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Cientista americano diz que governos não querem investigar origem da Covid

Jeffrey Sachs presidiu a comissão da revista científica The Lancet para investigar o Sars-CoV-2. Segundo ele, há indícios de que os EUA apoiam “pesquisas arriscadas” em biotecnologia, que poderiam ter sido responsáveis pela criação acidental do vírus

Cientista americano diz que governos não querem investigar origem do Covid

Imagem: Jay Louvion/WTO/Divulgação

É possível que autoridades dos EUA – e da comunidade internacional – estejam encobrindo a verdadeira origem da Covid-19.

É essa a hipótese de Jeffrey Sachs, presidente da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU e presidente da comissão que investigou o vírus na conceituada revista médica The Lancet

Em artigo publicado na PNAS, a principal revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, Sachs pede um inquérito independente sobre as origens do vírus. Segundo ele, há indícios de que os EUA apoiam “pesquisas arriscadas” em biotecnologia, que poderiam ter sido responsáveis pela criação acidental do vírus Sars-CoV-2, o causador da Covid-19. 

Por isso, institutos nacionais de saúde e membros da comunidade científica estariam impedindo uma investigação verdadeira sobre o que pode ter causado a pandemia. 

“Não sabemos ao certo, mas há evidências suficientes de que isso deve ser investigado, o que não está acontecendo. Acredito que por motivos reais eles não querem olhar por baixo do tapete”, afirmou, em entrevista dada em julho.  

Qual a hipótese de Sachs 

À revista Current Affairs, Sachs disse que havia pesquisas em andamento sobre a infecção pelo vírus Sars (um primo do Sars-CoV-2) nos EUA e na China. Os estudos compreendiam, também, a manipulação do vírus em laboratório para torná-lo mais “perigoso”. 

Parte disso envolve a descoberta do sequenciamento do genoma do “local de clivagem de furina” – ou a região que ativa a proteína spike da Covid-19, a “porta de entrada” do vírus nas células humanas. 

“O que é interessante, e preocupante, é que pesquisas em andamento no final de 2019 promoviam a inserção de locais de clivagem de furina em vírus tipo SARS para ver o que aconteceria”, afirmou. 

Por isso, segundo Sachs, não é impossível que um vírus altamente contagioso – o Sars-CoV-2 – tenha sido criado acidentalmente e, depois, vazado para fora do laboratório. “Isso é o que pode ter acontecido. Desde o início, é uma possibilidade muito real, mas que não passou pelo exame necessário”, apontou. 

Já existiam alertas

Mesmo antes da pandemia, a comunidade científica já discutia se pesquisas sobre mutações de vírus em laboratório poderiam causar uma catástrofe local – ou global. Havia o alerta de que um agente infeccioso pudesse, inclusive, passar por arma biológica mesmo em caso de erro acidental.

Em 2014, esse tipo de estudo entrou em moratória – ou seja, estava suspenso até segunda ordem. A decisão caiu em 2017 e os estudos foram retomados em 2018. “Houve vários tipos de experimentos de manipulação dos genes de vírus perigosos”, contou Sachs. “Mas os laboratórios insistiram, solicitaram inserção e finalmente conseguiram”.

O objetivo dos laboratórios era desenvolver medicamentos e vacinas para vírus com alto “potencial de transbordamento”. Ou seja, precisavam testar até onde chegavam suas capacidades de contágio. 

“Desde o primeiro dia, ninguém perguntou [aos laboratórios] se eles fizeram isso. Ninguém pediu seus relatos. Em vez disso, escreveram que foi natural, publicaram medidas para salvar o mercado. Por isso, eu não confio nesses relatos”, concluiu Sachs. 

O que é oficial sobre a origem da Covid-19

Em março de 2021, a 1ª investigação sobre as origens da Covid-19 realizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e especialistas da China descartou a criação do vírus em laboratório. 

A hipótese mais correta para a origem do causador da Covid, segundo o relatório, é que houve transmissão aos seres humanos via animal intermediário. O estudo descartou qualquer necessidade de estudos adicionais fora da China. Logo depois, os EUA iniciaram uma investigação independente, mas não concluíram sobre a origem do vírus — acusando a China de “falta de transparência”. 

Em janeiro deste ano, e-mails divulgados pelo Comitê de Supervisão e Reforma dos Republicanos do Congresso dos EUA apontaram que o conselheiro médico de Joe Biden, Anthony Fauci, teria preferido não discutir a tese de que o novo coronavírus se espalhou a partir de laboratórios de Wuhan. 

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