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Executivos da Cambridge Analytica se gabam por terem ajudado na eleição de Trump em novo vídeo

A Cambridge Analytica, empresa de dados que está envolvida em um grande escândalo com o Facebook, está tendo uma péssima semana. Depois de um vídeo publicado na segunda-feira (19) que mostrava alguns executivos falando sobre chantagem e propinas, um novo material mostra um homem se gabando por ganhar a eleição por Donald Trump e do […]

A Cambridge Analytica, empresa de dados que está envolvida em um grande escândalo com o Facebook, está tendo uma péssima semana. Depois de um vídeo publicado na segunda-feira (19) que mostrava alguns executivos falando sobre chantagem e propinas, um novo material mostra um homem se gabando por ganhar a eleição por Donald Trump e do uso de um sistema de email “como um timer de autodestruição”.

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A investigação do Channel 4 sobre a Cambridge Analytica foi concluída nesta terça-feira (20) com outro vídeo do CEO da companhia, Alexander Nix, se encontrando com um repórter disfarçado que se passava por um representante de um cliente rico que buscava ajuda para influenciar as eleições do Sri Lanka. Mark Turnbull, diretor de política global da Cambridge Analytica, e Dr. Alex Tayler, cientista de dados chefe da companhia, também são identificados na reunião.

No vídeo publicado nesta terça, os executivos afirmam que poderiam “enviar algumas garotas” aos candidatos da oposição para criar materiais prejudiciais a eles. Os executivos também flertaram com a ideia de agendar encontros com oponentes para oferecer discretamente subornos e capturar a oferta em vídeo.

Não fica claro o quão exagerada é essa conversa, mas foi o suficiente para que agentes reguladores do Reino Unido pedissem um mandado para realizar uma busca e apreensão na sede da empresa e suspender Nix do cargo.

O vídeo mais recente destaca a sensação inflada de auto-importância dos caras e suas táticas com clientes em potencial. Eles insistem que o método inovador com os dados deu à Trump a vantagem necessária para conseguir os 40 mil votos extras em estados chave que garantiram a ele o Colégio Eleitoral, embora ele tenha recebido três milhões de votos a menos a nível nacional.

Nix afirma que eles eram o braço de propaganda de Trump, dizendo: “Fizemos toda a pesquisa, todos os dados, todas as análises, todos os direcionamentos, rodamos toda a campanha digital, a campanha da televisão, e nossos dados guiaram toda a estratégia”.

Nix também deu mais detalhes sobre o uso de organizações camufladas para espalhar ataques negativos contra os oponentes de Trump, enquanto mantinha mensagens mais positivas para o atual presidente dos EUA. “Colocávamos informações na corrente da internet e víamos tudo crescer, de vez em quando dávamos um empurrão para vê-las tomar forma”, disse ele. “Então essas coisas infiltravas as comunidades online e se expandiam com nenhuma associação de marca – então é algo não atribuível, não rastreável”.

Nada do que os caras falam são grandes revelações, mas a discussão sobre o uso de verba de campanha eleitoral para o financiamento de publicidade negativa e fundos de campanha para mobilização popular é um bom lembrete de qualquer coordenação entre essas duas entidades seria ilegal nos EUA. A Cambridge Analytica negou irregularidades.

Em um comunicado enviado ao Channel 4, a empresa disse: “Temos práticas estritas de proteção para assegurar que não haja nenhuma coordenação entre grupos de regulamentação, inclusive os times que trabalham em campanha não-coordenadas ficam fisicamente separados, utilizam diferentes servidores e são proibidos de se comunicar uns com os outros”.

Se você está começando que esses caras estão mentindo sobre seus métodos secretos, veja só o que eles falam sobre seu sistema de email autodestrutivo. Nix afirma no vídeo:

Ninguém sabe que temos isso, e além disso nos definimos nossos […] emails com um timer de autodestruição. […] Então você os envia e depois de serem lidos, duas horas depois, eles desaparecem. Não fica nenhuma evidência, não há rastros, nada.

O Channel 4 identificou o sistema de email como o ProtonMail, um serviço que qualquer pessoa pode utilizar.

Nix também zomba da investigação do Comitê de Inteligência da Casa sobre os russos, a qual ele forneceu provas em 2017. Ele disse que os membros republicanos fizeram apenas três perguntas e que a entrevista acabou em cinco minutos. “Eles são políticos, não são técnicos”, disse ele. “Eles não entendem como funciona”. Em um comunicado enviado ao Gizmodo, o parlamentar Adam Schiff, o principal democrata do comitê, exigiu que Nix compareça perante a comissão para responder a algumas novas perguntas. Schiff escreveu, em parte:

Temos sérias dúvidas sobre a veracidade do testemunho do Sr. Nix.

[…]

Convidamos o delator da Cambridge Analytica, Christopher Wylie, a testemunhar e ele aceitou o nosso convite. Iremos convidar o Dr. Alexandr Kogan para testemunhar também. Também será necessário que a companhia nos informe se os documentos entregues ao Comitê representam os registros e dados completos da Cambridge Analytica e e algum material significativo foi destruído ou tornado inacessível devido ao uso de contas do ProtonMail pela empresa.

Na segunda-feira, Kenneth Vogel do New York Times tuitou: “O maior segredo sobre a Cambridge Analytica: ela foi (e é) um serviço superfaturado que entregou pouco valor à campanha de Trump, e outras campanhas e fundos que os adotaram – a maioria contratou a empresa porque parecia um pré-requisito para receber $$$ dos Mercers”. Isso parece bastante plausível quando vemos os caras em ação.

Mas mesmo que os executivos da CA sejam charlatões, isso não responde questões sobre o possível compartilhamento de dados da empresa com interesses russos conectados ao estado. E acima de tudo, tudo isso faz com que a imagem do Facebook pareça muito ruim. A rede social supostamente sabia que esses caras estavam envolvidos com a apropriação indevida de 50 milhões de dados pessoais de seus usuários, mas não fez nada efetivo sobre isso.

O Gizmodo procurou o Facebook na segunda-feira para questionar se podemos esperar que o CEO, Mark Zuckerberg, fale a respeito da controversa. Na tarde de terça, recebemos a seguinte resposta:

Mark, Sheryl e seus times estão trabalhando contra o relógio para obter todos os fatos e tomar a ação apropriada para seguir em frente, porque eles entendem a seriedade deste problema. Toda a empresa está indignada por termos sido enganados. Temos o compromisso de aplicar vigorosamente nossas políticas para proteger as informações das pessoas e tomaremos as medidas necessárias para que isso aconteça.

O Facebook também realizou uma reunião geral para tratar das preocupações dos funcionários na terça-feira, de acordo com o Daily Beast, nem Zuckerberg nem a COO, Sheryl Sandberg, apareceram.

Onde está Mark?

[Channel 4]

Imagem do top: Captura de tela do Channel 4 (YouTube)

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