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A Apple, o iPhone e o fim das surpresas

Este pode não ser um vídeo do iPhone 5S e iPhone 5C. Ele pode não mostrar que o próximo lançamento da Apple será praticamente idêntico ao iPhone 5. Ele pode não mostrar que os atuais modelos preto e branco ganharão uma nova cor, dourada (digo, champanhe) quando forem anunciados no dia 10 de setembro. Mas […]

Este pode não ser um vídeo do iPhone 5S e iPhone 5C. Ele pode não mostrar que o próximo lançamento da Apple será praticamente idêntico ao iPhone 5. Ele pode não mostrar que os atuais modelos preto e branco ganharão uma nova cor, dourada (digo, champanhe) quando forem anunciados no dia 10 de setembro. Mas seria muito muito mais surpreendente se essas coisas não fossem reais. E isso coloca a Apple (e você) em uma posição sem precedentes.

Sempre houve vazamentos em torno dos novos produtos da Apple. Alguns deles bem precisos; outros, nem tanto. Alguns excederam as expectativas, alguns não chegaram perto disso. Mas é essa variação — às vezes mais que os próprios produtos — que tem ajudado a Apple a tornar seus eventos de anúncios tão magnéticos. (Você pode argumentar que nunca se importou com eles, e está tudo bem. Milhões de pessoas que não são você se importam, todo ano.) As pessoas os assistem para serem surpreendidas. Mas há anos isso não acontece.

Na realidade, o único iPhone que realmente pegou as pessoas com a guarda baixa nos últimos anos foi o iPhone 4S, que surpreendeu puramente por parecer idêntico ao modelo anterior, o iPhone 4 (que não foi surpresa alguma). Isso tudo levanta a questão: por que esse nível de vazamento ocorre, por que ele importa e algum dia isso vai acabar?

Muitos segredos

A rápida deterioração dos segredos do iPhone (e do iPad) é provavelmente uma questão matemática. A notória polícia dos rumores da Apple, que sufoca vazamentos internos, continua funcionando bem, mas existem muitas mãos e muitos olhos que passam pelos componentes do iPhone durante o processo de fabricação. É de se esperar que vazamentos ocorram.

A ascendência (ou proliferação) dos blogs de tecnologia nos últimos anos também tem contribuído. Não apenas há mais componentes rodando por aí, existem mais pessoas procurando por eles. Furos relacionados à Apple têm perdido força recentemente, mas ainda são poderosos mecanismos para alavancar a audiência.

O resultado é que sejam componentes vazados, ou emails que possam ser reais, a verdade virá à tona. De novo e de novo e de novo…

Pegue o iPhone 5S e o iPhone 5C, por exemplo. Para ter uma análise completa dos vazamentos, você deve ler isto e isto, respectivamente. Existem muitos deles para cobrir em um espaço de tempo curto, e mesmo aqueles longos posts excluíram informações redudantes. Mas o que fica claro é que esses vazamentos, se legítimos, não são incidentes isolados. Eles vêm de diversas fontes, cobrem todo ângulo concebível. Eles são, no momento, a norma. Quando mesmo esses vazamentos são recebidos com indiferença, você sabe que há um problema com o hype.

Recentemente Tim Cook prometeu “apostar em dobro” no mistério. Ele mirou longe. Para manter sua cadeia de fornecedores, o aumento na segurança teria que ser exponencial.

Se você prefere teorias da conspiração, poderia dizer que essas informações são vazadas pela própria Apple. Se os fãs da Apple souberem que o novo iPhone parecerá idêntico ao antigo iPhone, eles não ficarão desapontados com a mesmice. Isso seria validado. E é particularmente útil se você acreditar, como a Apple deveria, que a consistência no design do iPhone é uma característica, não um bug. Claro, não há chances de que isso seja verdade.

A Apple ferida

Todo ano a Apple vende menos iPhones no meio do ano do que em qualquer outra época. A explicação é simples: hoje, todos entendem que a Apple lança um novo iPhone em setembro, sempre, e se você se antecipar e comprar um agora estará gastando algumas centenas de dólares em um dispositivo que, em breve, estará ultrapassado.

Se o simples fato de que um novo iPhone está a caminho é suficiente para diminuir as vendas, imagine o que o conhecimento pleno do visual e funções de um smartphone é capaz de fazer? Na verdade, não é preciso. No vazamento do iPhone 4 em 2010, a Apple deixou claro que aquilo teria um “grande” impacto negativo nas vendas:

“Ao publicar detalhes sobre o aparelho e seus recursos … as pessoas que de outra forma teriam comprado o produto atualmente disponível da Apple irão esperar o próximo ser lançado, prejudicando assim as vendas e afetando negativamente os lucros da Apple.”

Embora desde então ninguém tenha conseguido colocar as mãos em um protótipo completo e confirmado, não há muita diferença entre o que sabemos hoje sobre o iPhone 5 e o iPhone 4 daquela época. Na verdade, as diferenças que existem deixam as coisas ainda mais complicadas para a Apple.

O iPhone 4 pelo menos tinha um novo formato para a Apple; mesmo que a surpresa tenha sido estragada, ainda havia o mistério sobre como ele pareceria ao vivo, como ele funcionaria. O iPhone 5S, se os rumores se mantiverem, já é bem mais conhecido. O iPhone 4 ainda era capaz de dominar a competição ainda fraca do mundo Android. No dia 10 de setembro, as pessoas terão tido meses para escolher entre o que elas assumem ser o iPhone 5S e concorrentes como o Galaxy S4 ou o HTC One. O único motivo para esperar por um iPhone 5S seria ele ter novidades legais — e não tenho lá muita certeza se alguém acamparia do lado de fora de uma Apple Store por um leitor biométrico.

A Apple ainda assim venderá milhões de iPhones. Isso não está em discussão. Mas venderá menos do que venderia se ninguém tivesse ideia de como o iPhone 5S ou o 5C se parecem. E se você é Tim Cook, isso é inaceitável.

Um pequeno alívio?

O mais interessante sobre as previsões da Apple é que elas são, em sua maior parte, limitada a seus produtos móveis. O MacBook Air ganhou uma reformulação que chacoalhou a indústria em 2010 e ninguém conseguiu prevê-la. Neste ano o Mac Pro foi uma revelação — e serviu para provar que a Apple ainda é capaz de inovar um bocado. É seguro assumir que ninguém viu essa chegando também. Talvez sejam motivos para que Cupertino se sinta reconfortado.

A apresentação do Mac Pro em junho foi um exemplo particularmente bom de um produto que a Apple foi capaz de esconder completamente. E a forma com que isso se deu foi enganosamente simples: o Mac Pro não existia. Nem na época, nem hoje, exceto por um reluzente protótipo na WWDC. Ainda não há data para ele no site da Apple, e muitos dos seus componentes cruciais não estão prontos para fazerem suas estreias. Ele não vazou porque não havia o que vazar, pelo menos não fora do quartel-general da Apple.

A Apple foi capaz de anunciar o Mac Pro com tanta antecedência em relação ao seu lançamento porque ele foi uma ruptura brutal com os esforços anteriores da Apple e com a concorrência, e porque a essa altura ele é um produto de nicho. Não importa se a Apple levar seis meses para lançar o Mac Pro; mesmo que alguém queira copiar seu design cilíndrico, com sorte ele seria lançado no final de 2014. No fim deste ano? Sem chance.

Não há espaço para esse luxo quando se trata do iPhone ou do iPad. O espaço entre o anúncio desses produtos e sua disponibilidade nas lojas nunca é maior que uma semana e meia, e por um bom motivo. É uma área acirrada, uma em que todo mundo copia e todo mundo é copiado. É uma onde novos avanços acontecem a cada poucos meses. Se a Apple fosse anunciar um smartphone hoje para ser lançado no Natal, ele estaria obsoleto no dia em que as pessoas pudessem comprá-lo. Motivo pelo qual, quando o iPhone é anunciado todo ano, já existem milhões de unidades paradas em armazéns esperando para serem despachadas. É de se questionar como não existem ainda mais vazamentos.

O simples fato de que a Apple vaza — e a Samsung vaza, e o Nexus vaza e todo produto de todo tipo vaza — permanecerá pelo tempo que houver interesse na Apple, na Samsung, no Nexus. Eles continuarão na proporção do quão esperados são esses dispositivos, até que smartphones e tablets se tornem commodities, que passemos a não nos importar tanto com eles.

Isso pode acontecer mais cedo do que você imagina. Na realidade, estamos quase lá. De alguma forma isso é uma vergonha; o mistério sempre foi a parte divertida. Mas ele vai embora por um bem maior, a menos que todos nós tenhamos mordido uma isca de proporções massivas.

E então, novamente, coisas estranhas terão acontecido.

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