Brasil envia tropas para combater incêndios após críticas ao governo

Governo enviou tropas para Amazônia, afirmando que terá tolerância zero contra crimes ambientais; ação veio após grande repercussão internacional.
Incêndio em Nova Santa Helena, no Mato Grosso, em 23 de agosto.
Incêndio em Nova Santa Helena, no Mato Grosso, em 23 de agosto. Crédito: Leo Correa/AP

Brasil enviou quase 44 mil soldados como parte de uma operação para lutar contra os incêndios que queimam grande parte da floresta amazônica, com autoridades afirmando que dois aviões C-130 também foram despachados, de acordo com o Daily Beast.

Após o presidente Jair Bolsonaro, que nega os efeitos das mudanças climáticas (ele chama o fenômeno de “alarmismo climático”), ter assumindo este ano e começado a minar leis e agências ambientais do país, o ritmo da destruição da Amazônia voltou a crescer.

Dados divulgados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostraram mais de 70 mil incêndios documentados até agora, com um aumento de mais de 80% em relação ao mesmo período do ano passado e o maior registrado desde 2010.

Isso tudo parece ser uma consequência direta dos ataques de Bolsonaro às leis ambientais que, supostamente, encorajaram ações ilegais de limpeza de terras, ocasionando o que ficou conhecido como “dia do fogo”. O próprio presidente chegou a afirmar, sem apresentar provas, que os incêndios foram iniciados por ONGs ambientalistas que estão com raiva por cortes de financiamento.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, disse que até o sábado seis estados brasileiros (Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Acre e Mato Grosso) pediram formalmente ajuda militar, segundo o Daily Beast. Como notou o New York Times, Bolsonaro para ter sido pressionado para uma tomada de decisão à medida que a indignação sobre os incêndios começou a crescer, tendo como agravante a cobertura de fumaça que atingiu várias cidades brasileiras:

O plano começou horas depois de Bolsonaro — um crítico de longa data às rígidas regulamentações ambientais do Brasil, mas aplicadas de forma vaga — dizer à nação em um discurso televisionado que o governo adotaria uma abordagem de “tolerância zero” aos crimes ambientais.

Essa foi uma declaração notável para um líder que classificou as multas ambientais como uma “indústria” que deveria ser abolida e prometeu facilitar o acesso de empresas às áreas protegidas. O próprio Bolsonaro recebeu uma multa de 2012 por pescar em uma área de proteção ambiental. A multa não foi paga.

Durante uma coletiva de imprensa em Brasília no sábado (24), autoridades disseram que estavam organizando uma força-tarefa para avaliar como as capacidades de inteligência, logística e transporte poderiam conter incêndios em áreas onde madeireiros e fazendeiros arrasaram a cobertura florestal.

Embora alguns personagens (incluindo o presidente francês Emmanuel Macron) tenham exagerado sobre a quantidade de oxigênio da Terra que a Amazônia produz, como noticiou o Science News, a destruição da floresta significaria uma perda maciça de biodiversidade e despejaria mais CO2 na atmosfera.

Alguns modelos computacionais sugeriram que a queima contínua e o corte raso da floresta poderiam atingir um ponte de inflexão onde o resto da floresta seca e morre; mesmo que isso não aconteça, a destruição adicional da Amazônia poderia frear irreparavelmente seu frágil ecossistema. Grupos indígenas cujas casas estão sendo invadidas e ilegalmente destruídas disseram que a devastação da floresta é uma forma de genocídio.

Dentre as pressões sofridas por Bolsonaro, as principais foram os pedidos de boicote de itens brasileiros, além das ameaças sofridas por líderes europeus de deixar um grande acordo comercial com o Mercosul. A condição para o fim das críticas seria alguma ação contra os incêndios, conforme observou o New York Times.

O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Brasil, o tenente-brigadeiro Raul Botelho, admitiu a um dos repórteres que um dos objetivos da operação era restaurar “uma percepção positiva do país”.

No entanto, Bolsonaro não concedeu inteiramente à pressão. No sábado, ele disse a repórteres que as alegações de que a Amazônia estava queimando são exageradas, já que muitos dos incêndios estão em áreas que já foram desmatadas. Ele também alegou que a situação estava se aproximando da normalidade.

O ministro de Defesa, Fernando Azevedo, também tentou dar um tom positivo para a situação, dizendo aos repórteres que a ação “mostra a preocupação do governo de Bolsonaro sobre o assunto”. Cerca de 44 mil soldados participam de uma operação para combater os incêndios que correm em grande parte da Amazônia, com autoridades informando que dois aviões C-130 também foram despachados, segundo o Daily Beast.

De acordo com a Associated Press, jornalistas reportaram áreas queimadas e incêndios nas regiões de Porto Velho e Mato Grosso, na sexta e sábado passados.

Na manhã desta segunda-feira (26), o G7, grupo das nações mais ricas do mundo, anunciou uma ajuda emergencial de € 20 milhões (cerca de R$ 90 milhões) destinados à Amazônia.

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