
Auroras podem emitir barulho? Veja o que diz a ciência
Há séculos, quem observa o espetáculo de luzes das auroras boreais, relata ouvir barulhos misteriosos, como sons de algo se quebrando ou queimando.
Até poucas décadas, a comunidade científica via tais relatos como imaginação ou até mesmo folclore. Mas, agora, a própria comunidade científica reconsiderou a afirmação após estudos recentes que comprovam os barulhos em auroras.
Aliás, desde o final da última década, pesquisadores europeus publicaram estudos detalhando como os sons se propagam de maneira perceptível, mas sob condições atmosféricas específicas.
A evidência mais concreta dos barulhos das auroras está em um estudo de 2022, publicado por Unto K. Laine, professor da Universidade de Aalto, na Finlândia. O estudo revela, aliás, que o barulho das auroras são “muito mais comuns do que se pensava”.
Além disso, de acordo com o estudo, as auroras emitem tais sons mesmo quando estão invisíveis.
Laine identificou o barulho das auroras quando realizou em um vilarejo da Finlândia. O cientista captou centenas de possíveis emissões do barulho das auroras em uma noite de visibilidade do fenômeno.
Ao comparar os dados de atividade geomagnética do Instituto Finlandês de Meteorologia, Laine descobriu que era possível prever quando os sons das auroras aconteceriam. A propósito, o estudo destaca que é possível prever tais sons com 90% de precisão.
Mas como as auroras emitem barulho?
A ciência explica que os sons das auroras são decorrentes da “hipótese de inversão de camadas”.
A hipótese afirma que, em noites frias e tranquilas, ocorre uma inversão de temperatura que se forma onde o ar quente se posiciona acima do ar frio e próximo ao solo.
Tempestades geomagnéticas, ou explosões solares, que causam a atividade de partículas elétricas das auroras, também são responsáveis pela camada de inversão.
Desse modo, a atividade solar causa os barulhos similares a estouros em uma distância de 75 km acima do solo.
“Até mesmo um pequeno vento pode prevenir o surgimento de uma camada de inversão, ou seja: as auroras não vão emitir sons porque o fenômeno demanda condições extremamente específicas”, afirmou o cientista em um comunicado à imprensa.
Além de Laine, a comprovação científica dos sons das auroras também ocorreu pela pesquisadora Fiona Amery, do Instituto de Pesquisa Polar da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Amery analisou relatos históricos que datam do fim do século 19, descobrindo descrições que se alinham aos sons emitidos pelas auroras boreais, como o barulho de arbustos queimando.
Contudo, apesar da ciência comprovar o fenômeno, ouvir sons de auroras é uma experiência muito rara, que ocorre em cerca de 5% das auroras intensas.
Para ouvir os sons das auroras, é preciso sorte: a combinação de uma forte atividade geomagnética com condições de inversão de temperatura, bem como um clima estável e quase zero barulho ao redor.
Além disso, mesmo quem tem essa sorte, acaba não percebendo os sons das auroras por não saberem o vínculo desses sons com a atividade geomagnética.