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Componente da maconha está liberado para uso medicinal no Brasil – mas a droga, não

Esta semana, a Anvisa liberou o uso terapêutico do canabidiol, substância encontrada na planta da qual se faz a maconha. Isso obviamente causou polêmica.

Esta semana, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou o uso terapêutico do canabidiol, substância encontrada na planta da qual se faz a maconha. Isso obviamente causou polêmica: será esse o primeiro passo para legalizar a maconha no país? É provável que não.

O canabidiol (CBD) não é um elemento psicoativo da maconha: ou seja, ele não tem efeito entorpecente. Além disso, não há registro de que cause dependência.

Estudos apontam que o CBD ajuda pacientes com doenças neurológicas, como epilepsia e esclerose múltipla. Ele pode ser útil até mesmo em crianças, reduzindo a frequência de convulsões.

A principal produtora de remédios à base de CBD é a China, onde está plantado 70% do estoque global de cânhamo industrial. No país, o consumo de maconha é estritamente ilegal. Da planta, extraem-se as sementes e a fibra.

A Índia também está entre as grandes produtoras de CBD, e lá a maconha é proibida por lei desde 1985. No entanto, o país tem uma atitude mais liberal em relação à droga, por estar associada à religião. Em Varanasi – a cidade indiana mais sagrada do hinduísmo – o próprio governo vende a Cannabis para rituais espirituais.

No Brasil, o cultivo da Cannabis segue proibido, mesmo que para fins de pesquisa. Hoje, cientistas trabalham com maconha apreendida pela Polícia Federal.

Ganhando espaço

Aos poucos, o CBD está ganhando espaço no mundo. Ele é permitido em países como EUA, Canadá e Israel, na forma de cápsulas, sprays, gotas e até adesivos.

No Brasil, foi necessária muita pressão para que o CBD fosse liberado. Parentes de crianças que sofrem convulsão se uniram na campanha Repense, que produziu até um documentário sobre o assunto. O filme relata a rotina de Katiele Fischer, mãe de Anny, em sua luta para conseguir medicar a filha, que sofre de epilepsia refratária.

Esta é a primeira vez que a Anvisa reconhece, oficialmente, o efeito terapêutico de uma substância derivada da Cannabis. Mas ela está cautelosa: a família do paciente ainda terá que pedir autorização para importar produtos à base de CBD, porque eles contêm níveis bastante baixos (porém não nulos) de THC. O tetraidrocanabinol é o principal elemento psicoativo da maconha; esta substância continua proibida.

Ainda não há medicamentos à base de CBD no Brasil, mas isso deve mudar: a Anvisa leva até nove meses para aprovar a venda de novos remédios, e uma empresa europeia entrou com pedido, já em análise.

Com a mudança, médicos podem receitar com mais tranquilidade remédios à base de CBD. E laboratórios no Brasil estão liberados para pesquisar o canabidiol – desde que não plantem maconha.

Além disso, a Anvisa promete algumas medidas para facilitar a importação, criando uma lista dos produtos com CBD mais utilizados – eles terão liberação prévia. A proposta deve ser apresentada em até 30 dias.

[Zero HoraEstadãoFolha de S. Paulo]

Foto: remédio Sativex à base de canabidiol (AP Photo/GW Pharmaceuticals)

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