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Uma caçadora de asteroides nos fala do que precisamos para evitar o Armagedom

Conversamos com Carrie Nugent, que recentemente lançou um livro sobre o tema, apresentando a comunidade internacional de cientistas que estudam o assunto

Os humanos têm um medo racional da ameaça de uma guerra nuclear, mas também existe a chance de uma pedra gigante vindo girando pela atmosfera para estragar o dia de todos os terráqueos. Quando isso aconteceu 66 milhões de anos atrás, desencadeou uma extinção em massa que acabou com os dinossauros. Mas nós temos algo que os dinossauros não têm: cientistas, que estão trabalhando duro para contabilizar todos os asteroides perigosos na nossa vizinhança solar e desenvolver tecnologias que podem tirá-los de um curso de colisão perigoso.

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Carrie Nugent é uma dessas cientistas; uma auto-proclamada caçadora de asteroides cujo novo livro TED oferece uma divertida apresentação do que sabemos sobre os misteriosos corpos que vagam entre os planetas e apresenta a comunidade internacional de cientistas dedicados a rastreá-los. O Gizmodo encontrou Nugent para conversar sobre asteroides, como é ter um trabalho que, geralmente, nos faz lembrar de Bruce Willis em um traje espacial perfurando enquanto Aerosmith toca e o que precisamos fazer para prevenir um grande impacto.

Na visão de Nugent, o primeiro passo para impedir um apocalipse asteroide é surpreendentemente simples: precisamos achar muito mais asteroides. Abaixo, uma versão condensada e levemente editada da entrevista.

Gizmodo: Na sua visão, qual o maior equívoco público sobre os asteroides?

Nugent: Eu acho que a percepção pública dos asteroides é de que eles são uma metáfora para os atos de Deus, o fato de não termos controle sobre o universo. Eles são sempre vistos como esses eventos incontroláveis. Mas, quando você olha para a ciência, na verdade eles são o oposto. Eles são um desastre natural prevenível. Eu acho que esse é o maior equívoco em geral. Se nós fizermos uma pesquisa minuciosa do céu, descobriremos o que tem lá fora. É um problema solucionável.

Gizmodo: Um dos temas que você aborda no seu livro é como as recentes descobertas em Ceres pela nave Dawn começaram a embaçar a linha entre asteroides e planetas. Como as missões como Dawn estão mudando o nosso entendimento dos asteroides?

Nugent: Eu acho que Dawn tem feito um trabalho incrível em mostrar que os asteroides não são apenas pedaços de pedra. Eles são mundos, eles são espaços que um astronauta pode explorar. Eu acho que a missão Rosetta também fez um ótimo trabalho nesse sentido. Aquelas imagens são impressionantes. É louco pensar que existem milhões de asteroides por aí, e eles todos são mundos.

É verdade que, quanto mais nós aprendermos sobre esses objetos, mais a linha entre os asteroides e cometas começa a sumir. As pessoas descobriram asteroides no Cinturão Principal que soltam gases como cometas, e objetos em órbitas de cometa que não soltam mais gases, não têm mais caudas. Estamos descobrindo vários casos únicos. E acho que sempre que mandamos uma nave para um asteroide ou cometa, aprendemos mais.

 

Gizmodo: Como você se interessou por asteroides? Quando você sabia que queria ser uma caçadora de asteroides?

Nugent: É uma carreira incomum. Não foi como se eu sonhasse com isso quando criança. Eu sempre gostei de geologia e de descobrir sobre o mundo. Eu fiz curso de graduação em física e consegui um PhD em geofísica e física espacial.

Eu realmente amo [caçar asteroides] porque é prático, mas também é física pura e astronomia. É realmente impressionante o quão precisamente conseguimos prever exatamente para onde os asteroides estão indo. Suas órbitas são governadas somente pela gravidade e, em menor grau, pela luz solar. As forças são bem estudadas.

Gizmodo: Você faz parte do time que caça asteroides através do NEOWISE [nota do Editor: NEOWISE é um telescópio espacial que rastreia as assinaturas de calor de asteroides próximos à terra]. Eu imagino que isso seja observar milhares de imagens, ao invés de passar longas noites em um observatório. A caça de asteroides é menos glamourosa do que as pessoas imaginam?

Nugent: Eu acho que é certamente menos glamouroso. Eu trabalho em um prédio de escritórios, no meu notebook o dia inteiro. Posto isso, é bem divertido. Uma coisa que eu gosto é que é bem parecido com um esporte de times, eu estou fazendo um pequeno papel em um grupo muito maior.

Gizmodo: Eu fiquei surpreso que, baseado em resultados do NEOWISE, nós descobrimos apenas 30% de todos os asteroides próximos à Terra maiores do que 100 metros. Isso implica que um grande número de asteroides grandes e próximos a nós ainda não foram descobertos! Quando será que poderemos encontrar eles todos?

Nugent: É uma ótima pergunta, e depende de que decisões as pessoas tomarem no futuro com o financiamento. Tudo o que eu posso dizer é que é importante achar essas coisas, e eu acho que precisamos fazer investimentos.

Gráfico mostrando as órbitas de mais de 1.400 asteroides potencialmente perigosos descobertos por volta de 2013. Imagem: NASA/JPL via Wikimedia

Ao final do livro, eu falo sobre como as pessoas acham que já que nós mandamos astronautas para a lua, a região entre a Terra e a Lua foi completamente explorada. Mas não foi. Pelo fato da Terra, Lua e os asteroides estarem constantemente se movendo conforme andam em torno do Sol, essa região do espaço não é estática. Nós ainda descobrimos às vezes novos asteroides que passam entre a Terra e a Lua.

Gizmodo: Você fala sobre o papel da ficção científica, especialmente Impacto Profundo e Armagedom, tiveram em nos alertar para um impacto de asteroide durante os anos 1990. Você acha que a ficção científica tem um papel importante, hoje em dia, em manter o público engajado nesse tipo de ciência?

Nugent: Absolutamente. Eu acho que a ficção científica é incrivelmente poderosa, um ótimo jeito de deixar as pessoas empolgadas com o espaço. Um exemplo que imediatamente vem à mente é A Expansão. O que eu adoro nessa série é que eles mostram as pessoas interagindo com o sistema solar de uma forma completamente nova. E agora, por causa dela, as pessoas se familiarizaram com asteroides e pequenas luas que não conheciam antes.

Eros, um asteroide próximo à Terra que foi convertido em uma colônia humana na série A Expansão. Imagem: Alcon Entertainment

O poder de Armagedom e Impacto Profundo também é realmente incrível. Se eu estou em algum lugar, num café por exemplo, e digo para alguém o que eu faço da vida, as pessoas sempre lembram desses filmes. E pode parecer irritante mas não é, é ótimo! Eu faço esse trabalho de nicho, mas as pessoas sabem por causa do Bruce Willis.

Gizmodo: No livro você discute esses métodos loucos que podemos usar para alterar a rota de asteroides, como raios tratores, mísseis nucleares e pequenos projéteis. Mas ainda estamos há alguma distância de qualquer um desses métodos ser realmente viável. Quais são as coisas mais importantes que precisamos fazer, no momento, para estarmos mais preparados para um grande impacto?

Nugent: Eu sou bem tendenciosa. Então eu acho que a melhor coisa é achar os asteroides. Parcialmente porque eu acho que é uma prioridade no momento, que nos daria o tempo de aviso o bastante para reagirmos apropriadamente. Eu acho que é tão empolgante encontrá-los, explorar o espaço dessa forma, e do meu laptop. Mas, sinceramente, eu adoraria ficar sem trabalho por termos descobertos eles todos.

Gizmodo: Digamos que o asteroide do apocalipse está a caminho da Terra. Na sua cabeça, qual seria a defesa planetária ideal?

Nugent: Eu não sou especialista em desvio de asteroides. Mas, como escrevi no livro, os asteroides são todos diferentes, eu acho que é bom ter várias opções diferentes. Eu também estou feliz em saber que não vou ser eu quem vai escolher.

Imagem do topo: NASA’s Goddard Space Flight Center Conceptual Image Lab

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