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Comida editada geneticamente pode chegar às prateleiras antes do que imaginávamos

Em setembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aprovou uma versão da planta Camelina sativa, uma importante oleaginosa que havia sido geneticamente engendrada usando o sistema de edição genética CRISPR para produzir óleo de ômega 3 melhorado. O interessante dessa aprovação foi que o USDA não pediu que os inventores da planta passassem pelos […]

Em setembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aprovou uma versão da planta Camelina sativa, uma importante oleaginosa que havia sido geneticamente engendrada usando o sistema de edição genética CRISPR para produzir óleo de ômega 3 melhorado. O interessante dessa aprovação foi que o USDA não pediu que os inventores da planta passassem pelos trâmites regulatórios normalmente exigidos para vender colheitas de biotecnologia. No mês seguinte, uma variante de soja resistente a secas desenvolvida com o CRISPR também foi aprovada rapidamente pelo USDA.

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Isso acontece porque, embora essas plantações tenham sido certamente geneticamente editadas, elas não foram geneticamente “modificadas”, de acordo com as regulações do USDA. Embora os cientistas tenham usado o CRISPR para cortar e ajustar o DNA da planta, eles não adicionaram nenhum DNA estranho a ela. Isso, conforme o USDA já descobriu repetidas vezes, significa que essas plantas editadas por CRISPR escapam do alcance regulatório.

Uma entrevista na Nature com o CEO da Yield10 Bioscience, que desenvolveu a camelina, traz novas informações sobre como esse tecnicismo regulatório já está tornando significativamente mais rápido e barato levar novas plantas de biotecnologia para o mercado, dispensando anos e dezenas de milhões de dólares de produção.

“Isso elimina aquela barreira enorme de entrada para empresas de agrobiotecnologia”, o CEO Oliver Peoples contou à Nature. Se a empresa tivesse sido forçada a passar pelo processo regulatório comum do USDA, afirmou, teria levado pelo menos seis anos e de US$ 30 milhões a US$ 50 milhões para testar e coletar os dados exigidos para levar a planta para o mercado.

Ele afirma que, em vez disso, “fizemos isso em dois anos, e (a decisão do USDA) levou dois meses, e te garanto que não gastamos US$ 30 milhões nisso”.

Em abril de 2016, o USDA deu o primeiro passe livre para uma planta CRISPR, aprovando um cogumelo Paris que havia sido editado para não ficar marrom rapidamente. Em sua carta para o cientistas que havia desenvolvido o cogumelo geneticamente engendrado, o USDA escreveu que, pelo fato de o novo cogumelo “não conter qualquer material genético novo”, não era sequer alvo das regulações da agência.

Desde a década de 1990, o USDA tem regulado quais plantações geneticamente modificadas podem ir ao mercado, não por medo de prejudicar a saúde humana, mas pelo medo de que plantas com DNA estranho pudessem acidentalmente causar danos ambientais. Um cogumelo que simplesmente tinha parte de seu DNA deletado, afirmou a agência, não parece apresentar tal ameaça.

A estratégia da Yield10 tomou um caminho parecido. O óleo da camelina é usado como um biocombustível e um substituto para o óleo de peixe na aquicultura. Então, os cientistas queriam levar a planta a produzir mais óleo. Para fazê-lo, usaram o sistema CRISPR-Cas9 para criar quebras nas duas cadeias de DNA da planta. Eles não inseriram novos genes, mas quando os próprios mecanismos de reparação da planta chegam para se juntar novamente ao DNA, ela automaticamente desativa um gene não revelado que impulsiona a produção de óleo.

Desde esses primeiros cogumelos, pelo menos cinco plantas editadas com o CRISPR contornaram o processo regulatório do USDA. No ano passado, a agência explicou a abordagem, escrevendo que ela “regula os produtos de biotecnologia e não técnicas biotécnicas específicas”, então “produtos dessas tais ‘novas técnicas de edição de genoma’ seriam reguladas … apenas se eles apresentassem risco a pestes vegetais ou ervas daninha nocivas”.

A abordagem é um forte contraste com a abordagem do FDA (Food and Drug Administration) para animais geneticamente modificados: no ano passado, a agência disse que gostaria de regular qualquer animal cujo genoma foi intencionalmente alterado como uma “droga animal” independentemente de como foi editado ou para qual propósito.

Nenhuma das plantas editadas com CRISPR chegaram ao mercado ainda, mas parece provável que não esteja tão distante de nossas prateleiras.

[Nature]

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