Como astrônomos vão solucionar o mistério da “megaestrutura alienígena”

Como cientistas pretendem agir nos próximos meses para tentar chegar a uma resposta para o mistério envolvendo a estrela KIC 8462852

A KIC 8462852 rapidamente se tornou um dos maiores mistérios astronômicos da década. Ainda vai demorar um tempo até termos respostas concretas sobre essa estranha estrela brilhante, mas os astrônomos pretendem ir a fundo para descobrir o que ela significa. Como eles vão fazer isso?

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“Se conseguirmos observá-la novamente no ato de escurecimento, isso ajudaria bastante,” disse Jason Wright, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA, ao Gizmodo.

Wright é o astrônomo que fez a KIC 8462852 ficar famosa no ano passado ao sugerir que a estrela poderia ser obstruída por uma megaestrutura alienígena. Ele, junto com vários outros astrônomos com quem falei recentemente, concorda que a melhor forma de entendermos esta estrela estranha é observando-a enquanto faz alguma coisa estranha.

A KIC 8462852, também conhecida como “estrela de Tabby”, foi inicialmente detectada nos dados do telescópio espacial Kepler em setembro passado. Apesar de ser uma estrela comum da sequência principal tipo F – um pouco maior e mais quente que nosso sol – ela chamou a atenção de astrônomos. Durante a observação de dados coletados ao longo de quatro anos, a emissão de luz da estrela diminuiu intermitentemente, algo que não é consistente com nenhum fenômeno astronômico que conhecemos. Explicações para o bizarro comportamento da estrela vão de um enxame de cometas, passando por gravidade escurecendo, e também megaestruturas alienígenas. É fácil saber qual dessas possibilidades desencadeou uma histeria global.

Mas a KIC 8462852 não parou ainda de nos surpreender. O mistério se aprofundou na semana passada quando Bradley Schaefer, da Universidade do Estado de Louisiana decidiu observar placas fotográficas antigas da estrela no céu. O que ele percebeu foi impressionante: ao longo do último século, a emissão total de luz da estrela caiu cerca de 19%. A estrela não estava apenas pulverizando – ela está desaparecendo completamente.

“Não há precedentes para uma estrela da sequência principal variar tanto em brilho como essa,” Schaefer disse ao Gizmodo. “Ver essa estrela escurecer em 20% em um século é mais do que apenas espantoso.”

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Mudanças no brilho da KIC 8462852 ao longo de um período de 1500 dias observados pelo Kepler. Os painéis de baixo são versões do de cima concentradas entre os dias 800 e 1500. Via Tabetha Boyajian.

“Estávamos perplexos quando vimos isso nos dados do Kepler, e se fosse apenas isso ainda estaríamos perplexos”, disse Wright. “A hipótese do cometa era ótima porque podia explicar quase qualquer coisa, mas ela não funciona com esses novos dados.”

O que sabemos, de acordo com Wright, é que o que quer esteja obstruindo a estrela, não está emitindo nada com força no espectro infravermelho, o que significa que não é algo quente. Isso significa que estamos falando em algo que está em uma órbita distante, o que não melhora nossas possibilidades de dar uma boa olhada no que é.
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A KIC 8462852 escurecendo com o passar do tempo. Os diamantes azuis representando medidas feitas entre 1890 e 1989, enquanto as linhas sólidas e pontilhadas são tendências ajustadas. Via Schaefer.

Mas tem um jeito dos astrônomos entenderem o que está causando o escurecimento da estrela – e para isso eles precisam olhar para a KIC 8462852 durante esse evento.

Quando o Kepler observou a KIC 8462852 escurecer anos atrás, ele só estava coletando luz branca – agregando informações ao redor do espectro visível. Tudo o que podemos fazer com esses dados é determinar os eventos de escurecimento. Mas se acontecer novamente, os astrônomos estariam preparados para fazer as medidas precisas em uma gama maior de comprimentos de onda. Conforme a luz estelar da KIC 8462852 passa através de qualquer que seja o material que a está obstruindo, certas cores são absorvidas mais do que outras. Isso nos daria uma impressão digital espectral, que poderia ser usada para definir para qual tipo de material estamos olhando.

“A partir do espectro, podemos ver linhas de absorção de qualquer gás associado com o ‘ocultador'”, disse Shaefer. “Podemos ver uma vermelhidão que apontaria para o ocultador sendo principalmente poeira, ou poderíamos ver uma cor neutra que apontaria para um corpo sólido. Isso diminuiria bastante as possibilidades.”

Nos próximos meses, astrônomos vão se concentrar nisso. A KIC 8462852 está atrás do Sol e só é visível a luz do dia, tornando-a impossível de ser observada do solo. De acordo com Tabetha Boyajian, a astrônoma de Yale que descobriu a estrela, alguns poucos satélites a estão observando, mas a cobertura temporal não é ótima. “No geral, estamos usando esse tempo para nos preparar para o que fazer quando a estrela ficar visível novamente dentro de alguns meses,” disse.

Isso inclui a discussão de diferentes cenários, e descobrir quais dados vão ser necessários para confirmar ou refutar cada um deles. “Quando o escurecimento começar novamente, estaremos preparados para observá-los com tudo o que temos,” disse.

Wright também disse que apesar de duas pesquisas independentes não terem detectado nenhuma evidência de tecnologia extraterrestre, o programa SETI da Universidade da Califórnia em Berkeley agora está trabalhando com a iniciativa bilionária de caça a extraterrestres Breakthrough Listen, e planeja conduzir uma varredura ampla das redondezas da estrela ao longo dos próximos meses. A possibilidade de estarmos observando algo como uma estrela de Dyson é bastante improvável, no entanto… não foi completamente descartada a hipótese.

“A hipótese de ETs é pouco provável,” disse Wright, lembrando que ela pode ser invocada para praticamente qualquer coisa – a falácia de envolver alienígenas em tudo o que não conseguimos explicar em um primeiro momento.

De qualquer forma, podemos apostar que os astrônomos não vão descansar até descobrirem uma explicação para tudo isso.

Imagem de topo via Harun Mehmedinovic/Gavin Heffernan/projeto SKYGLOW

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