_Espaço

Como os astronautas dormem quando estão no espaço?

O ex-astronauta Clayton C. Anderson relata a experiência de sono ao longo de 152 dias na Estação Espacial Internacional.

Uma breve resposta para a pergunta: eu dormia muito bem!

Não há nenhum tipo de treinamento específico dado aos astronautas em relação ao sono e condições de sono. Na verdade, o melhor conselho que me deram veio do meu comandante C.J. “Rick” Sturckow. Ele me disse para levar um bom livro e não fazer nenhum barulho!

Para quem quer mais detalhes, minha experiência pessoal com o sono no espaço foi “um sonho”. Não, não quero dizer que sonhei diferentemente no espaço – mas eu sonhava, do mesmo jeito que faço quando estou na Terra. Eu fazia parte de um experimento especial chamado “SLEEP Long”, que exigia que eu usasse um relógio especial durante os 152 dias que fiquei no espaço (mais alguns dias antes de ir e depois de voltar).

O experimento (e o relógio) mediam a luz/escuridão e movimento, oferecendo aos pesquisadores informações importantes sobre quando eu estava dormindo e em que nível estava dormindo. Dados posteriores revelaram que, em média, eu dormi por 7h20 todo dia nesses 152 dias – muito mais do que acho que consigo dormir aqui na Terra. Os dados do relógio diziam quando eu estava descansado, quando estava em sono profundo, quando estava cansado… era bem legal.

Minha estação de sono na ISS, a TeSS (da sigla em inglês para Estação Temporária de Sono) não está mais por lá. Ela foi uma precursora das estações de sono que hoje estão a bordo da ISS na área dos EUA. A TeSS era silenciosa, escura e fria… e eu gosto de frio! Tínhamos sacos de dormir russos que só precisavam ser presos em quatro cantos diferentes – e em qualquer direção – para nos manter flutuando durante o período de sono.

Os sacos eram leves e suficientemente quentes – eu dormia vestindo apenas bermuda. Muitos astronautas achavam a ISS muito fria e dormiam cheios de roupas diferentes – não era o meu caso.

Minha rotina noturna consistia em nunca levar um computador para a minha estação de sono. Evidentemente eu estava à frente desses que hoje em dia nos dizem que devemos manter eletrônicos longe da cama! Fazia todo o meu trabalho no laboratório, e então apagava as luzes do laboratório antes de entrar no meu “quarto”.

Eu ficava de short e então subia no saco de dormir com a cabeça virada para o teto. Esta era a melhor posição, considerando que o ar frio do ar-condicionado conseguia empurrar para longe o CO2 que eu expirava para longe do meu rosto – algo que deve ser considerado quando se pensa na sua orientação ao dormir. Eu colocava protetores auriculares e então partia para ler Sahara, de Clive Cussler até meus olhos ficarem pesados demais e começarem a fechar sozinhos.

Quando seus olhos começam a pesar demais e você passa a dar aquelas pescadas de sono no espaço, seu corpo relaxa e suas mãos soltam o livro. Mas, como não há gravidade, sua cabeça não começa a cair e de repente levanta quando você se toca que está dormindo sentado. Se você acordar, o livro continuará flutuando próximo a você, exatamente no lugar que ele ficou.

Não cheguei a tirar cochilos na ISS. Se eu me sentia cansado quando estava na frente do computador, por exemplo, só saia e buscava algo para comer ou beber na esperança de que isso aumentasse meu nível de energia. Não queria dormir durante o dia por medo de não conseguir dormir depois durante a noite. Essa estratégia acabou funcionando comigo.


Clayton C. Anderson é um astronauta americano que trabalhou na NASA por trinta anos, foi para a ISS duas vezes, e fez seis caminhadas espaciais. Ele é autor do livro The Ordinary Spaceman.

Este artigo apareceu originalmente no Quora. Você pode seguir o Quora no Twitter, Facebook e Google+.

Primeira imagem por NASA

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