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Temos novas evidências de que os cães ‘veem’ o mundo com seus focinhos

Os cães possuem olfato muito apurado, mas os cientistas ainda não tinham certeza se nossos companheiros conseguiram ligar o aroma ou fragrância a objeto físico. Uma nova pesquisa sugere que eles conseguem e até mesmo formam uma imagem mental do objetivo quando estão procurando por um cheiro específico. • Um cachorro consegue entender cães e […]

Os cães possuem olfato muito apurado, mas os cientistas ainda não tinham certeza se nossos companheiros conseguiram ligar o aroma ou fragrância a objeto físico. Uma nova pesquisa sugere que eles conseguem e até mesmo formam uma imagem mental do objetivo quando estão procurando por um cheiro específico.

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Para os humanos, a visão é um sentido muito importante. Os cães, por outro lado, se apoiam mais no olfato e audição para obter informações do que está ao redor deles. A visão dos cachorros não é muito boa, na verdade a acuidade visual deles chega a ser de quatro a oito vezes pior do que a nossa.

Além disso, a linha de visão deles está a poucos centímetros do chão (dependendo da raça), então acabam tendo uma visão bem limitada do horizonte. E ao contrário do mito popular, os cães não veem o mundo em preto e branco; eles são daltônicos e não conseguem distinguir entre objetos que são verdes, amarelos e vermelhos.

O que eles perdem na visão é compensado por seus focinhos e ouvidos poderosos. Os cachorros possuem uma audição excelente, identificando frequências entre 40 Hz a 60 kHz, enquanto os humanos escutam entre 12 Hz a 20 kHz. As raças caninas possuem mais de 18 músculos em cada orelha, permitindo orientar cada uma de forma independente como radares; os cães conseguem ouvir sons que estão quatro vezes mais longe se comparado com os humanos.

E eles possuem um olfato apuradíssimo. Cachorros possuem um órgão altamente especializado em seus focinhos, equipado com 300 milhões de receptores olfativos. Eles possuem também um órgão olfativo em seu cérebro que é 40 vezes maior do que o nosso. O resultado é um sentido dez mil vezes mais poderoso do que o nosso.

“Se fizermos uma analogia com a visão, o que eu e você conseguimos enxergar a meio quilômetro, um cão conseguiria enxergar a mais de 4.800 quilômetros”, disse o cientista James Walker, da Universidade do Estado da Flórida, à Nova, há alguns anos.

Isso está bem definido pela ciência, mas não sabemos como a informação olfativa é processada e interpretada no cérebro dos cães. Para simplificar, não sabemos se os cachorros entendem o que eles estão cheirando, além de ser algo “bom/desejável” ou “ruim/indesejável”. Cientistas não conseguiram provar que os cães percebem odores como representantes de objetos específicos, o que soa muito estranho.

“Acho que é isso que muitos donos de cachorros pensam quando ficam sabendo a respeito do nosso novo estudo”, disse Juliane Bräuer, principal autora do artigo publicado no Journal of Comparative Psychology, ao Gizmodo. “Nós – como humanos – assumiríamos que eles possuem uma imagem na cabeça, mas não sabemos isso! A interpretação dos behavioristas seria a de que cães percebem um odor como um estímulo, o que pode ser relevante ou não. Tentamos mostrar que os cachorros realmente esperam por algo específico quando eles seguem uma trilha de aroma”.

De fato, como o novo estudo mostra, os cães fazem mais do que simplesmente classificar um cheiro como “positivo” ou “negativo” de acordo com as suas necessidades. Bräuer, que trabalha fora do Max Planck Institute for the Science of Human History, conduziu experimentos mostrando que os cachorros criam uma representação mental de um alvo quando estão buscando um cheiro.

Para o experimento, o time de Bräuer testou 25 animais que tinham passado por um treinamento para cães farejadores com a polícia ou equipes de busca e resgate, bem como 23 cães comuns, destreinados. Cada cachorro foi colocado com dois brinquedos familiares que gostavam de buscar.

Os pesquisadores colocavam um de dois cenários possíveis para os cães: depois de seguir uma trilha de aromas de um dos dois brinquedos, eles encontrariam o brinquedo correspondente (o cenário de condição normal) ou o outro brinquedo (condição inesperada). Cada cachorro participou em um dos dois testes em quatro experimentos.

No cenário de condições normais, os cães não faziam nada fora do comum. Mas na condição inesperada, os animais chegavam ao brinquedo e exibiam um momento de hesitação – uma pausa rápida que basicamente era como se dissessem, “ué, o que é isso?”

Em outras palavras, eles estavam procurando por um objeto específico e ficaram surpresos ao encontrar algo diferente. Depois da hesitação, no entanto, eles voltavam a buscar o objeto que condizia com o aroma condizente.

“Embora eles tivessem notado o brinquedo, eles continuavam buscando por meio do cheiro, provavelmente para achar o brinquedo que foi utilizado para criar a trilha de aroma”, disse Bräuer. Isso sugere fortemente que, depois de escolher um cheiro, os cães formulavam uma imagem mental daquele brinquedo específico.

O efeito surpresa era mais perceptível durante a primeira rodada e foi diminuindo a cada rodada sucessiva. Os cães da polícia e de equipes de resgate conseguiam recuperar os objetos mais rápido do que os animais destreinados (o que era esperado), mas durante a quarta e última rodada todos estavam recuperando os objetos com a mesma eficiência. O importante é que o “efeito surpresa” foi visto em ambos os grupos.

É importante notar que se trata de um estudo comportamental e os cientistas não podem estar completamente seguros de que os cães estão formando uma representação do objeto em suas mentes, em vez de serem guiados por um objeto ou a ter determinado comportamento por causa de outros fatores.

“Acho extremamente difícil imaginar como é ser um cachorro e perceber o mundo principalmente por meio do focinho, portante, é difícil criar um estudo apropriado para responder a muitas questões que temos”, admitiu Bräuer. Outros pesquisadores, disse ela, devem investigar as conexões entre a percepção do cheiro, o comportamento de busca e a cognição para obterem uma imagem melhor do que os cães estão realmente fazendo.

Deixando essa ressalva de lado, não seria uma surpresa saber que os cães são capazes disso. Muito do ímpeto por trás desse estudo é a noção atrasada de que os cachorros são autômatos não sofisticados, guiados exclusivamente por instintos e impulsos.

Sabemos há anos que os cachorros possuem níveis de autoconhecimento parecido com o dos seres humanos; quando estão em exames de imagem por ressonância magnética, as partes “felizes” de seus cérebros são ativadas quando sentem o cheiro de humanos familiares. Estudos como esse – embora importantes – estão apenas apontando o que parece ser óbvio para qualquer dono de um cachorro.

[Journal of Comparative Psychology]

Imagem do topo: Petra Jahn

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