CEO de empresa de vigilância renuncia após reportagem revelar envolvimento com a Ku Klux Klan

O CEO da empresa de vigilância Banjo deixará a empresa após uma reportagem mostrar que ele esteve envolvido em uma ação da Ku Klux Klan em 1990.
Tela do site da Banjo

O CEO da empresa de vigilância Banjo, uma das empresas que tem tentado vender soluções de inteligência artificial e de uso de dados para o policiamento nos EUA, irá deixar a empresa depois de uma reportagem mostrar que ele esteve envolvido em uma ação da Ku Klux Klan em 1990 em que um grupo de pessoas passava de carro e atirava em direção a uma sinagoga.

A Banjo escreveu em um breve post em seu blog nesta segunda-feira (11) que Damien Patton não mais exercerá o cargo de CEO e será substituído pelo diretor de tecnologia Justin R. Lindsey. A empresa não se referiu explicitamente ao passado de Patton, apenas aludiu à questão na declaração.

“Estou confiante que os melhores dias da Banjo ainda estão por vir e farei tudo ao meu alcance para garantir o sucesso da nossa missão”, escreveu Patton. “Entretanto, nas atuais circunstâncias, acredito que o melhor caminho da Banjo para o futuro será sob uma liderança diferente.”

Uma reportagem investigativa, publicada em abril pela OneZero, descobriu que quando Patton tinha 17 anos, ele esteve envolvido com os Cavaleiros Dixie da Ku Klux Klan e testemunhou contra outros membros em juízo afirmando que ele era o motorista de um tiroteio de carro feito à noite que tinha como algo uma sinagoga de Nashville, antes de se esconder em um complexo paramilitar e deixar o estado. Ninguém foi ferido fisicamente ou morto no incidente.

Na ocasião, Patton foi acusado e declarado culpado de atos de delinquência juvenil, enquanto os outros dois membros da Klan, Leonard William Armstrong e Jonathan David Brown, foram condenados por violações de direitos civis (nos EUA, isso se refere a um crime que ocorre como resultado do uso da força ou da ameaça de força contra uma vítima). Armstrong aceitou um acordo com a justiça e Brown foi condenado por ser cúmplice de conspiração para violação de direitos civis, além de ter sido acusado de duas mentiras perante júri, de acordo com a OneZero.

Patton também admitiu participar de outras atividades relacionadas à Klan, como reuniões e discursos, e a OneZero descobriu que ele aparece em uma foto em um artigo de agosto de 1992 do jornal Tennessean sobre os esforços para construir um escritório das Nações Arianas no Tennessee. Essa foto mostra Patton e outros supremacistas brancos na casa do antigo líder das Nações Arianas, Bobby Norton.

Em julho de 2019, a Banjo fechou um contrato de cinco anos no valor de US$ 20,7 milhões com o estado de Utah para coletar dados de informações de tráfego, câmeras de segurança, chamadas da emergência, dados de geolocalização de veículos do estado e outros itens, e cruzá-los com dados de mídia social para formar o que eles chamam de um sistema de “Inteligência em Tempo Real”.

De acordo com a Motherboard, a partir do início de março de 2020, o sistema estava conectado às centras de emergência 911 (equivalente ao nosso 190) em todo o estado de Utah, além de estar implantado ou em fase de implementação em 13 municípios, 13 das maiores cidades do estado, 10 outras cidades “de relevância significativa”, o campus da Universidade de Utah e dezenas de outras localidades.

Esse contrato foi suspenso em 30 de abril; em uma declaração ao TechCrunch, o escritório do Procurador Geral de Utah disse que ficou “chocado e consternado” ao saber do passado de Patton. O Deseret News informou que o escritório do Procurador Geral antecipou uma auditoria previamente planejada do contrato com a Banjo e que estava procurando contratar uma entidade terceirizada para conduzir uma investigação.

O auditor estadual John Dougall também disse que seu escritório iria investigar se há alguma evidência de que a plataforma da Banjo tem algum “viés algorítmico”, acrescentando que a investigação seria complicada o suficiente para envolver especialistas privados, policiais e acadêmicos e levaria até um ano para ser concluída.

Pesquisas mostram que tecnologias de vigilância como o reconhecimento facial estão, em seu estado atual, cheias de viés algorítmico. O uso em vigilância de massas é alarmante para além das preocupações de privacidade, já que poderiam desfavorecer alguns grupos.

A Banjo não é a única empresa desse ramo cujo fundador tem um passado questionável. A empresa de reconhecimento facial Clearview AI recentemente disse que encerraria todos os contratos privados após relatórios revelarem que seu chefe, Hoan Ton-Isso, tem uma extensa ligação com o movimento de extrema-direita, com a companhia dizendo que passaria a concentrar seus esforços na aplicação da lei.

Patton disse ao Deseret News que “sofreu abusos de todas as formas” quando criança e que havia abandonado suas visões extremistas enquanto serviu a Marinha dos Estados Unidos.

“Eu fiz coisas terríveis e disse coisas desprezíveis e odiosas, inclusive à minha própria mãe judia, algo que hoje acho indefensável, e sinto remorso extremo por isso”, disse Patton ao jornal. “Passei a maior parte da minha vida adulta trabalhando para reparar esse período vergonhoso da minha vida. Por todos aqueles que eu magoei, e que por essa revelação irão se machucar, eu sinto muito. Nenhuma desculpa vai desfazer o que eu fiz.”

Patton acrescentou que sua intenção com seu trabalho era “interromper o sofrimento humano e salvar vidas sem violar a privacidade. Sei que nunca serei capaz de apagar meu passado, mas trabalho duro todos os dias para compensar os erros. Isso é algo que eu nunca vou parar de fazer.”

Um porta-voz da empresa confirmou ao Deseret News que Patton não é mais “um funcionário, não está mais no conselho, e não tem capacidade operacional na empresa.”

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