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Cientistas revelam que Cometa 67P mudou de cor durante a missão Rosetta

Uma análise dos dados obtidos ao longo dos dois anos da missão Rosetta mostra que o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko tinha por vezes uma aparência avermelhada, enquanto outras vezes assumia uma tonalidade azulada.

Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko

Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em imagem capturada pela sonda Rosetta em 7 de julho de 2015. Imagem: ESA/Rosetta/NAVCAM – CC BY-SA IGO 3.0

Uma análise dos dados obtidos ao longo dos dois anos da missão Rosetta mostra que o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko tinha por vezes uma aparência avermelhada, enquanto outras vezes assumia uma tonalidade azulada. Parece estranho, mas os cientistas chegaram a uma explicação sensata que não envolve alienígenas com sprays de tinta.

Em uma nova pesquisa publicada na revista Nature, cientistas mostram que o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko mudou de cor dependendo da sua localização orbital.

O núcleo rochoso do cometa ficou mais azul quando ele se aproximava do Sol, mas depois ficou vermelho à medida que se afastava. Ao mesmo tempo, o coma do cometa – a bolha de gás e poeira circundante – fazia o oposto, parecia vermelho perto do Sol e azul quando distante.

Os autores do novo estudo, liderado por Gianrico Filacchione do INAF-IAPS, Instituo para Astrofísica do Espaço e Planetologia na Italy, ligaram essa variabilidade espectral à quantidade de gelo da água na superfície do cometa e na área imediatamente ao redor dele.

A sonda Rosetta, da Agência Espacial Europeia, realizou inúmeras medições do cometa 67P durante a missão de dois anos, que começou em julho de 2014 e terminou no final de setembro de 2016.

Entre os dados coletados estavam cerca de 4 mil imagens obtidas pelo instrumento Espectômetro de Imagem Visível e Infravermelho Termal (VIRTIS, na sigla em inglês), que revelou o comportamento de camaleão do cometa.

O cometa 67P, cuja órbita elíptica o leva para além de Júpiter e depois se aproxima do Sol a cada 6,4 anos, ainda estava longe de nossa principal estrela quando a Rosetta começou a operar. Observações desse período inicial revelaram uma superfície poeirenta com poucos vestígios de gelo visível. Imagens capturadas pelo instrumento VIRTIS revelaram um núcleo nitidamente avermelhado.

Ilustração do processo sazonal. Imagem: ESA

Com o passar do tempo, no entanto, o cometa aproximou-se do Sol e aventurou-se a ultrapassar a linha de congelamento do sistema solar – um limite dentro do qual o gelo d’água exposto sofre um processo químico chamado sublimação. Isso acontece quando uma substância passa diretamente de um sólido para o gasoso. Passada a linha de congelamento, VIRTIS revelou um cometa visivelmente menos vermelho, com novos traços de azul.

Os autores dizem que o gelo que passa por esse processo de sublimação desloca os minúsculos grãos de poeira na superfície do cometa, causando “a exposição de camadas de gelo mais puras e azuis na superfície”. O vermelho vem das moléculas orgânicas ricas em carbono e o azul vem do gelo de água congelado que é rico em silicato de magnésio, de acordo com a pesquisa.

Essas mudanças de cor, no entanto, acontecem no coma. Quando o cometa está fora da linha de congelamento, o coma fica azul, mas quando ele está perto do Sol, fica vermelho.

A razão, dizem os autores, é que o gelo nos grãos de poeira dentro do coma permaneceram congelados quando o cometa estava longe do Sol – por isso a cor azul. Mas quando o gelo sublimou, o processo evidenciou os grãos desidratados – e muito vermelhos. Quando o objeto ficou além da linha de congelamento, a situação se inverteu, e o coma voltou a ficar azul.

É o ciclo da vida, ou um “ciclo orbital água-gelo”, como os autores o descrevem. O novo estudo mostra como o núcleo do cometa 67P e o coma evoluem durante uma órbita, e como este cometa e provavelmente outros como ele passam por mudanças sazonais.

Esse tipo de observação só é possível com uma sonda espacial. A única coisa melhor seria uma missão que retornasse uma amostra, o que permitiria aos pesquisadores analisar de perto um pouco da preciosa poeira rica em carbono. Ao estudar estes compostos orgânicos, os cientistas poderiam melhorar a compreensão da sua origem e de como eles podem ter contribuído para a vida na Terra.

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