Cocaína faz o cérebro envelhecer mais rápido, sugere estudo

Amostras cerebrais de pacientes que usavam cocaína apontam o acúmulo de grupos metil no DNA, que estão relacionados ao avanço da idade e, neste caso, podem explicar o vício
Efeitos da cocaína no cérebro
Imagem: Robina Weermeijer/Unsplash/Reprodução

A cocaína é uma das substâncias mais viciantes conhecidas pelos seres humanos. Sabe-se que a droga interfere nas vias de recompensa do cérebro, forçando as células a enviar sinais agradáveis ​​até que o efeito passe.

Mas como exatamente a cocaína atua nessas células e leva ao vício ainda não é totalmente claro. Porém, um estudo publicado na revista Frontiers in Psychiatry pode ajudar a solucionar essa questão. 

Para desvendar o mistério, pesquisadores da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, resolveram analisar o tecido cerebral de 42 pessoas já falecidas – metade que utilizava cocaína e metade que não utilizava.

Eles tinham um foco: a região do cérebro chamada área 9 de Brodmann, situada no córtex pré-frontal. Essa região está relacionada a autoconsciência e ao controle inibitório, que acabam sendo afetados pelo uso de substâncias. 

Segundo os cientistas, o vício poderia estar relacionado a mudanças feitas no DNA cerebral, o que alteraria a maneira como os genes são ativados e desativados. Então, a equipe analisou os padrões dessas chamadas mudanças epigenéticas nessa parte específica do cérebro.

Acúmulo de grupos metil

Os pesquisadores encontraram grupos metil no DNA de usuários de droga. A chamada metilação é uma das marcas moleculares do envelhecimento, se acumulando com o avanço da idade e também devido a doenças relacionadas a idade.

Esses grupos metil, por sua vez, podem interferir na atividade genética, impedindo que as células acessem as instruções presentes no DNA e façam seu trabalho de forma correta. 

A equipe acredita que essas alterações moleculares podem contribuir para as mudanças funcionais e estruturais de alto nível observadas nos cérebros de pessoas com transtorno por uso de cocaína e, consequentemente, induzir ao vício.

Vale deixar claro que esse foi um estudo pequeno. Os cientistas ainda não podem confirmar, por exemplo, se a metilação está relacionada a substância ou a doenças que podem ser ocasionadas pela droga. 

Muitos dos doadores que tiveram o cérebro analisado sofriam de depressão, o que também pode ter afetado a função cerebral. Estudos futuros mais abrangentes devem contribuir para o caso.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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