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Cientistas buscam entender como nosso cérebro reage à beleza

Cientistas buscam descobrir como o nosso cérebro reage as diferentes formas de beleza que se apresentam em nosso cotidiano.

Imagem: Kai Schreiber/Flickr/CC

O conceito de beleza sempre esteve em pauta nas discussões socioculturais, principalmente quando ligadas a indústria da moda. Existem vários fatores que fazem com que digamos o que é algo esteticamente belo, levando em consideração parâmetros como simetria e até os efeitos dos hormônios. Mesmo que diversos estudiosos busquem compreender a beleza ao longo dos séculos, a ciência parece ter posto seu time em campo, pois um recente estudo da Universidade Tsinghua em Pequim confirma que encontrar respostas pode não ser tão fácil.

Para focar na observação de como nosso cérebro responde a mostras do que é considerado belo, foram reunidos dados de muitos estudos já publicados para ver se surgia um resultado consistente. Primeiro a equipe investigou todos os estudos de imagens cerebrais que apresentavam respostas neurais das pessoas às artes visuais e a diferentes rostos, para buscar pontos de atratividade. Depois de revisá-los, os pesquisadores ficaram com os dados de 49 deles, representando um total de 982 participantes.

Os materiais foram classificados em diferentes tipos de beleza, o que permitiu um teste conceitualmente direto da hipótese do centro de beleza. Segundo essa hipótese, se a beleza considerada comum e era processada em uma região específica do cérebro, essa área deveria aparecer nos estudos, independentemente do objeto de análise. Se este local não fosse encontrado, tudo seria considerado bonito à sua maneira, sem qualquer distinção mais crítica.

Durante o processo de metanálise, que utilizou uma técnica conhecida como estimativa de probabilidade de ativação (ALE), a equipe de pesquisa descobriu que tanto as artes quanto os rostos demonstravam de maneira confiável atividade em regiões cerebrais bem definidas. Essas regiões, entretanto, não se sobrepunham, desafiando a ideia de um centro de beleza. Isso pode significar que a beleza é plural e está embutida nas particularidades do seu meio.

Essa não foi a primeira (e provavelmente não será a última) iniciativa da ciência para tentar entender a beleza. Em 2019, durante um outro estudo, cientistas do Instituto Max Planck de Estéticas Empíricas, na Alemanha, descobriram que existe um tipo de “código universal” dentro do cérebro humano que define o que entendemos como belo. Com o uso de ressonância magnética (MRI), eles monitoraram a atividade cerebral de diversos pacientes enquanto exibiam diversas imagens que são consideradas geralmente consideradas belas.

Contudo, nos locais responsáveis pelo processamento visual, as imagens criaram padrões divergentes. Na rede de modo padrão (RMP), todas as imagens apresentaram comportamentos bem similares umas das outras, independente de ser uma obra de arte ou uma paisagem. Isso fez os cientistas chegarem à conclusão de que pode existir em nosso cérebro um “código universal” que define a beleza estética em todas as suas formas. A principal surpresa se encontrou na funcionalidade do RMP sobre como os indivíduos absorvem o mundo exterior, já que este local do cérebro é destinado a autorreflexão e na imaginação.

A ideia de que uma área específica do cérebro responde à beleza já vem sendo discutida há algum tempo. Em uma palestra no TED, Anjan Chatterjee, professor de neurologia na Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, disse que rostos bonitos ativam partes de nosso córtex visual na parte de trás do cérebro, numa área chamada giro fusiforme, que é especialmente ajustada ao processamento de rostos. Também acredita-se que uma área adjacente denominada complexo occipital lateral, que é especialmente adaptada ao processamento de objetos.

Ele também afirma que nosso cérebro responde automaticamente à beleza através da ligação da visão e do prazer e que já temos um estereótipo de beleza enraizado. “Dentro do córtex orbitofrontal, existe atividade neural sobreposta em resposta à beleza e ao bem, e isso acontece mesmo quando as pessoas não estão pensando explicitamente sobre beleza ou bondade”. Isso permite influência direta na criação de gatilhos biológico dos diversos efeitos sociais da beleza, como no caso de pessoas consideradas mais belas, terem mais oportunidades e recompensas, o que podemos exemplificar tanto na vida real, com pessoas que sofrem alguma anomalia ou deformidade, quanto no próprio entretenimento, como no famoso personagem Quasímodo, o Corcunda de Notre Dame.

Fato é que nosso cérebro é responsável por nosso filtro de visualizar a beleza em tudo que nos cerca, seja nas pessoas, objetos, natureza e produtos. Por mais complexo que ele seja, com várias pesquisas na corrida por compreendê-lo, já existe uma concordância do que é exigido socialmente para ser aceito como uma pessoa bela, o que nos leva ao aumento de cirurgias plásticas e cada vez mais movimentos militantes indo contra a padronização dos corpos. Pelo que parece, tais embates ainda irão permanecer por algum tempo.

[Scientific American, Canaltech, TED]

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