Uma ambiciosa busca por alienígenas acabou rápido, e astrobiólogos já pensam em uma ainda maior

O Breakthrough Project busa por vida alienígena no espaço. Após tentar um tipo de busca, a iniciativa agora envolve maior uso de telescópios e tecnologia.
Impressão artística de um exoplaneta que se parece com a Terra
Ilustração artística de um exoplaneta parecido com a Terra. Crédito: ESO/M. Kornmesser

O projeto Breakthrough Listen completou uma pesquisa abrangente de mais de 1.700 estrelas em busca de sinais de tecnologia alienígena. Infelizmente, nenhuma evidência de extraterrestres foi encontrada, mas o projeto de US$ 100 milhões deu um grande salto em termos de sua capacidade de continuar a busca.

Se no início não houve sucesso, o negócio é tentar novamente, mas com ferramentas melhores e técnicas mais refinadas.

Este é o sentimento entre os pesquisadores envolvidos no projeto Breakthrough Listen, uma iniciativa de 10 anos bancada pelo bilionário russo-israelense Yuri Milner e pelo falecido físico Stephen Hawking. Baseado no centro de pesquisa SETI da Universidade da Califórnia em Berkeley, o projeto tem como objetivo encontrar sinais de uma civilização extraterrestre. Os pesquisadores estão examinando o cosmos usando o GBT (radiotelescópio Green Bank) na Virgínia Ocidental (EUA) e no radiotelescópio Parkes na Austrália, entre outras ferramentas.

A equipe do Breakthrough Listen recentemente completou uma busca de 1.702 estrelas próximas, mas nenhuma evidência alienígena foi detectada durante o curso da pesquisa, que levou três anos. Parece até um resultado decepcionante, mas o projeto preparou o terreno para buscas mais ambiciosas e sofisticadas, que já estão em andamento. O trabalho também resultou em dois novos trabalhos de pesquisa, que devem ser publicados no Astrophysical Journal.

O empreendimento gerou um petabyte, ou um milhão de gigabytes, de dados ópticos e de radiotelescópicos que estão sendo disponibilizados ao público. Como um comunicado de imprensa do projeto Breakthrough apontou, esta é a maior divulgação de dados do SETI até o momento.

“Não estou tão desanimado”, disse Andrew Siemion, coautor do estudo, quando perguntado sobre o resultado da última pesquisa. “Ver estes novos resultados submetidos para uma publicação é animador por si só”, disse ele ao Gizmodo por e-mail. “Esses resultados também nos ajudarão a chegar em uma análise mais aprofundada, que colocará limites ainda mais rigorosos na distribuição de vida tecnologicamente capaz no universo e nos dará uma chance melhor de detectar algo se estiver por aí”.

Da mesma forma, o principal pesquisador por trás do projeto Breakthrough Listen, Danny Price, disse que ele não ficou chateado com os resultados.

“Sabíamos que era incrivelmente desafiador e ainda estamos aprendendo mais sobre nossos dados, criando novos algoritmos — e utilizaremos mais telescópios no futuro”, afirmou ele ao Gizmodo por e-mail.

Telescópio de 100 m Green BankTelescópio de 100 m Green Bank. Crédito: Green Bank Observatory

A última pesquisa envolveu uma amostra de 1.702 estrelas, nenhuma distante mais do que 169 anos-luz. A busca incluiu uma variedade maior de tipos de estrelas que o normal, incluindo estrelas que não são semelhantes ao nosso Sol.

Como demonstrado pelo novo projeto, no entanto, a pesquisa por inteligência extraterrestre (ou SETI na sigla em inglês), percorreu um longo caminho desde o seu início humilde nos anos 1960, quando o astrônomo Francis Drake começou a procurar a sério por alienígenas inteligentes. Na maior parte do tempo, a pesquisa concentrou-se na busca por vazamentos de comunicação de rádio, mas a grande nova ideia agora empregada pelos pesquisadores do SETI é a busca por assinaturas de tecnologia, ou seja, a evidência de tecnologias avançadas de aliens.

Isso pode incluir assinaturas produzidas por sistemas de comunicação, dispositivos de propulsão, projetos de engenharia de megaescala (como esferas de Dyson) e até resíduos industriais, entre muitas outras possibilidades. Assim, os pesquisadores do SETI estão aperfeiçoando seus métodos e tecnologias para sintonizar os comprimentos de onda aplicáveis.

Entendendo o Breakthrough Listen

O programa Breakthough Listen trabalha escaneando o espectro eletromagnético em busca de assinaturas, ou emissões, consistentes com o que achamos que sabemos sobre tecnologias alienígenas avançadas, mas que são, ao mesmo tempo, inconsistentes com os fenômenos naturais.

“Gostamos de fazer o menor número possível de suposições, por isso estamos pesquisando uma grande variedade de radiofrequências”, disse Price, referindo-se à faixa de 1 a 10 GHz, “que é limitada principalmente pelos receptores dos telescópios”.

Sua equipe está à procura por sinais que parecem artificiais — e não astrofísicos — dentro dessa faixa, enquanto também procura por transmissões a laser brilhantes com telescópios ópticos, como o telescópio de inversão automático do observatório Lick na Califórnia. Os pesquisadores estão usando também algoritmos de aprendizado de máquina para filtrar os dados. O SETI e a revolução do Big Data estão agora se cruzando em grande escala: a pesquisa recente rendeu 1 PB de dados, mas a equipe do Breakthrough Listen espera que o tamanho do arquivo aumente para 25 PB nos próximos anos.

De pseudociência a estudos científicos rigorosos

De fato, o que já foi considerado uma atividade marginal beirando a pseudociência está rapidamente se tornando uma disciplina científica rigorosa e respeitada, graças às contribuições de astrônomos, astrofísicos, astrobiólogos, cientistas da computação e especialistas em inteligência artificial e Big Data.

“Acho que devemos essa mudança a uma série de fatores — a certeza com a qual sabemos agora que os exoplanetas são extremamente comuns talvez seja a principal”, disse Siemion ao Gizmodo. “Mas também é muito importante o modo como profissionais moderno demonstram que o SETI não precisa ser um campo carente de publicações e engajamento acadêmico. É possível publicar os resultados significativos do projeto em periódicos tradicionais, é possível obter um doutorado fazendo pesquisas SETI e, o mais importante, é possível incluir pesquisas da iniciativa em uma carreira científica produtiva”.

Jill Tarter, presidente emérita da pesquisa no Instituto SETI, está “muito entusiasmada” sobre o novo trabalho. De 1994 a 2004, o instituto conduziu o Project Phoenix, no qual pesquisadores escanearam cerca de 800 estrelas numa faixa de 1 a 3 GHz em múltiplos observatórios.

“O Breakthrough Listen está fazendo o mesmo tipo de pesquisa, mas melhor”, escreveu Tarter em um e-mail ao Gizmodo. “Eles criaram backends de processamento de sinal maravilhosos que podem registrar larguras de banda mais amplas e, assim, pesquisar mais rapidamente. Eles têm um novo software de análise e uma ferramenta de rede neural nascente para procurar tipos mais variados de sinais. Nesta década, eles poderão pesquisar muito mais espaço de parâmetros do que conseguimos com o Project Phoenix — este é um grande progresso. Mas ainda existe um vasto cosmo lá fora, e pode demorar um pouco até que o sucesso seja alcançado, supondo que haja sinais a serem encontrados.”

“O que é novo aqui é eles estão liberando todos os seus dados, então qualquer um pode procurar para ver se eles perderam alguma coisa, além de poder acompanhar os melhores sinais candidatos — todos que foram classificados pela equipe como interferência de frequência de tecnologia feita por humanos — ou calcular exatamente como eram sensíveis a vários tipos de sinais”, disse Jason Wright, astrônomo da Universidade Estadual da Pensilvânia, em um e-mail ao Gizmodo. “Isso em si é um grande desafio”. Wright não estava envolvido no projeto, mas trabalhou no Breakthrough Listen no passado.

Hector Socas-Navarro, um astrônomo do Instituto de Astrofísica das Ilhas Canárias, disse que o Breakthrough Listen é uma colaboração entre instituições acadêmicas e filantropia privada. Ele não “está particularmente otimista” sobre nossas chances de achar civilizações analisando emissões de rádio, mas ele acredita que esse esforço é “absolutamente necessário” porque as possíveis implicações são “enormes”. Não temos ideia de quais são as chances de sucesso, mas temos “ao menos de tentar o nosso melhor”, disse ele.

“Mas também porque, ao fazer essa pesquisa sistemática do céu em comprimentos de onda de rádio, também estamos aprendendo sobre o universo”, disse Socas-Navarro ao Gizmodo por e-mail. “Isso leva a descobertas científicas muito valiosas. Avançados em instrumentação astronômica, inteligência artificial para análise de dados e sinais cósmicos como FRB (rajadas rápidas de rádio) foram impulsionados pelos esforços do SETI e, em particular, pelo Breakthrough Listen.”

Radiotelescópio Meerkat na África do SulRadiotelescópio Meerkat na África do Sul. Crédito: SKA

Olhando para o futuro, os cientistas do Breakthrough Listen gostariam de sintonizar diferentes frequências e tentar aprimorar uma variedade maior de tipos de sinais. E claro, eles gostariam de segmentar mais estrelas.

A equipe trabalhará com a matriz de radiotelescópio Meerkat na África do Sul. Este instrumento permitirá que a equipe cubra a mesma faixa de frequência registrada nos novos documentos, mas com uma sensibilidade mais alta — e, crucialmente, envolverá a busca de mais de 1 milhão de estrelas próximas.

“Isto equivale a uma melhoria em três vezes em ordem de magnitude”, disse Siemion.

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