primeiro trimestre de 2020, mesmo com uma pandemia. Muitas pessoas poderiam estar jogando jogos do Stadia ou do Xbox em seus celulares junto com os jogos da Apple Arcade.

Quando se trata de interoperabilidade entre plataformas, a Microsoft e o Google sempre foram mais livres do que a Apple. O que funciona em um Samsung funcionará em um LG, e o que funciona em um Asus funcionará em um Dell. É por isso que eles são populares entre os gamers.

Permitir que os serviços de jogos em nuvem ofereçam jogos em streaming no iOS daria à Apple a chance de se tornar mais relevante no mundo dos jogos para além do cercadinho do Apple Arcade. Os jogos tornaram-se mais acessíveis do que nunca, e a Apple desempenhou um grande papel nisso com os jogos móveis no iPhone. Agora é hora derrubar a cerca — ou talvez cortar um pedaço dela — para dar às pessoas ainda mais opções.

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