Uma bactéria desconhecida tem feito cães ficarem doentes e pode infectar humanos

Pesquisadores veterinários nos EUA afirmam ter descoberto uma nova bactéria transmitida por carrapatos e causadora de doenças em cães. Até agora, apenas alguns casos foram documentados nos últimos dois anos, e com a morte de um cachorro. No entanto, é provável que casos dessa patogenia misteriosa tenham passado despercebidos por um tempo, o que só […]
Cães. Imagem: Matt Cardy (Getty Images)
Imagem: Matt Cardy (Getty Images)

Pesquisadores veterinários nos EUA afirmam ter descoberto uma nova bactéria transmitida por carrapatos e causadora de doenças em cães. Até agora, apenas alguns casos foram documentados nos últimos dois anos, e com a morte de um cachorro. No entanto, é provável que casos dessa patogenia misteriosa tenham passado despercebidos por um tempo, o que só aumenta o potencial de ameaça para cães e também para humanos.

A descoberta foi detalhada na edição deste mês da Emerging Infectious Diseases, um jornal administrado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

De acordo com o relatório, o primeiro caso foi encontrado em um cão de 10 anos de idade, macho, castrado e mestiço, no estado do Tennessee, em 2018. O animal ficou febril, letárgico e sem vontade de comer, enquanto seu sangue continha baixos níveis de plaquetas. Seu dono se lembra de ter removido um carrapato do cachorro nas duas semanas anteriores. Amostras de sangue revelaram que o cão era portador da Rickettsia, um grupo de bactérias conhecido por causar uma variedade de doenças em muitos animais e também a febre maculosa em pessoas. Felizmente, antibióticos parecem tratar a doença sem grandes complicações.

O próximo caso, de maio de 2019, envolveu um cão da raça Boston Terrier de 9 anos de idade, também macho e castrado, diagnosticado com sintomas semelhantes, bem como problemas nas articulações. Assim como o caso anterior, o cachorro testou positivo para a bactéria Rickettsia, e antibióticos junto com outros medicamentos o ajudaram a recuperar a saúde em um período de cinco meses.

O terceiro e último caso aconteceu em agosto de 2019 e vem de Oklahoma, com um terrier macho, castrado, mestiço, de 9 anos e com os mesmos sintomas anteriores. O animal testou positivo para essas bactérias, mas infelizmente, apesar do tratamento, o cão desenvolveu uma doença renal grave e acabou sendo sacrificado. Mais tarde, ficou claro que ele havia sido examinado por um veterinário um ano antes, quando sentiu febre e fadiga após uma picada de carrapato.

Embora o cachorro tenha testado positivo para anticorpos para a bactéria Rickettsia na época, a infecção real não foi detectada, e os antibióticos que ele recebeu pareceram limpar seus sintomas inicialmente. É provável que alguma outra doença subjacente envolvendo seu sistema imunológico, não apenas a infecção, tenha contribuído para agravar os problemas renais.

Em todos os três casos, os cães carregavam anticorpos que responderam à Rickettsia rickettsii, uma bactéria que é a causa comum da febre maculosa. A questão é que as bactérias reais coletadas desses cães não correspondiam geneticamente a nenhuma espécie de Rickettsia conhecida pelos cientistas. Portanto, embora todos esses cães tivessem febre maculosa, a culpada pela doença é provavelmente uma bactéria nova.

A análise genética sugere que ela está intimamente relacionada a duas outras espécies de Rickettsia conhecidas por causar doenças em pessoas. E daí vem o perigo, pois, se pode infectar nossos cães de estimação, também tem potencial para adoecer seres humanos.

As descobertas não devem ser uma surpresa. Nas últimas duas décadas, cientistas descobriram vários novos germes causadores de doenças que podem ser disseminados por carrapatos e insetos. Como os cães citados tinham anticorpos que reagiam de forma cruzada à causa mais comum da febre maculosa, é possível que esta espécie desconhecida tenha passado despercebida e deixado cães doentes por um longo tempo. Isso se agravou ainda mais porque os veterinários podem ter atribuído os casos a bactérias que já são conhecidas.

O mesmo pode aplicar às pessoas. Ao longo do tempo, mais pacientes testaram anticorpos contra a bactéria R. rickettsii, e alguns cientistas temem que haja outras espécies potencialmente causadoras de doenças que estão sendo confundidas com a R. rickettsii, uma vez que os médicos muitas vezes só testam os anticorpos e não fazem testes para identificar uma espécie específica de bactéria.

“Para mim, saber que esse patógeno deixa os cães doentes aumenta a probabilidade de que ele também possa adoecer as pessoas. Os cães são bons receptores para doenças transmitidas por carrapatos e podem desenvolver doenças semelhantes às pessoas”, disse a autora do estudo, Barbara Qurollo, professora associada de pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual da Carolina do Norte.

Qurollo também é codiretora do Laboratório de Diagnóstico de Doenças Transmitidas por Vetores da universidade. E foi por meio do laboratório, que testa com frequência amostras de sangue de animais doentes enviados por veterinários, que ela e seus co-autores encontraram o germe misterioso.

A febre maculosa em humanos é a doença transmitida por carrapatos mais mortal já conhecida, com uma taxa de mortalidade de até 25% se não for tratada. Felizmente, com o tratamento imediato com antibióticos, a taxa de mortalidade cai para menos de 1%. A julgar por esses casos caninos, parece que a nova variedade da bactéria tem os mesmos níveis alcançados por tratamentos que já existem. Só nos EUA, entre 4.000 e 6.000 mil novos casos são relatados todos os anos.

Além dos três cães descritos neste estudo, Qurollo e sua equipe encontraram quatro outros cães em 2020 que parecem ter contraído a bactéria recém-descoberta. Todos desenvolveram sintomas, mas aqueles que foram tratados com o tratamento antibiótico padrão para febre maculosa se recuperaram.

Apesar da descoberta desses casos, geralmente leva tempo e mais pesquisas para confirmar que um novo germe está causando a doença. Para esse fim, estudos estão em andamento para identificar as espécies de carrapatos que podem espalhar essa nova bactéria, os hospedeiros animais em que ela se esconde e a frequência com que infecta cães e possivelmente pessoas.

Quollo e sua equipe também estão trabalhando na tentativa de cultivar a bactéria em laboratório para que possam criar um teste diagnóstico específico para ela – o que não é fácil, pois essas bactérias só podem sobreviver por muito tempo dentro das células que revestem os vasos sanguíneos.

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