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Principal ingrediente de cogumelos psicodélicos está prestes a virar tratamento para depressão nos EUA

O ingrediente ativo que faz dos cogumelos mágicos tão mágicos — a droga psicodélica psilocibina — está cada vez mais perto de se tornar um tratamento legal para casos difíceis de depressão. Nesta semana, a empresa Compass Pathways anunciou que havia recebido a designação de Terapia Inovadora da FDA (órgão norte-americano equivalente à Anvisa) para […]

O ingrediente ativo que faz dos cogumelos mágicos tão mágicos — a droga psicodélica psilocibina — está cada vez mais perto de se tornar um tratamento legal para casos difíceis de depressão. Nesta semana, a empresa Compass Pathways anunciou que havia recebido a designação de Terapia Inovadora da FDA (órgão norte-americano equivalente à Anvisa) para o seu tratamento à base de psilocibina. A designação deverá acelerar a revisão do tratamento para uma possível aprovação.

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Embora muitas pessoas que tenham tomado psilocibina e outras drogas que alteram a mente de forma recreativa possam atestar os sentimentos positivos que elas causam, a pesquisa sobre os possíveis benefícios à saúde mental dessas drogas tem sido abafada há décadas.

A psilocibina e outros psicodélicos, como o LSD e o DMT, são classificados pelo governo federal dos Estados Unidos como substâncias controladas da Tabela I nos EUA, o que significa que elas não são consideradas como tendo uso médico aceito. Por outro lado, os opioides usados como analgésicos prescritos são os medicamentos da Tabela II, o que significa que são reconhecidos como úteis em termos médicos, mas têm um alto potencial de vício.

Porém, nos últimos anos, médicos, pacientes e até mesmo empresas farmacêuticas lentamente começaram a convencer o governo a reconsiderar sua posição, ajudados por pequenos estudos piloto que mostram que essas drogas, normalmente em “microdoses” menores do que uma pessoa consumiria recreativamente, podem ajudar a tratar depressão, ansiedade e até mesmo o vício em drogas.

Isso é, em parte, o que faz da designação de “inovadora” tão importante, já que é também um reconhecimento pelo FDA de que uma droga potencial tem alguma “evidência clínica preliminar” para seus suposto efeitos — efeitos esses que podem superar os de quaisquer outros tratamentos existentes disponíveis.

No caso da psilocibina, estudos no Reino Unido e nos Estados Unidos descobriram que ela poderia tratar pessoas com depressão que não responderam bem a outros tratamentos. E a Compass deverá financiar o primeiro teste em grande escala da psilocibina feito na América do Norte e na Europa no próximo ano, segundo a empresa (a versão da psilocibina da Compass vem em forma de pó, sintetizada no laboratório). O desenvolvimento da droga é o primeiro grande projeto para a empresa sediada no Reino Unido, fundada em 2016.

“Essa é uma ótima notícia para os pacientes. Estamos empolgados por levar esse trabalho adiante com nosso ensaio clínico sobre a terapia com psilocibina para a depressão resistente ao tratamento”, disse George Goldsmith, presidente executivo da Compass, em um comunicado. “A FDA trabalhará de perto conosco para agilizar o processo de desenvolvimento e para aumentar as chances de levar esse tratamento para as pessoas que sofrem com depressão o mais rápido possível.”

O anúncio é apenas a mais recente boa notícia para o campo da medicina psicodélica.

Uma versão em spray nasal de cetamina, que é um anestésico veterinário e uma droga consumida em festas, poderá, em breve, ser aprovada pelo FDA para depressão resistente ao tratamento, após resultados mistos mas positivos relatados em testes clínicos de fase III. A versão em spray nasal, chamada esketamina e que está sendo desenvolvida pela Johnson & Johnson, recebeu uma designação de inovadora em 2016.

E, no ano passado, a FDA também concedeu status de inovador a um programa de pesquisa que usa o MDMA (um componente das drogas molly e ecstasy, populares em festas) em combinação com psicoterapia para tratar transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). O programa foi desenvolvido e está passando por seus próprios testes clínicos de fase III, com a ajuda da organização sem fins lucrativos Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS).

“Como a concessão da FDA da designação de Terapia Inovadora para a psicoterapia assistida por MDMA para o programa de pesquisa de TEPT no ano passado, essa notícia legitima ainda mais o campo da medicina psicodélica”, disse Brad Burge, diretor de Comunicação Estratégica na MAPS, em entrevista ao Gizmodo por e-mail. “O par de designações de Terapia Inovadora envia uma mensagem clara de que a terapia psicodélica provavelmente será a próxima grande mudança de paradigma na psiquiatria.”

[COMPASS Pathways]

Imagem do topo: Getty

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