China mostra sinais de que deve retaliar EUA ao banir componente chave para criar smartphones

Mídia estatal chinesa fala em limitar acesso a metais terras raras, essenciais para construir smartphones, para empresas dos EUA.
Área de pesquisa da Huawei na China
Getty Images

O governo chinês está dando sinais de que está pronto para usar os metais de terras raras como uma barganha na guerra comercial entre EUA e China, que escalou bastante nas últimas semanas. A China fornece 80% dos metais de terras raras usados pelos Estados Unidos. Eles são usados de smartphones a máquinas de raio-X, o que significa que isto pode ser um grande problema para o país.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China tem ocorrido em distintos setores, da agricultura à mineração. No entanto, o setor de tecnologia tem começado a ganhar bastante atenção, com os Estados Unidos atacando a Huawei e dos seus laços com o governo chinês, algo que preocupa as autoridades norte-americanas. Este é um caso em que mineração e tecnologia colidem.

Apesar do nome, os 17 elementos químicos de terras raras são bem comuns. O “raro” vem do fato de que eles são muito difíceis de se extrair antes de ser usado em eletrônicos, apesar de sua abundância pela crosta da Terra. E a mídia chinesa tem mostrado fortes sinais de que a coisa deve ficar quente muito em breve.

“Sem dúvida, os Estados Unidos querem usar produtos feitos pelos terras raras exportados pela China para conter e suprimir o desenvolvimento da China. O povo chinês nunca aceitará isso!”, diz um editorial do jornal People’s Daily publicado nesta quarta-feira (29), segundo uma tradução feita pela Reuters.

O jornal People’s Daily diz ainda que “nós alertamos os EUA para não subestimarem a habilidade chinesa de salvaguardar seus direitos de desenvolvimento e interesses. Não diga que nós não lhe avisamos!”. Embora a expressão “não diga que não lhe avisamos” possa parecer inofensiva quando comparado com a retórica empregada por Trump, isso é, na verdade, historicamente importante. Como a Bloomberg News e a Reuters pontuam, esta frase foi usada por veículos chineses apenas em ocasiões de confronto, incluindo um impasse de fronteira com a Índia em 2017 e a invasão do Vietnã em 1979.

Se a China cortar o acesso dos EUA aos metais de terras raras, o país provavelmente aceleraria o processamento desses materiais na Califórnia ou mesmo buscar outras fontes em aliados, como a Austrália. A empresa Lynas Corp, especializada em terras raras, tem investido bastante em novas instalações na Austrália, que permitiriam aumentar significantemente a produção. Só a possibilidade de a China tomar partido na história fez com que as ações da Lynas tivessem alta de 14% na bolsa de valores da Austrália.

Huawei é o principal alvo

Quase todos os comentários sobre a guerra comercial entre os países menciona a Huawei, e com razão. O Departamento de Justiça dos EUA acusou a Huawei em janeiro de fraude, obstrução de justiça, além de roubo de segredos comerciais.

O presidente Donald Trump invocou diversas vezes a segurança nacional ao discutir o caso da Huawei, mas ele também deu sinais de que faria exceções em troca de concessões comerciais feitas pela China. Talvez não seja só uma sugestão, mas uma mensagem explícita quase que o real motivo para isso é retaliação ao governo chinês.

“A Huawei é muito perigosa”, disse Trump, na semana passada, antes de esclarecer que ele não estava muito preocupado com a segurança.

“É possível que a Huawei possa ser incluída em algum tipo de acordo”, continuou Trump. “Se fizermos um acordo, posso imaginar a Huawei sendo incluída de alguma forma…em alguma parte do acordo comercial.”

A Huawei, que tem uma sede norte-americana em Plano, Texas, registrou uma moção na noite desta terça-feira (28) para declarar o banimento da empresa dos EUA como inconstitucional. No entanto, a ação parece ser um movimento a longo prazo nas cortes dos EUA após o NDAA (Lei de Autorização de Defesa Nacional), assinada pelo Congresso, tornou muito mais fácil o banimento da Huawei por motivos de segurança nacional, reais ou imaginários.

O diretor jurídico da Huawei, Song Liuping, emitiu um comunicado nesta manhã dizendo que o Governo dos Estados Unidos quer que a Huawei vá à falência, chamando a decisão de “nada normal” e de “nunca vista na história”.

“O fato é que o Governo dos EUA não mostrou nenhuma evidência que mostrasse que a Huawei representa uma ameaça à segurança”, disse Song. “Não tem uma prova concreta. Apenas especulação.”

A Huawei tentou diferentes táticas, às vezes citando os pais fundadores dos EUA, em outras falando que se há medo quanto à espionagem chinesa, você talvez devesse ter medo da espionagem praticada pelos Estados Unidos. Eles até tentaram a tática do elogio — no caso, o CEO da Huawei, chegou a dizer que Trump como um “grande presidente”.

No entanto, agora a Huawei parece que adotou uma nova linha, falando de preços mais acessíveis e que servirá as áreas ruais dos Estados Unidos o melhor possível — a Huawei é líder na fabricação de infraestrutura 5G, o que poderia, eventualmente, ser usado para levar internet móvel superrápida para áreas menos povoadas.

“Deixe eu esclarecer”, continuou Song. “Este processo é sobre o que é certo. O NDAA é ruim para a Huawei. No entanto, ele também remove a liberdade de escolha de operadoras norte-americanas e consumidores. Nos EUA, muitas pessoas em áreas rurais têm sido deixadas de lado. Elas ainda não têm acesso a redes de banda larga com preços acessíveis”.

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