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‘Assintomático’, ‘transmissão aérea’ e outros conceitos sobre o coronavírus: o que eles significam?

Vários termos sobre o coronavírus, como 'assintomático', 'transmissão aérea' e muitos outros são usados nas comunicações, mas o que eles significam?

Foto: Ted Aljibe/AFP/Getty Images

Nesta quinta-feira (9), a Organização Mundial da Saúde anunciou formalmente uma mudança de postura em relação a duas questões importantes relativas ao COVID-19. A organização afirmou que as pessoas podem espalhar o vírus enquanto estão assintomáticas e que a transmissão aérea do vírus é possível em determinadas circunstâncias, como salas lotadas com pouca ventilação.

Espera aí. Já não sabíamos que pessoas sem sintomas podem espalhar o vírus? E nós já não sabíamos que é possível transmitir o vírus pelo ar — daí todas as máscaras? O problema aqui é que cientistas e autoridades de saúde usam termos com significados muito específicos — “transmissão aérea”, conforme definido pela OMS, não é o que a maioria das pessoas pensa quando ouve a palavra.

A confusão sobre os termos tem sérias consequências, pois as pessoas podem presumir que há um debate aberto sobre a necessidade de máscaras (não existe) ou que os cientistas não têm certeza se as pessoas que não se sentem doentes podem espalhar o vírus (elas definitivamente podem). Então, vamos esclarecer alguns termos.

“Assintomático” x “Pré-sintomático” x “Subclínico”

Em junho, a Organização Mundial da Saúde foi muito criticada por grande parte da comunidade científica quando uma de suas especialistas sugeriu que a transmissão assintomática do vírus era muito rara. Ela logo recuou e considerou seus comentários como um mal-entendido, enfatizando que algumas pesquisas mostram a importância da transmissão assintomática e que é uma questão mais complexa do que ela sugeriu inicialmente.

Por que isso é complexo? Bem, porque ser assintomático pode realmente significar várias coisas, dependendo de como — e quando — você faz a pergunta.

Definitivamente, existem pessoas que contraem o coronavírus, testam positivo para ele e nunca se sentem doentes durante todo o tempo que o corpo leva para limpar a infecção. Essas pessoas podem ser consideradas verdadeiramente assintomáticas.

Outras pessoas podem ter o vírus suficiente dentro deles para o teste dar positivo, não se sentirem doentes inicialmente, mas depois apresentar sintomas alguns dias depois. Essas pessoas são chamadas pré-sintomáticas.

Você também tem pessoas infectadas, mas com sintomas tão leves que passam despercebidos ou são confundidos com outra coisa, como alergias ou jet lag; estas seriam chamados casos subclínicos.

No momento, muito trabalho está sendo feito para descobrir com que frequência cada um desses resultados ocorre e qual a capacidade de cada grupo de transmitir o vírus a outros. Dos três, é provável que pessoas pré-sintomáticas possam espalhar prontamente o COVID-19 nos poucos dias antes do início dos sintomas. É por isso que todos, não apenas as pessoas que se sentem doentes, devem usar uma máscara facial na presença de outras pessoas.

Infelizmente, quando a especialista da OMS disse que a transmissão “assintomática” era rara, muitas pessoas tomaram isso como evidência de que apenas pessoas que estão se sentindo mal precisam de máscaras, o que não é o caso.

Transmissão pelo ar

Na terça-feira (7), escrevi sobre o complexo e cada vez mais proeminente debate científico sobre se o coronavírus é transmitido através do ar. A chave para entender esse debate é que, haja verdadeiramente a “transmissão aérea” ou não, o coronavírus se espalha pelo sistema respiratório, o que significa que você pode pegá-lo ao respirar.

Nesta semana, um grupo de mais de 200 cientistas solicitou à Organização Mundial da Saúde que reconhecesse o potencial de transmissão aérea do COVID-19, e eles rapidamente obtiveram resultados. Na terça-feira (7), o New York Times informou que a OMS planejava responder às preocupações da carta e provavelmente emitiria recomendações novas e atualizadas ao público em relação à transmissão aérea em breve.

Alguns leitores (ou leitores de manchetes, pelo menos) criticaram meu artigo por parecer argumentar que a COVID-19 não se espalha pelo ar ou que máscaras são inúteis — o que não é dito em nenhum momento pelo artigo. Em outros lugares, tive amigos em pânico achando que o vírus, se transportado pelo ar, é impossível de evitar e estamos todos condenados. Então, vamos botar a bola no chão.

Cientificamente, uma doença transmitida pelo ar significa que ela pode se espalhar facilmente através de aerossóis microscópicos que se espalham para longe e permanecem no ar por horas. O sarampo, por exemplo, é uma doença transmitida pelo ar, e é por isso que é tão contagiosa.

Uma doença respiratória não transportada pelo ar, por outro lado, se espalharia por gotículas maiores, como as de espirros e tosse, que não viajam muito longe e caem no chão rapidamente. A gripe é normalmente considerada um vírus não aéreo.

No entanto, alguns cientistas estão argumentando que essa distinção binária não é apropriada — que os vírus de propagação de gotículas podem ser transportados temporariamente no ar sob as condições corretas, como em uma sala mal ventilada onde as pessoas estão conversando ou cantando.

A grande questão agora é se essa transmissão aérea de curta duração está desempenhando um papel significativo na disseminação da pandemia de COVID-19. Mas, quer o vírus se espalhe amplamente através de gotículas ou por aerossóis, ele está viajando pelo ar pelas bocas e narizes, o que significa que as máscaras faciais ajudam a reduzir a propagação, pois ajudam a bloquear os aerossóis e as gotículas.

Esta é uma doença nova e a ciência está em constante evolução, mas sabemos que é inteligente usar uma máscara em público, evitar espaços internos cheios de gente e evitar contato próximo com pessoas fora de sua casa o máximo que puder.

Saber que o vírus pode ser transmitido pelo ar pode levar a certas precauções extras para os profissionais de saúde ou para espaços internos, como o uso de luz ultravioleta para matar o vírus que permanece no ar ou a instalação de uma melhor ventilação para dispersar os aerossóis.

Doença “leve”

Muitas pessoas que pegam o coronavírus se recuperam dele sem nenhum problema. No outro extremo do espectro, existem pessoas que têm infecções com risco de vida ou complicações secundárias que podem ser fatais. Mas, no meio, existem os casos “leves” — pessoas que não estão doentes o suficiente para serem hospitalizadas, mas que podem estar mais doentes do que nunca na vida.

O fato é que leve é ​​um termo subjetivo. Certamente, existem alguns critérios que os médicos usam ao classificar um caso como leve, moderado ou grave. Pessoas com COVID-19 leve normalmente estariam livres de pneumonia, por exemplo. Mas, além disso, uma infecção clinicamente considerada leve ainda pode afetar gravemente a vida de uma pessoa muito depois de sua chegada e desaparecimento.

Tomemos, por exemplo, a perda de olfato e paladar, que agora é conhecida como um sintoma comum de COVID-19. Para algumas pessoas, essa perda pode acabar sendo permanente ou seus sentidos podem ficar enfraquecidos para sempre. Como um neurologista disse ao Gizmodo em março, é uma experiência que, se você é jovem, significa que você passará décadas sem sentir o cheiro da sua comida favorita.

Os cientistas também estão descobrindo que mesmo casos aparentemente leves podem ter sérias consequências para a saúde a longo prazo. Sabe-se que algumas pessoas com sintomas respiratórios leves de COVID-19 desenvolvem problemas neurológicos como derrame, fraqueza muscular e ataques de delírio, que provavelmente são causados ​​por uma resposta imune defeituosa à infecção.

Em outros casos leves, os médicos encontraram evidências de danos nos pulmões que poderiam afetar a saúde respiratória das pessoas no longo prazo. Mesmo o risco de diabetes recém-iniciado pode ser possível com uma infecção leve.

Outros que pegam a chamada doença leve podem ficar extremamente doentes com febre, tosse e náusea por muitas semanas — uma experiência assustadora que a maioria de nós normalmente não chamaria de leve.

Basicamente, o coronavírus é como uma bala de canhão gigante na piscina de doenças que recebemos regularmente: a maioria de nós ficará bem com o respingo extra, mas algumas pessoas — pessoas que amamos — não ficarão. Levará anos para descobrir a frequência com que essas complicações a longo prazo acontecem, mas quanto mais difundida essa pandemia se tornar, mais danos ocorrerão.

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