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Câmara anecoica da Microsoft: onde o som morre

Enquanto eu fazia um tour por um prédio novo no campus da Microsoft, eu me deparei com uma câmara anecoica: uma sala criada para eliminar todo o ruído do lado de fora — e de dentro também. Eu passei cinco minutos lá dentro, e é muito bizarro: dizem que quem fica muito tempo lá fica louco.

Enquanto eu fazia um tour por um prédio novo no campus da Microsoft, eu me deparei com uma câmara anecoica: uma sala criada para eliminar todo o ruído do lado de fora — e de dentro também. Eu passei cinco minutos lá dentro, e é muito bizarro: dizem que quem fica muito tempo lá fica louco.

A câmara é, na verdade, uma sala dentro de outra sala. Ela está apoiada em um colchão de molas enormes e está ligada ao restante do edifício por uma passagem e uma rede de nylon (para você não cair no espaço entre a porta externa e a câmara). Há duas portas gigantes que, de acordo com meu guia, "deram muito trabalho pra instalar". Quando eu cheguei perto de uma, fiquei impressionado com a resistência dela.

Dentro da câmara, parece a versão Star Trek da conhecida cela acolchoada (encontrada em hospícios), com cunhas que protegem o lugar do som e das ondas de rádio. A segunda porta gigante é coberta com estas cunhas, então quando a câmara está fechada, a única forma de saber onde fica a saída é achando a alavanca para abrir a porta, que fica quase escondida. O chão, na verdade, não é chão: o chão de verdade foi coberto com as mesmas cunhas que atenuam o som, então você fica apoiado em um trampolim feito com uma rede de metal. (Bom que eu não usei meu salto alto.)

A empresa que fez a câmara, Eckel Industries, também construiu o laboratório do Steve Orfield em Mineápolis, certificado pelo Guinness como o lugar mais quieto da Terra, com cerca de -9 dBA. A Microsoft diz que a sala deles tem quase o mesmo nível de som, exceto bem na parte de baixo, onde é muito difícil eliminar sons indesejados.

Depois que entrei na câmara com mais duas pessoas, a primeira coisa que eu percebi foi como as vozes mudaram. Elas pareciam cortadas e truncadas, como se alguém estivesse segurando o pedal de um piano que reduz os tons. A atmosfera sutil e a profundidade associadas com a reverberação que esperamos ao ouvir outra pessoa falando sumiram. Não havia eco, daí o nome "anecoico". Minha voz parecia que não conseguia sair da minha cabeça.

Por um momento, eu me senti desorientado mesmo, aquela sensação de tontura que dá quando baixa o nível de açúcar no sangue. O cara que me mostrou a sala disse que, apesar de ele trabalhar muito lá, às vezes ele perde o equilíbrio, porque o ouvido usa reflexos do som — além da equalização no ouvido — para posicionar a cabeça e o corpo.

A Microsoft usa esta câmara recém-construída para testar todo tipo de hardware — microfones em webcams, saída de audio do Zune, até mesmo o clicar de botões em qualquer coisa — porque se você quer ouvir um som de forma bem clara, é pra cá que você vem. Eles trazem o Xbox e PS3 para ver qual deles faz mais barulho, e algumas pessoas já pediram para trazer o PS3 Slim e ver como o nível de ruído mudou. (Nem precisa dizer que a Microsoft não quis divulgar o resultado deste teste.)

Pelo que me disseram, ficar em uma câmara anecoica por muito tempo pode deixar alguém louco, e agora que eu estive em uma, balançando levemente sob o trampolim, encarando as cunhas sci-fi afiadas e só escutando o sangue fluindo na minha cabeça, eu acredito.

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