Salvar a camada de ozônio da Terra tem mostrado resultados melhores do que o esperado

Em 1989, em meio a crescentes evidências científicas, várias nações juntaram forças para assinar um tratado com o objetivo de deter a expansão do grande buraco na camada de ozônio da Terra. Praticamente trinta anos depois, o Protocolo de Montreal acaba de fazer isso. Mas também conseguiu alcançar algo que nenhum dos seus arquitetos imaginou. […]

Em 1989, em meio a crescentes evidências científicas, várias nações juntaram forças para assinar um tratado com o objetivo de deter a expansão do grande buraco na camada de ozônio da Terra. Praticamente trinta anos depois, o Protocolo de Montreal acaba de fazer isso. Mas também conseguiu alcançar algo que nenhum dos seus arquitetos imaginou. O acordo se tornou uma das ferramentas mais efetivas na luta contra a mudança climática.

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Essa é a conclusão surpreendente de um estudo publicado nesta semana na Geophysical Research Letters, que dá uma olhada nas consequências do tratado de quase 30 anos que suprimiu os clorofluorcarbonos (CFCs) e depois os hidrofluorocarbonetos (HFCs), após cientistas determinarem que esses compostos estavam destruindo o ozônio na estratosfera do planeta.

Uma vez que CFCs e HCFCs também são potentes gases do efeito estufa, retirá-los do mercado teve um grande impacto nas emissões de poluentes dos Estados Unidos: entre 2008 e 2014, o Protocolo de Montreal levou a reduções nas emissões de gases do efeito estufa que representam cerca da metade de todos as outras iniciativas, levando em consideração as regulamentações climáticas promulgadas pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).

“Isso é algo que tem sido falado há algum tempo, o benefício duplo do Protocolo de Montreal, limitando o dano à camada de ozônio e também reduzindo a mudança climática”, disse Rachel Cleetus, gerente de políticas climáticas e economista líder do programa de Clima e Energia da Union of Concerned Scientists, ao Gizmodo. “É porque todas essas substâncias que destroem a camada de ozônio são também gases do efeito estufa muito potentes”, completa.

De fato, os CFCs e HCFCs utilizados como refrigerantes de geladeiras, propulsores de aerossóis, retardadores de chamas, entre outros produtos, têm um potencial de captura de calor centenas a milhares de vezes maior do que o dióxido de carbono em uma escala temporal de séculos. Embora pesquisas anteriores tenham destacado os benefícios climáticos do Protocolo em uma escala global, o novo estudo analisou especificamente o que sua implementação significava para a poluição climática nos EUA.

Sob o Protocolo de Montreal – que foi imposto por meio da “Clean Air Act” (ou “Lei do Ar Limpo”, em tradução livre) da EPA – os EUA viram a praticamente completa eliminação dos CFCs no começo de 1996 e um declínio de 95% nos HFCs desde 1998. Pegando dados da rede de monitoramento do oceano da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), Lei Hu da Universidade do Colorado em Boulder e seu time demonstraram que de 2008 a 2014, a eliminação dessas substâncias teve o impacto climático equivalente a reduzir as emissões de CO2 em 170 milhões de toneladas por ano. Projetando para o futuro, os pesquisadores descobriram que a eliminação contínua de CFC/HCFC poderia suprimir cerca de 500 milhões de toneladas da emissão de CO2 anual até 2025, comparado com os níveis de emissão de 2005.

Para contexto, 500 milhões de toneladas de CO2 são praticamente um quarto do que os EUA precisam para alcançar o objetivo do Acordo Climático de Paris, que previa a redução de emissões entre 26% a 28% até 2025. É algo próximo também das emissões anuais do setor de agropecuária dos Estados Unidos.

Mas, tem um detalhe: hoje, os benefícios de cortar os CFCs e HCFCs estão diminuindo, em parte, pelo uso de hidrofluorocarbonos (HFCs), que não destroem a camada de ozônio como os seus primos, mas ainda é centenas de milhares de vezes mais eficiente em capturar o calor em relação ao CO2. A boa notícia é que, no ano passado, os Estados Unidos e outros países que aderiram ao Protocolo de Montreal –incluindo o Brasil – concordaram em limitar a produção futura e o consumo de HFCs, também, com a adoção da emenda Kigali.

A emenda legalmente vinculativa, exige que países ricos interrompam a produção e uso dos HFCs até 2018, foi aclamada pelo então secretário de Estado John Kerry como o “passo mais importante” na luta contra as mudanças climáticas. Isso acontecem em menos de uma semana depois que 170 nações ratificaram o Acordo Climático de Paris.

É claro, independente do quão positivo isso seja, ainda teremos que reduzir as emissões de carbono se queremos minimizar o aquecimento global. Os Estados Unidos, por sua vez, está indo na contra mão, saindo do Acordo de Paris e desfazendo regulamentos climáticos da era Obama. Talvez, a coisa mais importante que o Protocolo de Montreal tem para oferecer hoje – além dos benefícios climáticos imediatos – é um grande lembrete de que ações significativas são possíveis.

“Como um quadro político, [o Protocolo de Montreal] tem sido um sucesso incrível”, disse Cleetus, que não estava envolvida com o novo estudo. “É muito impressionante o rápido crescimento dos países. O que também é impressionante é como o protocolo amadureceu e foi atualizado ao longo do tempo”.

Kevin Trenberth, cientista atmosférico no Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos Estados Unidos, concorda. “”Esta é uma prova maravilhosa do sucesso da Clean Air Act, justamente numa época em que está começando a ser prejudicada pela administração Trump”, disse ele ao Gizmodo. “Se alguém toma as ações apropriadas, existem consequências que podem realmente funcionar”.

[Geophysical Research Letters]

Foto do topo: Imagem colorida artificialmente mostrando as concentrações de ozônio acima da Antártida no dia 2 de outubro de 2015. Crédito: NASA/Goddard Space Flight Center

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