Alguns cientistas querem que hipopótamos de Pablo Escobar sejam mortos

Novo estudo cita riscos ambientais e de segurança pública e propõe abater os animais antes que população fique muito numerosa.
Hipopótamos são vistos no parque temático Hacienda Napoles, que já foi o zoológico particular do chefão das drogas Pablo Escobar em seu rancho Napoles, em Doradal, departamento de Antioquia, Colômbia em 22 de junho de 2016. Foto: Raukl Arboleda (Getty Images)

Cientistas publicaram um estudo no periódico Biological Conservation no início deste mês alertando que os hipopótamos importados pelo chefão da cocaína Pablo Escobar há décadas estão tomando conta dos pântanos da Colômbia e que a situação vai piorar muito se as autoridades não se livrarem das criaturas.

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Se você não conhece muito bem a história, vamos relembrar. A Polícia Nacional da Colômbia matou Pablo Escobar em 1993. Além disso, as autoridades apreenderam sua fazenda de 28 quilômetros quadrados, incluindo seu zoológico particular. Mas enquanto eles enviaram a maioria dos animais de Escobar para viver em outros zoológicos e reservas de vida selvagem, eles deixaram seus quatro hipopótamos crescerem sozinhos, mesmo não sendo nativos da região. Esses quatro se reproduziram, e agora há cerca de 80 hipopótamos vagando pelo país, tendo se tornado uma espécie de mascote nacional.

Os hipopótamos, chamados pelo artigo de “o maior animal invasor do mundo”, estão causando estragos nos ecossistemas do país. No ano passado, pesquisas mostraram que as fezes dos animais estavam mudando a química e os níveis de oxigênio dos cursos d’água locais, fertilizando cianobactérias prejudiciais, que podem levar ao florescimento de algas verde-azuladas que deixam pessoas e animais doentes. Os hipopótamos também têm sido uma ameaça direta à segurança dos colombianos: eles já perseguiram e até feriram gravemente um homem em maio de 2020. Globalmente, os hipopótamos matam mais pessoas a cada ano do que qualquer outra espécie de grande mamífero. É melhor não mexer com eles.

Os animais continuam a se reproduzir e não enfrentam predadores naturais na Colômbia. Os animais se espalharam para viver a 161 quilômetros de seu lar original na propriedade de Escobar. Eles agora residem ao longo da bacia do rio Magdalena, que é uma fonte importante de água para consumo e atividades econômicas, como agricultura e pecuária.

Devido a preocupações com a saúde e segurança públicas, as autoridades colombianas lançaram um plano para matar os hipopótamos em 2009, mas a ideia foi abandonada rapidamente depois de ter uma péssima repercussão. Os autores do novo estudo dizem que abandonar o plano foi um erro. Eles preveem que “o tamanho da população continuará a aumentar constantemente”, chegando a quase 1.500 hipopótamos em 2040. Até lá, os animais começarão a ter efeitos irreversíveis nos ecossistemas locais e representarão uma ameaça séria e descontrolada à segurança humana. Para evitar uma catástrofe ecológica e uma ameaça pública maior, o artigo clama para que as autoridades a considerarem mais uma vez o abate dos hipopótamos antes de chegar a esse ponto.

Nem todos concordam em reabrir a discussão sobre matar os hipopótamos. Alguns cientistas acham que devemos deixar esses bichos em paz — ou pelo menos continuar a estudar seus impactos no ecossistema sem julgamento. Um artigo no ano passado indicou que os animais têm, na verdade, sido benéficos para o meio ambiente da Colômbia, cumprindo papéis ecológicos antes desempenhados por antigos notoungulados, que foram extintos há milhares de anos.

“Não afirmamos que os hipopótamos sejam benéficos ou não — mas que eles devem ser estudados sem esses tipos de rótulos, no contexto de longo prazo”, disse um autor desse estudo na época.

Outros ecologistas, observa o novo estudo, veem os hipopótamos como um problema, mas pensam que em vez de matá-los, eles deveriam ser castrados, permitindo que vivessem suas vidas, mas não se reproduzissem. Isso poderia pelo menos mitigar parte da reação da última vez que as autoridades consideraram exterminar os animais, o que gerou protestos. Mas, como observam os autores, as tentativas anteriores de conter e esterilizar os hipopótamos não tiveram muito sucesso, uma vez que os animais são extremamente rápidos e violentos. Cientistas do estado conseguiram capturar apenas quatro entre 2011 e 2019, o que “não parece ter um impacto importante na reprodução”, escreveram os autores.

O que quer que as autoridades decidam fazer, os autores deixam claro que é pelo menos hora para eles levarem a sério a pesquisa dos custos e benefícios potenciais de todas as soluções. “Há uma necessidade urgente de realizar pesquisas colaborativas sobre os conflitos sociais causados ​​pelos hipopótamos na Colômbia”, diz o estudo. Caso contrário, mais pessoas e ecossistemas serão prejudicados.

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