Os argumentos a favor e contra o Bitcoin

O Silk Road, maior site anônimo de venda de drogas, foi apreendido pelo FBI. Ele era famoso por realizar transações apenas com Bitcoins. Então, é claro, a moeda virtual voltou aos holofotes. Depois dessa, o Bitcoin vai sobreviver? Ele deveria sobreviver? Vamos conversar sobre isso. Transações virtuais não deveriam parecer estranhas. Cada vez lidamos menos […]

O Silk Road, maior site anônimo de venda de drogas, foi apreendido pelo FBI. Ele era famoso por realizar transações apenas com Bitcoins. Então, é claro, a moeda virtual voltou aos holofotes. Depois dessa, o Bitcoin vai sobreviver? Ele deveria sobreviver? Vamos conversar sobre isso.

Transações virtuais não deveriam parecer estranhas. Cada vez lidamos menos com dinheiro vivo: os brasileiros usam mais o cartão que dinheiro para pagar compras, por exemplo. E alternativas como banco online, NFC e outros continuam a se popularizar.

Mas o Bitcoin é algo bem diferente: trata-se de algo realmente digital (ainda que haja versões físicas dele), não vinculado a um governo ou entidade, que você pode obter ao trocá-lo por outras moedas (reais, dólares) ou através de “mineração”.

Você pode usá-lo para adqurir bens digitais, como e-books ou músicas, ou serviços do WordPress e Mega – explicamos o procedimento aqui. Mas o Bitcoin também é aceito por serviços com legalidade questionável, como Usenets de pirataria, que não conseguem receber pagamentos por vias comuns. Há também o caso Silk Road, é claro. Mas apesar disso, o Bitcoin tem suas vantagens.

A favor: não é comandado por um governo ou empresa

Não existe um órgão regulador para o Bitcoin: é uma rede descentralizada que garante as transações com a moeda.

O Bitcoin é meio complicado, mas o sistema funciona mais ou menos assim: cada Bitcoin possui um registro único e público de posse atual e passada. Então, a cada 8 minutos, uma rede de verificadores checa a contabilidade pública do Bitcoin para ver se tudo bate com seus registros. Se tudo estiver correto, eles liberam novos Bitcoins recém-criados.

É assim que Bitcoins são regulados (e criados). É um sistema estranho, mas não é comandado por um governo ou empresa: é livre de uma forma que outras moedas não são.

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A favor: descentralização

Talvez seja meio difícil entender uma moeda sem valor intrínseco, mas outras moedas – como o real ou o dólar – também são assim. Desde que o padrão-ouro foi abandonado em 1971 nos EUA, o valor do dólar depende da confiança naqueles que a fabricam e distribuem: o Tesouro e os bancos. Da mesma forma, o real não tem lastro: é uma moeda fiduciária.

Este é a falha que o Bitcoin tenta resolver. Teoricamente, se a economia de um país entrar em colapso, o Bitcoin continuaria quase que sem restrições. Afinal, em vez de confiar em uma autoridade superior, ele depende de matemática – um algoritmo alimentado por uma rede descentralizada.

Em outras palavras, o Bitcoin poderia ser uma alternativa contra uma queda do sistema financeiro mundial; isso se ele não colapsar por motivos próprios, é claro. Ele não é perfeito, mas está separado, e isso pode ajudar.

A favor: liberdade

Outro benefício dessa falta de controle central é que o governo não pode impedir você de dar Bitcoins para quem quiser.

Em 2010, o governo dos EUA tentou silenciar o Wikileaks cortando seu suprimento de dinheiro. Bancos e empresas de cartão de crédito foram proibidos de transferir doações para o site. E é difícil negar o impacto que o Wikileaks teve no mundo. Então o Wikileaks começou a sugerir que seus usuários doassem usando Bitcoins, algo que o governo não poderia controlar ou parar.

Com certeza, essa sensação de anarquia e anonimato pode ser usada para algumas práticas fora-da-lei, mas esse tipo de liberdade permite que o Bitcoin apoie práticas que, por bem ou por mal, o governo e grandes empresas não deixarão você fazer – como defender sua liberdade ou comprar drogas.

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Contra: anonimato para o mal

Há algumas possíveis falhas neste regime de anarquia no Bitcoin. Sem qualquer tipo de regulação central, não há uma estrutura para controle. As pessoas podem aproveitar o Bitcoin para propósitos questionáveis com muita facilidade – o Silk Road estava cheio dessas pessoas.

Cada Bitcoin possui um histórico de transações, mas ele não permite identificar as pessoas que o usaram. É quase impossível rastrear alguém com base apenas em uma trilha de Bitcoins.

Sem controle e acompanhamento do governo, alguém com má intenção pode muito facilmente adquirir não apenas drogas, mas armas ou qualquer outra coisa – e sem ser rastreado. Também é possível ser indetectável usando dinheiro comum? Claro. Porém isso é ainda mais fácil com o Bitcoin.

Contra: depender de algo pouco confiável

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O Bitcoin pode ser livre das flutuações da economia de um país, mas seu valor está sujeito a diversas variações. Basta olhar para este gráfico com o preço do Bitcoin, mostrando a queda dramática após o fim do Silk Road. (O valor já se recuperou um pouco desde então.)

Ele nos diz algo sobre a natureza atual do Bitcoin. Por mais que ele seja uma alternativa a um possível colapso da economia, ele não é tão sólido assim. Longe disso. E esta não é a primeira vez que o valor da moeda virtual flutua tanto. Mas ela está longe de acabar.

Bitcoin e o futuro

Afinal, o Bitcoin deveria sobreviver? Não há resposta fácil para isso, já que – como você notou acima – os pontos positivos e negativos são bem extremos. Ele é, ao mesmo tempo, um instrumento de liberdade e uma forma de fugir da lei. É o futuro das transações, porém terrivelmente difícil de regular e controlar.

Por um lado, talvez nada disso importe. Após os acontecimentos desta semana, é cada vez mais provável que o Bitcoin seja banido aos poucos. Pode apostar que ele se tornará um alvo ainda maior para grandes governos, em especial o americano.

Além disso, ele pode acabar por conta própria: moedas virtuais não duram para sempre. Pegue o Liberty Dollar, por exemplo: após 8 anos, esta moeda privada acabou – o governo dos EUA foi atrás de seu criador acusando-o de violar leis federais.

Por outro lado, este pode ser apenas o início das moedas virtuais. Já existem diversas alternativas ao Bitcoin, como Ripple, Freicoin e Namecoin. Seu uso ainda é limitado (poucos aceitam como forma de pagamento), mas como dissemos, suas futuras encarnações terão potencial enorme para agir como dinheiro de verdade. Porém, até lá, teremos que resolver essas questões de segurança, regulação e disseminação.

O Bitcoin é difícil de derrubar, mas mesmo que acabasse, não seria o fim para as moedas virtuais.

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