Conversa de feriado: quem se importa com qualidade de áudio e vídeo hoje?
Algumas semanas atrás, falamos aqui sobre como é impossível ter um fone de ouvido minimamente decente por menos de US$ 100. Foi um certo exagero, ok, por 70 já se consegue coisas legais. Mas me impressionou como a maioria das pessoas (tanto aqui quanto nos comentários do Giz US) disse que ouvia mesmo fones originais do celular ou opções vagabundas de R$ 10, já que eles vão se perder mesmo. O que me leva a pensar duas coisas: há bem menos gente que gosta de música do que se poderia imaginar e estamos, ao que parece, na era da baixa-definição.
Quando estava no Japão comprei esse fone aí em cima, o image S4, da americana Klipsch. Ele é o melhor fone intraouvido por menos de 100 dólares (minha grana já estava acabando no fim da viagem) que você pode comprar, segundo a Cnet. Sou audiófilo na medida que meu dinheiro permite: tinha minidiscs, uso caixas acústicas de madeira no meu computador, nem lembro direito como é o som original da minha TV, já que uso home-theater ou um fone desses grandes, da Siberia.
Mas nada me impressionou tanto quanto esses fones. Não que ele tenha um baixo encorpado ou um volume altíssimo: isso são sinais de fones enganadores, normalmente, e como dissemos no outro artigo, o bom fone é o que não te impressiona de cara. A graça do Klipsch é que ele reproduz as músicas como elas são. E usá-los foi uma revelação musical. Passei a ouvir vários álbuns novamente, prestando atenção nos detalhes de produção, entendendo letras em inglês que custava a pegar. Porque agora tudo é mais nítido. Descobri que várias MP3 que eu tenho são ruins: agora dá para perceber a diferença de um arquivo com 128 kbps de bitrate e um de 320 kbps.
Na teoria, as pessoas têm ouvido quase sempre igualmente capazes: todos a quem mostrei o Klipsch ficaram meio impressionados. Mas a pergunta é outra: quem se importa? Será que realmente evoluímos rumo à alta fidelidade e alta-definição?
Parece que não. Passeie pelo Orkut e veja que as pessoas abusam de fotos com celular ou câmeras de sensor vagabundo, que são piores que as de filme de décadas atrás. Os MP xing-ling com os fones de fábrica tem um som pior que o meu walkman da Sony de 1990, com fita. Por pior que seja, um sinal de TV aberta é melhor que um arquivo .rmvb ou um vídeo em baixa-definição no Youtube. Nos EUA, pessoas estão comprando o Kindle, um negócio em preto-e-branco, em detrimento de livros.
O público em geral parece ter se contentado com menos, desde que seja mais barato e/ou mais cômodo. Um artigo da Wired vai mais longe e dá o exemplo da popularização do Skype e ligações com lag e publicidade do Google Ads: sem celebridades ou arte bonita, mas que vai direto ao ponto.
Por um lado, isso é legal: com menos dinheiro e tecnologia mínima as pessoas têm acesso ao mesmo conteúdo que qualquer endinheirado. Por outro, fica mais claro que a vasta maioria da população simplesmente não se importa com qualidade de som ou imagem. E não é exatamente só pelo preço. Mark Rein, produtor de Gears of War 2, disse que mais da metade das pessoas que jogam o título de Xbox 360 o fazem usando cabos e/ou TV de definição normal. E, pelo preço de uma TV de LCD de 32” aqui no Brasil, não dá pra dizer que o videogame da Microsoft é algo exatamente barato.
Para onde vamos daqui? Blu-Ray e streaming em full-HD vão ser algo de nicho? Os fones de ouvido que acompanham o iPod continuarão sendo vagabundos, a molecada vai ler quadrinhos em um kindle que seja ao invés de num papel colorido e bem impresso, as pessoas substituirão mais ainda DVDs da locadora por discos comprados na esquina, cópias horríveis filmadas no cinema? E qual é impacto disso na indústria? Eu já falei demais pra um feriado, é sua vez.