_Curiosidades

Cinco cagadas que não teriam acontecido se o mundo todo usasse o metro como unidade de medida

Confusões entre diferentes sistemas medida já causaram acidentes fatais, mas EUA ainda se mostram resistentes a adotar o sistema métrico.

Ilustração: Benjamin Currie/Gizmodo

Quase todos os países do mundo usam medições métricas. Quer dizer, todos os países, menos os Estados Unidos. Em geral, isso não é um grande problema. Mas já ocorreram algumas situações perigosas ao longo da história quando as pessoas usaram medições métricas em vez da medida imperial, ou vice-versa, com resultados desastrosos.

O diretor da Fox News, Tucker Carlson, reavivou recentemente o debate sobre as medidas métricas versus medidas imperiais nos EUA, falando que a métrica é uma forma de tirania. É sério.

“Quase todas as nações da Terra caíram sob o domínio da tirania, o sistema métrico”, lamentou Carlson na semana passada na Fox News, porque ele aparentemente não tinha mais nenhum assunto  para discutir naquela noite.

“De Pequim a Buenos Aires, de Lusaka a Londres, os povos do mundo foram forçados a medir seu ambiente em milímetros e quilos”, continuou Carlson. “Os Estados Unidos são o único país importante que resistiu, mas não temos motivo para nos envergonharmos de usar pés e libras”.

Mas com toda essa besteira tempestuosa à parte, a luta pelas medidas métricas versus medidas imperiais tem algumas consequências muito reais. E com os EUA sendo o último do mundo a resistir, é provável que vejamos mais desses tipos de cagadas históricas de vez em quando.

O Obitador Climático de Marte faz um pouso forçado (1999)

Em 23 de setembro de 1999, o Mars Climate Orbiter (MCO ou “Orbitador Climático de Marte”) da NASA, de US$ 125 milhões, colidiu com o planeta vermelho. Isso não deveria acontecer, naturalmente. Mas depois de uma investigação, a NASA finalmente descobriu o terrível erro. Um software calculou a força dos propulsores em medições imperiais em vez de métricas.

A equipe da NASA envolvida no projeto insiste que o fracasso tinha a ver com dinheiro, por incrível que pareça.

“‘Melhor, mais rápido, mais barato’ foi o mantra da época”, disse o engenheiro da Nasa Richard Cook à Wired muitos anos depois. “Certamente esse projeto estava tentando fazer muito por uma quantia limitada de dinheiro”.

A partir de então, o Mars Climate Orbiter tornou-se sinônimo da necessidade de os Estados Unidos adotarem a unidade métrica. Se o fato de o resto do mundo utilizar não é argumento suficiente, os americanos deveriam pelo menos ser capazes de entender o desperdício de milhões de dólares sem um bom motivo.

Embora os especialistas acreditem que a adoção do sistema métrico pelos Estados Unidos teria um custo significativo a curto prazo, os benefícios econômicos a longo prazo são ilimitados considerando que o país finalmente falaria uma linguagem comum de mensuração com o resto do mundo.

O caso da Tartaruga Gigante (2001)

Em 2001, o Zoológico de Los Angeles emprestou Clarence, a tartaruga de Galápagos, na época com 75 anos de idade, ao Programa de Treinamento e Gestão de Animais Exóticos no Moorpark College, mas a escola precisaria construir um abrigo para o animal. Isso não era um problema, eles só precisavam saber o tamanho da tartaruga. O zoológico disse ao Moorpark College que Clarence pesava 250.

Mas 250 o quê? Você provavelmente pode imaginar o fim dessa história.

O Moorpark College construiu um recinto para Clarence, assumindo que ele pesava 250 libras. Na realidade, Clarence pesava 250 quilos, ou aproximadamente 551 libras. Clarence era muito maior do que eles esperavam. E, como resultado, ele conseguiu escapar de seu novo lar.

“Ele simplesmente empurrou um dos postes da cerca”, disse Chuck Brinkman, do Moorpark, ao Los Angeles Times.

Clarence não foi muito longe, no entanto. Eles o encontraram por perto, passeando, assim como qualquer tartaruga idosa costuma fazer.

A equipe do Moorpark construiu um novo abrigo para Clarence, desta vez certificando-se de que as barreiras haviam sido construídas com cimento. Mas eles provavelmente aprenderam uma boa lição sobre não assumir que as pessoas em um zoológico usariam unidades imperiais em vez de métricas.

Clarence ainda está vivo, a propósito. A tartaruga completa 96 ​​anos em julho.

Jato da Air Canada fica sem combustível (1983)

O Canadá adotou completamente o sistema métrico no final da década de 1970, após um processo de integração iniciado em 1971. Mas o vizinho dos EUA ao norte teve sua dose de infortúnios devido à confusão com unidades métricas versus unidades imperiais.

Em 29 de julho de 1983, o voo 143 da Air Canada ficou sem combustível. A companhia aérea vinha medindo combustível em libras por anos antes de finalmente mudar para quilogramas. Mas isso causou certa confusão, já que o jato Boeing 767, o primeiro avião do Canadá a usar medições métricas, havia sido abastecido com combustível insuficiente naquele dia de verão.

O voo, originalmente programado para viajar de Ottawa a Edmonton, teve que fazer um pouso de emergência em Gimli, Manitoba. Para piorar, as abas nas asas do avião não puderam ser acionadas devido à falha do motor, forçando os pilotos a pousarem a uma velocidade muito mais rápida do que deveriam.

O New York Times explicou na época:

Todo o episódio produziu duas emoções contraditórias no mundo da aviação. Uma delas foi a profunda preocupação sobre como erros simples, neste caso uma mudança para o sistema métrico com a introdução do Boeing 767, poderiam chegar tão perto de produzir um grande desastre. O outro é a admiração pela habilidade dos pilotos, qualquer que tenha sido seu papel nos erros originais, em pousar o enorme veículo com segurança quando, sem combustível, eles não teriam chance de fazer uma segunda tentativa de pouso.

Os 69 passageiros a bordo tiveram apenas ferimentos leves, felizmente. Mas você pode apostar que os pilotos passaram a checar duas vezes o medidor de combustível depois disso.

Descarrilamento da montanha russa da Disneyland em Tóquio (2003)

Em dezembro de 2003, um dos carros da atração Space Mountain da Disneyland de Tóquio descarrilou devido a um eixo quebrado. Por que o eixo quebrou? De acordo com o relatório oficial, divulgado em janeiro de 2004, o eixo não era do tamanho certo devido a uma confusão entre unidades métricas versus unidades imperiais.

De acordo com o relatório:

O eixo que quebrou foi um dos 30 eixos recebidos em outubro de 2002. Todos os 30 eixos eram mais finos do que especificado no projeto, o que resultou em um espaço entre os eixos e seus rolamentos maior que a largura especificada. Esta situação anormal ocorreu devido ao seguinte:

Em setembro de 1995, as especificações de design para o tamanho do rolamento do eixo para veículos da Space Mountain foram alteradas de polegadas para a escala métrica. Assim, o diâmetro do eixo também foi alterado, neste caso de 44,14 mm para 45 mm. No entanto, a ação apropriada de revisar e manter os desenhos do projeto foi negligenciada. Consequentemente, haviam dois desenhos diferentes dentro de nossa empresa após as mudanças serem feitas e o desenho antigo mostrando o diâmetro de 44.14 mm foi usado para encomendar (em agosto de 2002) os eixos que foram entregues em outubro de 2002.

Felizmente, nenhuma das pessoas que estavam na montanha-russa ficou ferida.

A empresa prometeu melhorias, repreendeu 17 funcionários e disse que faria todos os esforços para reconquistar a confiança do público. E até agora eles parecem estar fazendo um bom trabalho. Não houve nenhum incidente grave desde então, além de forças da natureza. Algumas áreas do parque foram inundadas durante o enorme terremoto e tsunami de 2011, mas ninguém ficou ferido.

Erro mortal no voo de carga da Korean Air 6316 (1999)

Estranhamente, a aviação comercial é uma área onde a unidade de pés ainda é usada ​​por países em todo o mundo em vez de metros. E essa escolha teve consequências mortais.

Em 15 de abril de 1999, o voo 6316 da Korean Air Cargo decolou de Xangai, na China, para Seul, na Coreia do Sul. Com três tripulantes, o voo decolou para o que deveria ser um voo de rotina e a tripulação recebeu permissão do controle de voo de Xangai para que eles pudessem subir a 1.500 metros ou aproximadamente 4.900 pés.

Mas quando o avião chegou a 4.500 pés, o piloto perguntou ao seu copiloto se eles não deveriam estar a 1.500 pés. O copiloto disse que sim duas vezes (incorretamente) fazendo com que o piloto acreditasse que eles estavam a 3.000 pés acima do que deveriam. O piloto começou a descer, mas o movimento abrupto fez com que o avião caísse. Eles não conseguiram recuperar o controle do avião e colidiram com diversas casas a cerca de dez quilômetros do aeroporto. Todos os três tripulantes e cinco pessoas no solo morreram. Houve também dezenas de feridos.

O problema deve ser óbvio para qualquer um que esteja prestando atenção até aqui. Eles foram liberados para subir a 1.500 metros, mas o piloto e o copiloto acharam que deveriam estar a 1.500 pés.

Mas não espere que os Estados Unidos adotem o sistema métrico tão cedo, mesmo que o país seja literalmente o último do mundo a resistir. E os americanos fervorosos que conhecem a história da métrica (inventada pelos franceses muito insultados no país) não estão prestes a se entregar a seus rivais.

Stephen Mihm, autor do livro Dominando a modernidade: pesos, medidas e padronização da vida americana, explicou à Atlantic em 2015 que nada menos do que orgulho nacional é que estava em jogo.

“A adoção de pesos e medidas de outro país – ou, no caso do sistema métrico, os pesos e medidas do resto do mundo – parece uma violação da soberania nacional”, disse Mihm ao Atlantic .

“Considerando que o sistema em questão tem uma história longa e distinta de um projeto de estimação francófilo, os liberais cosmopolitas provavelmente não ajudam a torná-lo atraente para os conservadores americanos.”

Sair da versão mobile