Caso Apple vs Epic: as duas perderam, mas ficou pior para a criadora do Fortnite

"Quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder."
Ícone da App Store, da Apple

A treta entre a Apple e a Epic Games, que se arrastava há mais de um ano, ganhou um (aparente) desfecho nos últimos dias. Nenhuma das partes saiu exatamente vencedora. Por outro, lado, sobram argumentos que permitem dizer que quem levou a pior foi a desenvolvedora do Fortnite.

Caso você tenha ficado de fora das disputas do mercado gamer nos últimos meses e não faça ideia do que estivesse rolando, senta que lá vem história.

A Epic processou a Apple em agosto de 2020, após o Fortnite ter sido removido da sua loja de aplicativos. Segundo a companhia de Tim Cook, a desenvolvedora do battle royale é quem estava errada: a Epic estaria violando os termos de uso por permitir que usuários “pegassem um atalho” para concluir microtransações — como comprar uma skin paga do jogo, por exemplo — sem a cobrança dos 30% de comissão da Apple. Já a criadora do Fortnite batia o pé, dizendo que era errado exigir que esse fosse o único meio de pagamento.

Corta para 2021. Uma juíza da Califórnia decidiu, na última sexta-feira (10), que é ilegal a prática da Apple de impedir que seus usuários façam transações fora de sua App Store. O que isso significa? Que a Apple precisará abrir seu sistema de pagamentos, avisando a quem consome que é possível pagar por microtransações de outras maneiras.

A partir de agora, desenvolvedores que têm jogos vendidos na loja de apps da Apple poderão oferecer seus próprios mecanismos de compra. Não será necessário mais a mediação da Apple — e os 30% adicionais, cobrados cada vez que um usuário adquiria um item ou recurso pago. Mais do que isso, a Apple impedia as desenvolvedoras de dizer que havia formas alternativas de concluir aquela compra, fora da loja da Apple. Na visão do tribunal, essa era uma prática anticompetitiva, e não pode mais acontecer.

Para a criadora do Fortnite — e outras companhias que vendem seus apps na loja da Apple e usam o recurso de microtransações internas –, essa é uma ótima notícia. Não ter mais que pagar taxa-Apple pode permitir que os serviços fiquem mais baratos — e, por tabela, mais atrativos para os consumidores. O Bitniks, revista do Gizmodo Brasil, aliás, fez uma reportagem sobre esse impacto na visão de desenvolvedores brasileiros, que você pode conferir clicando aqui.

Mas nem tudo na decisão foram flores no caso da Epic


Uma outra decisão, da mesma juíza, considerou que a desenvolvedora quebrou o contrato com a empresa da maçã quando decidiu implementar formas alternativas de pagamento para o Fortnite, no passado.

O golpe nas receitas foi grande: a Epic foi condenada a pagar 30% da receita que obteve dessa maneira até o banimento do app na loja. Estima-se que esse valor esteja na casa dos US$ 3,6 milhões (ou R$ 18,7 milhões). A empresa declarou, no último domingo (12), que pretende recorrer da sentença.

Há, também, um outro problema na jogada. A decisão que a Epic mais sentia — o banimento de seus apps na loja do iOS após a quebra de contrato — não vai ser revertida. O tribunal americano considerou legal o direito da Apple de simplesmente banir para os seus usuários os games lançados pela Epic.

Como você pode imaginar, ficar de fora dessa vitrine gigantesca causa um impacto pesado nas receitas da empresa. Segundo aponta esta matéria da Forbes, estima-se que a Epic já tenha perdido US$ 500 milhões apostando na Epic Games Store, sua loja própria — que não deve dar lucro até 2027. Os números revelam o tamanho da “dependência da AppStore”, que todas as desenvolvedoras de games enfrentam. Nos dois primeiros anos de lançamento, o Fortnite faturou US$ 614 milhões apenas na sua versão iOS.

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O fato é que a iniciativa da Epic serviu de pretexto para que outras empresas aproveitassem a brecha — e passassem a fechar o cerco da Apple quanto à sua política de pagamento em microtransações.

Pressionada para provar que não estava mantendo um monopólio, a companhia da maçã já havia se comprometido, na semana passada, a deixar que certos aplicativos, como Netflix e Spotify, pudessem colocar links de pagamentos para os seus próprios sites — o que permitiria aos usuários contornar os famigerados 30% de taxa. A grande diferença é que, no caso desses outros, a dependência da vitrine da Apple é bem menor. Alguém tinha que puxar a fila, né, Epic?

Guilherme Eler

Guilherme Eler

Editor-assistente do Giz Brasil, são-carlense e vascaíno. Passou pelas redações de Superinteressante, Guia do Estudante e Nexo Jornal.

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