Como ciclistas profissionais trapaceiam usando bicicletas motorizadas

Cada vez mais ciclistas usam motores escondidos em suas bicicletas durante competições profissionais. Como evitar isso?

Se você achava que o escândalo de doping de Lance Armstrong seria a última controvérsia a abalar o mundo do ciclismo profissional, você estava errado.

A Union Cycliste Internationale confirmou que a ciclista belga Femke Van den Driessche, de 19 anos, trapaceou no Campeonato Mundial ao usar um pequeno motor na sua roda traseira. Essa revelação faz parte de um crescente problema no ciclismo profissional, que forçou a UCI a adicionar uma nova cláusula a seu livro de regras sobre “doping tecnológico” no começo do ano passado.

A revelação é chocante, considerando a natureza dos escândalos nos principais esportes do mundo: historicamente, alguns dos principais escândalos de trapaça envolviam engenharia social, como pagamento a árbitros; ou o uso de drogas que melhoram o desempenho do atleta.

O motivo desse novo escândalo ser tão grande está no fato de que, pela primeira vez, um trapaceiro em uma competição esportiva foi pego usando tecnologia motorizada para ganhar vantagem em relação aos concorrentes.

Como alguém esconde um motor em uma bicicleta?

Existem duas formas de uma pessoa conseguir instalar um motor em uma bicicleta: um deles é usando um acelerador, ou uma pequena alavanca no guidão que faz o motor funcionar. Quando você pressiona ou gira o acelerador, a velocidade do motor aumenta, acelerando a bicicleta. O problema desse método é que esse acelerador é visível, então para quem quer trapacear em uma competição de ciclismo profissional, esse método não é viável.

A outra forma de instalar um motor em uma bicicleta é usando um sensor de cadência ou um sensor de torque. Esses métodos funcionam mais ou menos como o acelerador, mas em vez de regular através de um botão, você consegue controlar com o próprio pé.

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Imagem via Vivax

O sensor é posicionado nos pedais da bicicleta, e é capaz de detectar a velocidade do movimento do pedal ao monitorar um pequeno imã que passa pelo sensor a cada volta completa. O motor roda a uma velocidade maior quando os pedais estão indo mais rápido. Esse tipo de kit normalmente é chamado de bicicleta com assistente de pedal, porque a velocidade do motor é totalmente controlada pela rotação dos pedais.

Os trapaceiros que usam motores elétricos em competições profissionais preferem as com assistentes de pedal às que têm acelerador, porque é muito mais difícil detectar o motor ilegal em um primeiro momento. Também existem diversas formas diferentes de se instalar esse motor em uma bicicleta de corrida.

Por exemplo, o Vivax Assist é um sensor de torque popular que custa 2.700 euros e pode ser colocado em praticamente todas as bicicletas de corrida. A empresa até divulga bastante seu visual discreto no site oficial, dizendo que “o design especial da unidade permite que ele seja posicionado em uma armação de bicicleta com o tubo interno do selim de diâmetro de 31,6 mm ou 30,9 mm sendo, portanto, invisível na bicicleta”.

Existem dezenas de outros motores elétricos de bicicletas no mercado. Eles não são vendidos especificamente para trapaceiros, mas o tamanho cada vez menor deles, assim como a facilidade de instalação, os torna bastante tentadores para ciclistas com falta de ética. Estamos chegando a um ponto em que essa tecnologia finalmente ficará barata o suficiente para pessoas comuns conseguirem comprar esses equipamentos.

Como a UCI evita o uso de motores elétricos ilegais?

Por anos, a UCI usou máquinas de raio-X enormes estilo de aeroporto no Tour de France para buscar bicicletas que tivessem motores elétricos ilegais durante a competição.

No ano passado, o ciclista Chris Froome foi acusado de usar um motor dentro da sua bicicleta (além de encarar acusações de doping). Os acusadores citaram as velocidades incomuns de aceleração de Froome como motivo para acreditar que ele estava sendo impulsionado por um motor elétrico. Froome elogiou as checagens de bicicleta que foram feitas contra ele e outros ciclistas, porque achava que isso colocaria um fim na especulação sobre ele ter ou não trapaceado.

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Femke Van den Driessche; foto por flowizm/Flickr

A UCI supostamente pegou Van den Driessche ao usar um computador que consegue ler frequências de rádio emitidas pelo motor. Quando o computador detectou sinais de um motor na bicicleta dela, o órgão supostamente removeu o selim e descobriu fios conectados ao motor.

Até agora, o processo de análise de todos os ciclistas profissionais ainda está sendo elaborado pelos organismos responsáveis. Assim como qualquer outra área de inovação tecnológica, as regras ainda não estão definidas para coisas que surgiram recentemente. No futuro, a tendência é termos mais motores potentes que exigem menos bateria, e podem ser escondidos em qualquer parte da bicicleta. Por outro lado, novos métodos de detecção de motores também devem surgir.

Esperamos ver muitas tecnologias de varredura, já usadas no meio militar e em aeroportos, sendo usadas em competições de ciclismo. Essas possíveis tecnologias incluem varredura térmica, busca por frequências de rádio e varredura de ondas milimétricas. É bizarro que organizadores de competições de ciclismo precisam usar equipamentos militares para obrigar ciclistas a serem honestos, mas pelo jeito é esse o caminho que vamos seguir.

Primeira foto via AP

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