Um conservante comum em queijo e pão pode afetar negativamente nosso metabolismo, afirma estudo

Experimentos em ratos e humanos mostraram que o propionato poderia afetar negativamente o metabolismo, incluindo o aumento da resistência à insulina
Kris Connor/Getty Images

Nos últimos anos, cientistas começaram a cuidadosamente alertar sobre os danos sutis que certos aditivos alimentares poderiam estar causando nas pessoas. Um novo estudo divulgado na quarta-feira (24) sugere que o conservante comum propionato pode ser um desses aditivos com os quais deveríamos nos preocupar. Em experimentos tanto com camundongos quanto com pessoas, descobriu-se que comer propionato poderia afetar negativamente nosso metabolismo, inclusive aumentando a resistência à insulina, por exemplo.

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O propionato, ou ácido propanoico, é parte onipresente de nosso mundo. Ele é naturalmente produzido por diversas bactérias, incluindo aquelas que vivem na nossa pele e em nosso intestino. Ele também é acrescentado à ração animal e a comidas humanas, como queijo, assados e aromas artificiais, funcionando como conservante. Porém, embora o propionato seja um dos vários aditivos na lista GRAS (sigla em inglês para “geralmente reconhecido como seguro para comer) da FDA (Food and Drug Administration, equivalente norte-americana à Anvisa), houve pesquisas indicando que o propionato não é completamente inofensivo no corpo.

Em animais, por exemplo, acredita-se que o propionato pode aumentar os níveis de açúcar no sangue por meio do fígado, que converte glicose de fontes de combustível que não carboidratos. Essa capacidade é usada até por espécies de ruminantes que comem plantas, como vacas, para regular níveis saudáveis de açúcar no sangue. Em humanos, a relação com o propionato já é mais misteriosa.

Alguns estudos sugeriram que o propionato e outros ácidos graxos de cadeia curta naturalmente produzidos pelas bactérias intestinais do corpo podem, na verdade, nos ajudar a manter um metabolismo saudável, suprimir o apetite e reduzir o risco de obesidade. Mas outros estudos já sugeriram que pessoas com mais propionato em seu sistema estão mais propensas a ser obesas.

Para entender melhor os efeitos a curto prazo do propionato consumido de comidas, os autores deste atual estudo, publicado na Science Translational Medicine, conduziram experimentos de alimentação tanto com camundongos quanto com humanos. A parte humana do estudo envolveu um estudo duplo-cego randomizado com 14 voluntários saudáveis.

“Verificamos que, em camundongos, (o propionato) leva a um aumento de glicose no sangue. Mas a coisa mais interessante que determinamos nesses experimentos é que uma só dose de propionato pode aumentar os hormônios no corpo projetados para estimular a produção de glicose do fígado”, disse em entrevista ao Gizmodo o autor do estudo Gökhan S. Hotamışlıgil, diretor do Centro Sabri Ülker de Pesquisa em Nutrição, Genética e Metabólica, da Escola T.H. Chan de Saúde Pública de Harvard.

“Há momentos em que isso é necessário, como quando você está morrendo de fome ou tem um nível perigosamente baixo de açúcar no sangue. Mas, aqui, ele (o propionato) estava quase levando o corpo a pensar que precisava produzir glicose quando não precisa.”

Nas pessoas, esses níveis mais altos de hormônios também pareciam levar a resistência à insulina, ou seja, seus corpos não respondiam bem ao sinal da insulina para abaixar o açúcar no sangue. Com o tempo, a resistência crônica à insulina contribui para o diabetes tipo 2 e outros distúrbios metabólicos, como a obesidade.

Nos experimentos com camundongos, os animais que receberam doses baixas de propionato durantes longos períodos de tempo também gradativamente ganharam mais peso do que aqueles que não consumiram propionato. Mas Hotamışlıgil e sua equipe não estão afirmando que suas descobertas devam imediatamente fazer as pessoas evitarem queijo e pão.

“Estamos relutantes em fazer alegações e recomendações gigantescas no momento”, disse. “Este é um estudo de prova de princípio apenas ilustrando que podemos de fato identificar essas moléculas e estudar sua biologia, o que então estimulará mais trabalho.”

Hotamışlıgil acrescentou que, por enquanto, é necessário que haja mais pesquisa decifrando como exatamente o propionato pode estar causando essas mudanças metabólicas. Em pessoas, por exemplo, eles encontraram evidências de que os efeitos do propionato estão acontecendo através do cérebro e do sistema nervoso, por meio da produção de adrenalina, em vez de influenciar diretamente o sistema digestivo ou fígado. Essa pesquisa vai precisar incluir estudos humanos com muito mais voluntários de diferentes laboratórios.

Independentemente do que Hotamışlıgil e outros cientistas acabem descobrindo sobre o propionato, ele vê um lado positivo em estudos como este que estão tentando descobrir os efeitos nutricionais mais nuançados dos alimentos.

“Acho que, no século 21, podemos de fato abordar dieta, nutrição e comida com uma lente muito diferente daquela com que as abordávamos um século atrás. Agora temos ferramentas suficientes que nos permitem estudar em detalhes, em nível molecular, não apenas as coisas prejudiciais — porque, geralmente, as pessoas estão interessadas nas coisas prejudiciais —, mas também as úteis em nossa comida”, afirmou.

“Podemos facilmente então eliminar algumas dessas coisas prejudiciais de nossa preparação de alimentos ou reduzir nossa exposição a elas, e isso poderia ter impactos tremendos em nossa saúde.”

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