Assentamento na Turquia pode reescrever história da civilização humana

Assentamentos ao redor do templo de Göbekli Tepe sugerem que o sedentarismo se originou pela grande oferta de alimentos, e não o contrário. Entenda.
Civilização turca
Imagem: Teomancimit/Wikimedia Commons/Reprodução

O Göbekli Tepe, na Turquia, é considerado o templo mais antigo do mundo. Ele data de 9.600 a.C., o que remonta ao início do período Neolítico. Pesquisadores estudam o local desde a década de 1990, mas só agora perceberam um detalhe que pode reescrever a história dos primórdios da civilização humana.

Por muito tempo, arqueólogos acreditaram que o Göbekli Tepe era apenas um templo solitário em meio a rotas de comunidades nômades que viveram há quase 12 mil anos. Novas evidências divugadas em uma reportagem do jornal El País sugerem que o santuário é na verdade o núcleo de uma série de assentamentos sedentários com estruturas sociais estratificadas.

Ou seja, as pessoas não estavam apenas passando pelo local, mas viviam fixamente ao redor dele. Os cientistas chegaram a esta conclusão após identificar dezenas de sítios arqueológicos em áreas próximas que datam mais ou menos da mesma época em que Göbekli Tepe foi ocupada. 

Os assentamentos possuem tamanhos diferentes, o que parece indicar uma hierarquia entre eles. No entanto, todos possuíam artefatos semelhantes, sugerindo que as pessoas que viviam ali habitavam um mesmo universo.

Não foram encontrados na região indícios de domesticação de plantas ou animais, apenas milhares de ossos de animais selvagens. Tais evidências indicam que os moradores dos assentamentos eram caçadores-coletores. 

Ao mesmo tempo, não eram nômades. Na época, a temperatura do globo começava a aumentar, o que parece ter contribuído para o aumento de plantas e animais selvagens na região. A fertilidade do local parece ter atraído diferentes povos, que montaram ali suas “vilas”.

É comum pensar que o sedentarismo se originou da falta de alimentos, fazendo com que os humanos passassem a cultivar em suas terras. Neste caso, o que aconteceu foi o contrário: os habitantes dos assentamentos não precisavam se deslocar para arranjar comida, já que ela estava sendo oferecida em grande quantidade perto de suas habitações.

Em entrevista ao El País, o professor de arqueologia Necmi Karul explicou: “a sedentarização veio da abundância e não da escassez”.

Até o final do século 20, a agricultura e a pecuária foram apontadas como a principal causa para o fim do nomadismo. Essa transição ficaria conhecida como Revolução Neolítica, que marcaria o início da civilização humana. Estudos e achados recentes, como os assentamentos na Turquia, podem contribuir na remodelação dessa história.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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