
Cientistas podem ter encontrado o primeiro tratamento para quem sofre de desmaios crônicos

Uma pesquisa preliminar publicada na última semana constatou que um marca-passo pode ajudar pessoas com tendência a desmaiar a ficarem mais em pé. Os resultados deste e de outros estudos podem fazer com que os marca-passos se tornem o primeiro tratamento específico para desmaios crônicos.
O desmaio – ou síncope, como é conhecido na medicina – é causado quando o fluxo sanguíneo para o cérebro é interrompido bruscamente por algum motivo. Embora existam fatores desencadeantes comuns para desmaios, como estresse ou se levantar rápido demais, ele pode ocorrer sem uma causa específica. Esse problema pode estar ligado a condições crônicas, como convulsões, ou não tem uma origem conhecida.
Diferentes partes do corpo, incluindo o cérebro, podem se tornar disfuncionais o suficiente para levar a um episódio de desmaio. Mas a situação é mais comumente causada por uma queda repentina na pressão arterial e diminuição da frequência cardíaca, que é conhecida como síncope vasovagal (referindo-se à superestimulação do nervo vago que vai do cérebro ao abdômen). Pessoas com risco de síncope vasovagal recorrente podem ser identificadas por meio de um teste de inclinação, no qual a pessoa se deita em uma mesa que se inclina enquanto sua pressão arterial e frequência cardíaca são medidas, com a inclinação simulando levantar rapidamente.
Esta nova pesquisa foi apresentada na conferência anual (e agora apenas digital) da Sociedade Europeia de Cardiologia. Mais de 120 pessoas que tiveram pelo menos dois episódios de desmaios repentinos em 2020 e tiveram uma resposta ao teste de inclinação foram recrutadas para um ensaio clínico. Todos os voluntários possuíam mais de 40 anos, tinham dificuldade em sua vida diária por causa de seus desmaios imprevisíveis e não tinham condições adicionais que pudessem explicar seus desmaios, como histórico de insuficiência cardíaca ou outros problemas cardiovasculares.
Todos os inscritos na pesquisa foram equipados com um marca-passo, um pequeno dispositivo implantado no tórax ou abdômen que usa pulsos elétricos para manter o coração batendo normalmente, caso se movimente mais acelerado. Metade dos voluntários foi designada aleatoriamente para ter o marcapasso ligado, enquanto a outra metade tinha um marcapasso que permaneceu desligado (os participantes não sabiam em qual grupo estavam).
Em seguida, documentaram qualquer episódio de desmaios no ano seguinte. Mais de 50% das pessoas no grupo de controle relataram pelo menos um desmaio durante esse período, enquanto apenas 16% no grupo com marca-passo funcional relataram o mesmo. Isso equivale a uma redução de 77% no risco relativo de desmaio, e os autores do estudo estimaram que o uso de um marca-passo evitaria o desmaio em aproximadamente cada duas pessoas com essa forma mais grave da síncope.
As descobertas do estudo são preliminares, uma vez que não passaram pelo processo típico de revisão por pares. E o implante de um marca-passo não é um empreendimento totalmente isento de riscos – no estudo, cinco pacientes relataram eventos adversos menores, incluindo sintomas de exposição ao chumbo. Contudo, não existem tratamentos específicos disponíveis para desmaios recorrentes, apenas conselhos gerais para evitar os gatilhos. Além disso, pode se tratar de uma condição debilitante.
Esta também não é a primeira evidência encorajadora que sugere que os marca-passos podem prevenir alguns tipos de desmaios recorrentes, incluindo em pessoas com problemas cardíacos conhecidos, embora outras pesquisas sugiram que os marca-passos podem não ser adequados para todas as pessoas com essa condição.
“Nosso estudo mostra que o marcapasso pode ser um tratamento eficaz para pessoas selecionadas com episódios de desmaios imprevisíveis. O teste de inclinação é uma maneira simples e não invasiva de identificar pessoas que podem se beneficiar. Esperamos que esta nova opção de tratamento permita que esses pacientes retomem uma vida normal sem medo de apagões”, disse a autora do estudo, Michele Brignole, do Programa de Desmaios e Quedas do Istituto Auxologico em Milão, na Itália.