Geneticista teme que cientista chinês que modificou embriões clandestinamente sofra pena de morte

Um geneticista britânico está preocupado que He Jiankui (foto do topo) — o cientista chinês responsável pelo suposto nascimento de gêmeos humanos geneticamente modificados — possa enfrentar pena de morte por acusações de corrupção e suborno. Quando He Jiankui desapareceu em dezembro, suspeitamos de que o cientista teria problemas, mas o Telegraph reporta que a […]
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Um geneticista britânico está preocupado que He Jiankui (foto do topo) — o cientista chinês responsável pelo suposto nascimento de gêmeos humanos geneticamente modificados — possa enfrentar pena de morte por acusações de corrupção e suborno.

Quando He Jiankui desapareceu em dezembro, suspeitamos de que o cientista teria problemas, mas o Telegraph reporta que a situação do chinês é pior do que pensávamos.

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O controverso cientista está supostamente vivendo sob forte policiamento em um apartamento do governo chinês em Shenzhen, de acordo com o geneticista Robin Lovell-Badge, do Instituto Francis Crick em Londres, que agora está preocupado que seu colega sofra pena de morte pelo feito.

Em novembro de 2018, Lovell-Badge organizou a Segunda Cúpula Internacional sobre Edição do Genoma Humano na Universidade de Hong Kong. Ao ouvir rumores sobre o controverso experimento de He, Lovell-Badge decidiu convidar o cientista de 34 anos e empreendedor da área de biotecnologia para o encontro com a esperança de moderar o entusiasmo dele, ou como disse ao Telegraph, “controlar seus impulsos”.

Durante a cúpula, ele admitiu usar a ferramenta de edição genética CRISPR/Cas9 para modificar embriões humanos, que agora já nasceram e são duas meninas gêmeas. Os humanos geneticamente modificados — os primeiros do mundo — são supostamente imunes ao HIV graças à edição do gene CCR5, que poderia fazer as duas gêmeas mais vulneráveis ao influenza, que causa a gripe, entre outros problemas de saúde conhecidos e outros desconhecidos.

Ele disse que estava orgulhoso do seu trabalho quando discursou na cúpula, apesar das críticas de que sua pesquisa era prematura, que os experimentos foram feitos em segredo e que ele não usou os canais convencionais de divulgação e revisão do trabalho por pares.

O Telegraph reporta que cientistas no Reino Unido que estão familiarizados com o experimento disseram que He pode ser acusado por corrupção e suborno, crimes que podem levar à pena de morte na China. Além disso, ele é acusado de violar diretrizes de pesquisa, ao implementar embriões geneticamente modificados na mãe em vez de destruí-los, como mandam as regras do ramo. Na China, as diretrizes estaduais carregam o mesmo peso legal do que leis estabelecidas, segundo informa o Telegraph.

“Há uma investigação oficial liderada pelos ministérios da ciência e da saúde”, disse Lovell-Badge ao Telegraph. “Um monte de gente provavelmente vai perder empregos, pois ele obviamente não era a única pessoa envolvida nisso. Como ele fez com que todo mundo trabalhasse para ele? Ele pode estar envolvido em vários tipos de acusações de corrupção e ser declarado culpado, o que é algo que ninguém quer na China. Algumas pessoas inclusive foram mortas por isso.”

De fato, o governo chinês vem reprimindo a corrupção endêmica do país, inclusive no campo de pesquisa científica. No início de 2018, o governo apresentou novas reformas, incluindo a introdução de uma lista de infratores, cujos membros podem ser barrados de receber bolsas ou cargos de pesquisa. E em dezembro, a China anunciou seu controverso sistema de crédito social, que também será usado para coibir cientistas que quebram regras.

Lovell-Badge disse que He está em um apartamento de uma universidade estatal chinesa desde dezembro, e que “um grande número” de guardas armados fica no local. Não está claro se He está sob prisão domiciliar ou está sendo protegido pelos guardas, já que o cientista também tem sido alvo de ameaças de morte, conforme reporta a publicação britânica.

He, que é físico, usou seu próprio dinheiro para financiar a pesquisa, permitindo que ele contratasse técnicos de laboratório e especialistas em fertilização em vitro para realizar o trabalho.

“Aqui você tem um físico que conhece um pouco de biologia, que é muito rico, tem um ego enorme e quer ser o primeiro a fazer algo que mudará o mundo”, disse Lovell-Badge ao Telegraph. Oficiais chineses terão de determinar o nível de envolvimento destes colaboradores no projeto e se eles sabiam da ilegalidade para determinar a culpabilidade.

O cientista chinês deve pagar pelas suas ações, mas a pena de morte, se chegar a esse ponto, é exagero. Seria lamentável para He se tornar uma espécie de bode expiatório — um subterfúgio para o governo e seus funcionários adiarem suas responsabilidades por questões sistêmicas e regulatórias. Sim, ele agiu de forma irresponsável, mas o problema não deveria ser sobre punições, mas em encontrar formas de prevenir que isso ocorra novamente.

[Telegraph]

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