Boeing cobrava a mais por itens de segurança vitais para 737 Max

Segundo especialistas ouvidos pelo New York Times, a Boeing vendia como extra itens que são essenciais para a segurança de voo do 737 Max.
Mulher chora a morte de parente que morreu no acidente da Ethiopian Airways. Crédito: Getty Images

A Boeing ganha bastante dinheiro vendendo aviões para empresas de todo o mundo. Mas se você quiser todos os detalhes para assegurar que eles não caiam do céu, às vezes isso custa uma grana a mais.

Pelo menos esta é a conclusão que alguns especialistas chegaram conforme as investigações continuam para tentar entender o que causou as quedas dos aviões na Indonésia e na Etiópia nos últimos cinco meses. Em ambos os voos, a aeronave era o Boeing 737 Max-8, e nos dois casos, o avião não contava com recursos de segurança vendidos como “extras” pela Boeing, como uma luz especial que notifica o piloto quando o software do avião pode estar obtendo uma leitura errônea.

O New York Times publicou uma nova reportagem nesta manhã citando especialistas sobre os recursos de segurança, além de observar que a FAA (Administração Federal de Aviação) não exige que tais funcionalidades impeçam as aeronaves de voarem.

“Elas são críticas e custam quase nada às companhias aéreas para instalarem”, disse Bjorn Fehrm, um analista da empresa de aviação Leeham, ao Times. “A Boeing cobra por esses itens porque pode. Mas eles são vitais para segurança.”

Como nota o Times, as duas funcionalidades de segurança são os sensores do “ângulo de ataque” e uma luz de “divergência”.

O voo 302 da Ethiopian Airlines caiu e matou 157 pessoas pouco depois de decolar em 10 de março, enquanto o voo 610 da Lion Air caiu na costa da Indonésia em 29 de outubro de 2018 e matou 189 pessoas. A suposta similaridade dos acidentes, baseado nas análises contínuas dos investigadores, fez com que países interrompessem voos com a aeronave. Os investigadores acreditam ser um problema de mau funcionamento de software e uma falha no treino de pilotos para os sistemas do avião. A Boeing promete estar trabalhando para corrigir esse defeito.

O software do Boeing 737 Max mede o ângulo do avião e automaticamente tenta corrigir a aeronave quando ele acredita que o nariz está muito alto, o que pode fazer com que o avião perca sustentação. O sistema, chamado de MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System), pode ter feito uma leitura equivocada nos dois acidentes, mas sem o opcional de luz de “divergência” para indicar que diferentes sensores podem obter leituras distintas, os pilotos não têm como saber o que estava acontecendo.

Em um comunicado enviado ao Gizmodo neste mês, a Boeing reconheceu que fez algumas “atualizações” no MCAS de novos aviões, mas que ele foi “desenvolvido para tornar as aeronaves ainda mais seguras”. O Gizmodo entrou em contato com a Boeing para maiores comentários, mas ela ainda não nos respondeu. Nós atualizaremos o texto, caso nos respondam.

O site Air Current, especializado em aviação, talvez tenha sido o primeiro a apontar o problema de que os recursos de segurança era parte do pacote adicional. Em matéria publicada em 12 de março, dois dias depois do acidente na Etiópia na manhã de 10 de março, o site diz:

Uma luz de aviso que deveria ter alertado a tripulação do problema não fazia parte do pacote da aeronave 737 da Lion Air. Um sistema guard rail não estava presente. Uma vez que a aeronave estava no ar, os dados errados do “ângulo de ataque” colidiram com uma tripulação aparentemente despreparada, com consequências trágicas, à medida que o sistema MCAS era ativado repetidamente, levando o nariz do avião a um mergulho fatal.

O preço exato dos recursos de segurança não foi divulgado, mas o que é sabido é que a Boeing tira uma grana a mais desses “recursos extras”, potencialmente chegando a 5% do preço final da aeronave, baseado em dados estimados de um relatório de 2013 da empresa de consultoria Jackson Square Aviation.

O que se sabe é que empresas aéreas de baixo custo, como a Ethiopian e a Lion Air, são menos propensas a comprar estes dispositivos extra. As empresas norte-americanas Southwest e American Airlines compraram esses dispositivos para os seus 735, segundo o New York Times. A United Airlines, não.

[New York Times e The Air Current]

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