Astrônomos descobrem planeta espremido entre duas estrelas

Os cientistas afirmam que a descoberta pode mudar a maneira como a ciência enxerga a formação planetária.
Astrônomos descobrem planeta espremido entre duas estrelas
Imagem: NASA/Goddard Space Flight Center/Reprodução

Astrônomos identificaram um comportamento confuso de um planeta descoberto há mais de 20 anos: ele fica espremido entre duas estrelas. Cientistas acreditavam que o planeta era impossível de existir pela proximidade a suas duas estrelas binárias.

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Com o dobro do tamanho de Júpiter e localizado no sistema Nu Octantis, a 72 anos-luz da Terra, o planeta orbita as estrelas de modo não muito convencional.

De acordo com um estudo recente, publicado na revista Nature, cientistas sugerem uma teoria que explica como o planeta pode existir entre as duas estrelas.

Os astrônomos da Universidade de Hong Kong afirmam que o planeta e uma das estrelas orbitam a segunda estrela em direções opostas. Desse modo, o planeta espremido entre duas estrelas é um planeta retrógrado, orbitando a estrela de modo oposto. Geralmente, planetas em sistemas binários orbitam as duas estrelas igualmente ou apenas uma das estrelas.

Por isso, em 2004, quando o astrônomo David Ramm, da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, observava o movimento da dupla de estrelas do Nu Octantis e percebeu um misterioso sinal que se repetia, a comunidade científica entrou em debate.

Alguns astrônomos afirmavam que o sinal era uma evidência de que havia um planeta no sistema, mas outros acreditavam ser impossível pelo tamanho e proximidade das estrelas. Ramm, que descobriu o planeta, é um dos autores do estudo que conclui que ele existe e está espremido entre as duas estrelas.

Como os astrônomos descobriram o planeta espremido entre as estrelas

Conforme o estudo, por ser retrógrado, a configuração do sistema estelar é estável, mesmo que o planeta se mova entre as duas estrelas.

Os cientistas conseguiram chegar a essa conclusão através do espectrógrafo HARPS, do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile. Além do telescópio de 3,6 metros, a repetição dos sinais pelo planeta, durante anos de observação, foi crucial para identificá-lo.

Os cientistas ressaltam que, caso o planeta não existisse, não haveria essa quantidade de dados tão consistentes.

“A existência deste planeta é polêmica porque não há precedentes de observações anteriores e nós, cientistas, costumamos achar que planetas se formam com uma órbita convencional quando surgem ao mesmo tempo em que as estrelas”, afirmou Man Hoi Lee, coautor do estudo.

Além do planeta entre as duas estrelas, o sistema Nu Octantis possui outra característica exótica. Os cientistas do estudo descobriram que uma das estrelas é uma anã branca e, portanto, chegou ao fim de seu ciclo de vida.

Nesse período, a estrela fica mais densa e menor. Consequentemente, a trindade do sistema é mais complexa porque modelos matemáticos demonstraram que a órbita atual do planeta era impossível quando a estrela era mais jovem.

O estudo levanta duas hipóteses com base na história do sistema. A primeira é de que planeta orbitava ambas as estrelas e mudou sua trajetória quando uma se tornou anã-branca.

A outra hipótese é que a formação do planeta ocorreu pela massa que estrela ejetou quando se transformou em uma anã-branca.

Segundo os cientistas, observações futuras, bem como novos modelos matemáticos, podem descobrir qual cenário foi mais provável.

De todo modo, a estrela se tornar uma anã-branca é o motivo pelo qual o planeta fica espremido entre duas estrelas. E ambas as hipóteses são inéditas para a astronomia.

“Observações de outros planetas em sistemas binários estreitos com componentes estelares em estágio final fornecerão pistas adicionais para podermos entender melhor a formação e evolução dinâmica de sistemas planetários”, diz o estudo.

Pablo Nogueira

Pablo Nogueira

Jornalista e mineiro. Já escreveu sobre tecnologia, games e ciência no site Hardware.com.br e outros sites especializados, mas gosta mesmo de falar sobre os Beatles.

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