Cientistas observam pela primeira vez água morna debaixo de geleira da Antártica

Uma recente expedição de pesquisa sobre o gelo revelou pela primeira vez que a água quente alcançou um local crucial por baixo da geleira Thwaites.
GIF: David Holland/NYU & NYU Abu Dhabi

A crise climática está fazendo com que o gelo na Antártica derreta mais rapidamente do que em qualquer outro momento da história. E os cientistas acabaram de encontrar outro sinal preocupante. Registros de água morna estão emergindo sob uma geleira da Antártica, cujo destino está entrelaçado com os milhões de pessoas que vivem ao longo da costa. Não é necessário dizer que os resultados podem ser catastróficos.

A imensa Geleira Thwaites se estende da camada de gelo da Antártica Ocidental para o Mar de Amundsen, onde parte da geleira flutua. É a geleira mais vulnerável de todo o continente, e seu colapso pode ser parte de uma cadeia de eventos que levariam o mar a subir três metros. Não é de admirar que seu apelido seja “geleira do dia do juízo final”. Os pesquisadores sabem há décadas que ela é instável, mas uma recente e ousada expedição de pesquisa sobre o gelo revelou pela primeira vez que a água morna alcançou um local particularmente crucial por baixo dela.

Uma equipe de 100 pesquisadores dos EUA e do Reino Unido foi enviada para a geleira em novembro como a primeira grande expedição à geleira Thwaites. A equipe se espalhou pelo gelo em grupos para fazer uma variedade de trabalhos, incluindo a captura de vídeos impressionantes debaixo do gelo.

Outro grupo perfurou um buraco de quase 610 metros de profundidade através do gelo até o oceano abaixo. Os cientistas então lançaram um dispositivo capaz de medir as temperaturas e a turbulência do oceano nas profundezas. Eles registraram temperaturas da água de cerca de 0°C. Isso é mais de 2°C mais quente que o ponto de congelamento desse local devido à química da água mais salgada.

As leituras alarmantes foram feitas na “linha de aterramento” da geleira, onde o gelo transita entre descansar na rocha e flutuar no oceano. Thwaites tem uma infeliz topografia: a rocha se inclina para baixo, permitindo que as águas cortem profundamente sob o gelo.

Para piorar, as águas eram turbulentas, o que significa que a água salgada do oceano e a água doce glacial estão se misturando. Essa turbulência pode empurrar a água quente em direção à geleira, fazendo com que o gelo derreta ainda mais rápido.

A descoberta “sugere que ela pode estar passando por um recuo imparável que tem enormes implicações para o aumento global do nível do mar”, David Holland, glaciologista da Universidade de Nova York, que realizou a pesquisa, disse em um comunicado de imprensa.

O aumento do nível do mar não afetará apenas as áreas remotas onde as geleiras estão derretendo. As comunidades costeiras por todo o mundo teriam que lidar com a água extra despejada no oceano.

“As águas quentes nesta parte do mundo, por mais remotas que possam parecer, devem servir de alerta para todos nós sobre as mudanças terríveis em potencial causadas pelas mudanças climáticas no planeta”, disse Holland.

A geleira Thwaites abrange quase 192 mil quilômetros quadrados, aproximadamente do tamanho da estado do Paraná, e já contribui para quatro por cento da elevação do nível do mar global. Se ela entrar em colapso, Thwaites sozinha drenaria gelo suficiente da Antártica Ocidental para elevar o nível do mar global em quase um metro.

Mas os efeitos podem ser ainda piores do que isso. Thwaites e outra grande geleira, a Geleira Pine Island, atuam como freio em parte da camada de gelo da Antártica Ocidental. Pine Island tem uma configuração semelhante à de Thwaites, com a rocha inclinada para baixo sob o gelo e a água quente girando embaixo dela .

Se as duas derreterem, grandes quantidades de gelo podem se romper e fluir para o mar. Isso faria com que os oceanos subissem 3 metros, afogando muitas cidades costeiras.

Não está claro exatamente com que rapidez a geleira Thwaites derreterá, mas está claro que a crise climática está acelerando o processo. E isso é perigoso para muitas partes do mundo, porque o que acontece na Antártica não fica na Antártica.

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